COP30 e Questões Climáticas: Metas e Desafios

Será essencial que esta COP30 faça todos os países membros concordarem em zerar as emissões líquidas muito antes, não depois de 2040.

Carlos NobreCarlos Nobre, cientista e climatologista brasileiro. (Foto: Divulgação)

 

Quanto analisamos todas as 29 COP climáticas já realizadas, duas delas foram as mais significativas: a COP21 em Paris em 2015 e a COP26 em Glasgow em 2021. A COP21 foi a primeira onde todos os países concordaram em adotar metas voluntárias de redução das emissões de GEE de 50% até 2070 e zerar as emissões líquidas até 2100 para não permitir que a temperatura do aquecimento global não ultrapassasse 2 C.

Entretanto, na COP26, levou-se em consideração o risco de a temperatura global ultrapassar 1,5 C. Isso veio à tona principalmente devido ao Relatório Especial do IPCC publicado em 2018 indicando o tremendo risco se a temperatura atingisse um aquecimento de 2.0 C. Por exemplo, poderia significar a quase extinção total de recifes de corais, que mantém os ecossistemas para cerca de 25% de todas as espécies oceânicas.

A ciência naquele ano apontava que para não permitir que a aquecimento global excedesse 1,5 C as metas de redução das emissões dos GEE deveriam atingir 43% de redução até 2030, em relação às emissões de 2019, e zerar as emissões líquidas até 2050.

Após a COP26, as três seguintes COPs, COP26 no Egito em 2022, COP27 nos Emirados Árabes em 2023 e a COP29 no Azerbaijão em 2024, não trouxeram avanços significativos, ainda porque as emissões dos GEE não pararam de crescer nestes anos e esses três países vivem economicamente da exploração de combustíveis fósseis e até buscou-se determinar transição para energias renováveis na COP28, mas de maneira muito lenta.

Na COP29, os países em desenvolvimento defenderam, dos atuais 100 bilhões de dólares por ano do Fundo Verde para o Clima, aumento para 1,3 trilhão de dólares anuais de 2023 até 2035 para permitir uma acelerada transição energética e mais de 500 bilhões de dólares por ano para aumentar a capacidade de adaptação de mais de 2 bilhões de habitantes extremamente vulneráveis às mudanças climáticas. Entretanto, os países desenvolvidos concordaram em avançar para o Fundo de 300 bilhões de dólares por ano, valor muito inferior, e ainda antes de o novo presidente dos EUA retirar este país do Acordo de Paris e também anunciar grande redução dos investimentos em transição energética para energias renováveis, e a aprovação de um grande número de novas explorações de petróleo e gás natural naquele país.

O que é a realidade climática do momento? Inesperadamente, as temperaturas subiram cerca de 0,3 C de 2022 para o segundo semestre de 2023 e 2024. Neste último ano, as temperaturas atingiram 1,55 C acima do período pré-industrial (1850-1900), valor que nunca ocorreu desde o último período interglacial cerca de 125 mil anos atrás. E inesperadamente as temperaturas atingiram 1,75 C mais quentes em janeiro de 2025, a temperatura mais alta em cerca de mais de 200 mil anos. E num mês que o Oceano Pacífico atravessa um episódio de La Niña, que normalmente reduzem ou não permitem grande aquecimento global.

O gigantesco desafio é se a temperatura não baixar de 1,5 C nos próximos anos e a ciência concluir que já teremos atingido 1,5 C. Se isso acontecer e continuarmos com as metas de zerar as emissões líquidas somente em 2050, a temperatura atingirá 2,5 C neste ano ou até mais. Isso levará a um suicídio ecológico para o planeta, disparando vários pontos de não retorno, como auto-degradação de 50% a 70% da floresta Amazônica e derretimento de grande parte do permafrost. Isso liberaria mais de 500 bilhões de toneladas de GEE até 2100, tornando impossível reduzir a temperatura e podendo passar de 3 C no final deste século.

Desta maneira, a COP30 deverá ser a mais importante das 30 COPs. Por mais que a ciência ainda terá que esperar alguns anos para certificar que a temperatura possa ter atingido 1,5 C, se ela for atingida não será possível manter o aquecimento global neste nível nas próximas décadas. Será essencial que esta COP30 faça todos os países membros concordarem em zerar as emissões líquidas muito antes, não depois de 2040, para não deixar o aquecimento global superar 2,0 C.

Este é um enorme desafio que necessita de trilhões de dólares por ano para uma super-rápida transição energética e migração para agricultura e pecuária regenerativas com grande redução das emissões. E todos os países deverão acelerar a restauração de todos os biomas para remover uma grande quantidade de gás carbônico da atmosfera, chegando em 2040 removendo entre 6 e 7 bilhões de toneladas de gás carbônico a cada ano até 2100.
Em 2024, além da temperatura ter atingido o valor anual máximo, também a atmosfera recebeu 5% mais vapor d’água em relação a 2023. Quanto mais vapor d’água na atmosfera, maior energia e aceleração exponencial dos eventos extremos que tivemos, como ondas de calor, chuvas intensas e prolongadas, rajadas de vento, secas e incêndios florestais.

Pouquíssimas populações no mundo estão adaptadas a estes extremos climáticos. Este é mais um grande desafio da COP30. De fato, aumentar o Fundo Verde para o Clima para trilhões de dólares e essencial para acelerar a resiliência de bilhões de pessoas a estes extremos climáticos e proteger a biodiversidade.

E que o Brasil assuma a liderança dos países com maiores emissões e acelere a redução dessas emissões de GEE e garanta um grande acordo internacional, mesmo sem os EUA, e torne a COP30 o caminho para salvar o planeta da emergência climática.