Ao elevar os juros, o Banco Central cumpre sua missão de ancorar expectativas e trazer a inflação para a meta

O controle da inflação será ainda mais efetivo quando houver o alinhamento da política fiscal com a monetária.

46576928231_916cbbd987_oHenrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central. (Foto: Divulgação)

A economia brasileira cresceu acima das expectativas do mercado em 2024. A expansão do PIB foi de 3,4% em relação ao ano anterior e a taxa de desemprego está na casa de 6%, que é uma taxa baixa pelos nossos padrões históricos. A reforma tributária está feita, após mais de três décadas. A simplificação do sistema aumenta a produtividade da economia e aumenta os investimentos e o crescimento potencial do país. São bons sinais.

O crescimento atual é, principalmente, devido ao aumento de produtividade ocasionado pelas reformas no governo Temer. A reforma trabalhista foi muito importante para o crescimento do emprego, pois ela deixa mais claro quais são as obrigações dos empregados e empregadores, diminuindo de forma importante a judicialização das relações trabalhistas. A lei das estatais gerou uma maior profissionalização na administração das empresas públicas. A reforma da Previdência, que foi formulada em 2017 e aprovada no governo seguinte. Finalmente, a lei do cadastro positivo permitiu a modernização dos meios de pagamento, com a criação de instrumentos modernos como o PIX. Numa menor escala o crescimento foi também resultado do consumo do governo.

Ao elevar os juros em um ponto percentual e avisar que fará o mesmo nas duas próximas reuniões, o Banco Central cumpre sua missão de ancorar expectativas e trazer a inflação para a meta. O controle da inflação será ainda mais efetivo quando houver o alinhamento da política fiscal com a monetária. Algo muito importante para assegurar a estabilidade e o crescimento da economia brasileira são as reservas internacionais. Durante a minha gestão no BC aumentamos as reservas de pouco mais de US$ 30 para cerca de US$ 300 bilhões de dólares. Atualmente o valor está ao redor de R$ 350 bilhões. Isto permite a venda de dólares em momentos de instabilidade nos mercados. As reservas internacionais são um escudo contra crises. Foram fundamentais para enfrentar os efeitos da crise de 2008, a pior que já enfrentamos.

A venda recente foi importante para estabilizar o mercado em um momento de preocupação dos investidores. O próximo passo deve ser um ajuste fiscal visando estabilizar a dívida pública como percentagem do produto. Esta medida assegura o crescimento do país a longo prazo.