Fundo JBS pela Amazônia planeja, junto com cofinanciadores, investir R$ 1 bilhão até 2030 no desenvolvimento sustentável do bioma
Joanita Maestri Karoleski, presidente do Fundo, explica como a entidade está apoiando projetos para serem incentivados e financiados, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento socioeconômico do bioma, promover a conservação da floresta e a melhoria da qualidade de vida das populações locais.
Joanita Maestri Karoleski, presidente do Fundo JBS pela Amazônia. (Foto: JBS)
Joanita Maestri Karoleski, ex-CEO da Seara e gestora do programa de responsabilidade social da JBS, Fazer o Bem Faz Bem, está desde o ano passado à frente do Fundo JBS pela Amazônia. Nesta entrevista, a executiva conta mais detalhes sobre a iniciativa e também sobre sua trajetória profissional.
Qual o objetivo fundamental do Fundo JBS pela Amazônia, como ele funciona e como foi formado?
O Fundo JBS pela Amazônia foi criado para apoiar e financiar projetos que visam o desenvolvimento sustentável do Bioma Amazônico, promovendo a conservação e o uso sustentável da floresta, a melhoria da qualidade de vida da população local e o desenvolvimento com uso de tecnologia e ciência aplicada.
Como ocorre a captação dos recursos para o Fundo?
A JBS constituiu o Fundo em setembro de 2020 e assegurou, durante os primeiros cincos anos, o aporte de R$ 250 milhões. A empresa convidou seus stakeholders para contribuírem com a iniciativa e também se comprometeu a igualar cada doação feita por terceiros até o seu aporte total doado atingir R$ 500 milhões. Assim, a meta é levar os recursos do Fundo a R$ 1 bilhão até 2030, inclusive com adesão de pessoas físicas.
O Fundo anunciou recentemente seis projetos selecionados para receber R$ 50 milhões. Consegue dar um breve panorama sobre cada um deles?
As seis primeiras iniciativas escolhidas pelo Fundo JBS pela Amazônia trabalharão uma ampla gama de atividades no bioma. Eles têm o propósito de desenvolver a bioeconomia na região, agregando valor aos produtos naturais, por meio do desenvolvimento científico e tecnológico, gerando renda para as comunidades e preservando a floresta.
Os projetos contemplados são os seguintes: RestaurAmazônia: desenvolvido pela ONG Solidaridad, com apoio do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), o projeto terá cinco anos para implantar em 1.500 pequenas propriedades sistemas agroflorestais, que integram pecuária, agricultura e floresta. É um projeto situado na região da Transamazônica, local com alto desmatamento na Amazônia. O foco é gerar uma transformação na paisagem e na economia regional, desenvolvendo produtos sustentáveis e com menos emissões de gases estufa. O resultado é aumento de renda para os produtores que chega a 30% no período do projeto. Já o Programa Economias Comunitárias Inclusivas, nas Comunidades de Bailique e Beira Amazonas, no Amapá é desenvolvido por pelo Instituto InterElos, Amazonbai, Universidade do Estado do Amapá, Oficina Escola de Lutheria da Amazônia, Instituto Internacional de Educação do Brasil e Instituto Terroá. Ele tem como objetivo fortalecer a cadeia do açaí na região e em três anos deve promover ampliação da renda de 240 famílias locais, além da consolidação de um modelo de bioeconomia inclusiva. Esse projeto trabalha com temas como educação, saúde, empoderamento feminino e pesquisa para agregação de valor ao açaí. Incentiva os negócios e melhora a vida das pessoas nas comunidades. A ideia é aumentar a produção, ampliar o alcance para o varejo e para o atacado, sem a presença dos atravessadores, aumentando em mais de 60% a renda dos extrativistas. No Projeto Pesca Justa e Sustentável, desenvolvido pela Asproc (Associação dos Produtores Rurais de Carauari), o foco é fortalecer a cadeia do pirarucu, melhorando as condições do manejo para alcançar novos mercados e gerar melhores condições para as famílias extrativistas. A AMAZ (Aceleradora & Investimentos de Impacto) é a primeira aceleradora 100% amazônica e foi idealizada pelo Instituto de Desenvolvimento da Amazônia. Fomentará a aceleração de 30 startups em cinco anos que serão apoiadas por um fundo com recursos filantrópicos e investimentos privados, além da capacitação nos negócios. A primeira de rodada já foi realizada com a apresentação de mais de 100 startups que trabalham com produtos e serviços que conservam e restauram a floresta. O quinto projeto é a Alavancagem de crédito para as cadeias da floresta. O Instituto Conexões Sustentáveis vai testar uma metodologia de trabalho que vai, em dois anos, ajudar a liberar crédito para mais de 2.500 pequenos produtores, extrativistas e ribeirinhos das cadeias de valor da castanha, açaí, pescados, madeira, óleos e resinas. Por fim, a Parceria Técnica com a Embrapa é uma iniciativa que irá desenvolver pesquisas e tecnologias para aumentar o valor agregado aos produtos da floresta, com inovações para alimentos plant-based, matérias-primas e insumos feitos a partir de biodiversidade amazônica.
Como foi a seletiva para chegar a essas iniciativas? Houve uma análise para verificar o histórico dos participantes?
Os projetos foram avaliados pelo nosso Comitê Técnico, considerando os seguintes critérios: aderência aos eixos e temas do Fundo, sustentabilidade do projeto, replicabilidade e escala, inovação, geração de valor para comunidades, conexão com o mercado, redes de parcerias e redução de gases de efeito estufa. O Fundo JBS pela Amazônia considera como premissas importantes para os projetos fomentar inovação, incentivar a agregação de valor no uso de recursos naturais e o empreendedorismo, impulsionar a geração de emprego e renda nas comunidades locais, estimular a permanência de crianças e adolescentes na escola, assim como promover a igualdade de gênero e empoderamento de pessoas e comunidades mais vulneráveis.
Você falou sobre o Comitê Técnico, como é formada a estrutura de governança do Fundo?
A estrutura de governança foi desenvolvida para assegurar transparência em todas as suas relações. O Fundo conta com um Conselho de Administração, um Conselho Fiscal, um Conselho Consultivo e um Comitê Técnico. Os integrantes são pessoas de destaque em suas áreas de atuação, todas com conhecimento profundo do Bioma Amazônico, muitas delas com um trabalho de fôlego em todos os estados da Amazônia Legal. As indicações vieram de institutos de pesquisa, ciência e terceiro setor.
Haverá mais uma rodada para escolher novos projetos? Como vão funcionar as próximas etapas?
As aprovações dos projetos se darão em fluxo contínuo, portanto não há prazo de submissão de propostas. Os projetos podem ser inscritos durante o ano todo, no próprio site do Fundo JBS pela Amazônia (https://fundojbsamazonia.org/). Qualquer instituição ou empresa pode apresentar projetos para solicitar apoio, desde que tenha CNPJ ativo (ou equivalente para empresas internacionais). Cada instituição ou empresa poderá apresentar até três projetos por ano. Um grupo de empresas ou instituições poderá apresentar projetos em conjunto. Neste caso, uma das instituições deverá se apresentar como responsável geral. O Fundo procura pro-ativamente propostas que estejam de acordo com sua estratégia e colaborem para gerar mais impacto social, ambiental e econômico. Nessa próxima fase estamos procurando projetos onde haja oportunidade de trabalhar com a filantropia de resultados, onde parte dos recursos é não retornável e a outra é capital paciente, retornável para o Fundo.
O Fundo JBS pela Amazônia visa mobilizar stakeholders, outras instituições, além de pessoas físicas para garantir resultados mais efetivos. Por favor, explique como funcionam essas parcerias.
O Fundo JBS pela Amazônia procura proativamente contribuições e parcerias. Não se faz nada sozinho na Amazonia, portanto as parcerias são fundamentais. Podem apoiar o Fundo empresas ou instituições brasileiras ou internacionais de qualquer segmento e setor, além de pessoas físicas, que tenham interesse em ser parceiros de implantação e/ou investimento financeiro. O apoio pode ser a um projeto específico, em conjunto com o Fundo JBS, ou por meio de investimento direto no Fundo JBS pela Amazônia. Já há captações em andamento. Além disso, certamente estaremos abertos a conversar com qualquer outra entidade que persiga o mesmo objetivo que a gente. Quanto mais atores trabalhando pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia, em especial em parceria com as comunidades locais, melhor e mais legítimos serão os resultados.
Como você chegou ao comando do Fundo JBS pela Amazônia?
Eu sempre quis atuar com projetos de responsabilidade social. Acredito que esse caminho começou a ser trilhado depois que fui convidada para liderar o projeto Fazer o Bem Faz Bem, programa de responsabilidade social da JBS que investiu R$ 400 milhões no combate à pandemia de Covid-19 em 2020. Foi um programa que provou que a iniciativa privada pode ajudar na transformação do Brasil. Depois disso, atuar na área de sustentabilidade, que é um grande desafio, foi um movimento natural.
Quando começou sua carreira aos 14 anos, você imaginava chegar entre as lideranças de uma das empresas mais importantes do mundo?
Eu venho de uma família que sempre valorizou os estudos. Minha mãe era dona de casa e meu pai tinha uma pequena empresa de transportes. Eu trabalho desde os 14 anos. Já fui professora, balconista, datilógrafa e me formei em tecnologia e processamento de dados, na cidade de Blumenau, Santa Catarina. Comecei minha carreira na antiga Ceval. Entrei como digitadora, depois virei supervisora e passei a liderar times. Quando a Ceval foi vendida para a Bunge eu assumi a área de negócios. Fiquei na Bunge até 2013, quando o Gilberto Tomazoni [atual CEO global da JBS] que havia trabalhado na Bunge e foi para a JBS e me convidou para trabalhar na Seara, que tinha sido recém-comprada. Um ano depois, me convidaram para ser CEO. Acredito que minha posição é fruto da paixão que eu tenho por aprender e de sempre achar que é possível vencer obstáculos.
Diante da sua experiência, qual a importância de uma liderança feminina e de uma formação plural de vida como a sua?
Eu sempre atuei em um universo em que os homens eram a maioria. E como única mulher, precisava me provar o tempo todo. Mas eu não via isso como um problema e, sim, como uma oportunidade de mostrar o que eu poderia fazer e como poderia atuar. Mas acho importante ver mais mulheres em posições de comando. Tenho doado meu tempo como conselheira consultiva no Instituto Mulheres do Varejo, que busca aumentar a participação feminina. Para ver mais mulheres nos conselhos, temos que ter mais mulheres em posições executivas. Só assim teremos um olhar mais diverso nas empresas e uma sociedade mais ampla e justa.
Como mobilizar profissionais e corporações para desenvolver e buscar ambientes que estimulem a diversidade?
No Fundo, nós temos como objetivo trazer diversidade e um pensamento mais humanizado. Não dá para criar um fundo de impacto ambiental, econômico e social e não ter a inclusão de pessoas de todos os gêneros em sua composição. O mundo está clamando por isso. E acredito que esse é um exemplo a ser seguido por outras companhias.
Quais são seus planos para o futuro?
Acredito que cada fase traz novos desafios. E o meu objetivo agora é apoiar o Fundo para que ele se desenvolva e possa ser o mais perene possível. O Fundo JBS pela Amazônia pretende fomentar o desenvolvimento do bioma, promover a conservação e o uso sustentável da floresta e a melhoria da qualidade de vida das populações do entorno, aliada ao uso de ciência e novas tecnologias. A gente entende que é possível o desenvolvimento socioeconômico das comunidades mantendo a floresta em pé.
Quer saber mais sobre o projeto? Acesse: https://fundojbsamazonia.org/
(Fonte: Fundo JBS pela Amazônia | Conteúdo de Marca)