Christiano Pinto da Costa, presidente da Shell: 'O Brasil pode se tornar net zero antes da maioria das grandes economias mundiais'
Evento destacou temas como transição energética, indústria, comércio e serviços como formas de atrair investimentos internacionais.
Christiano Pinto da Costa, presidente da Shell durante o LIDE Brazil Conference London. (Foto: Felipe Gonçalves/LIDE)
Após uma manhã de discussões e exposições sobre temas tão atuais e relevantes para o crescimento econômico brasileiro, como o open banking, ESG aplicado aos negócios, sustentabilidade e agronegócio, as autoridades, parlamentares e empresários participantes do LIDE Brazil Conference London voltaram ao ballroom do Hotel Savoy, em Londres, para mais uma rodada de painéis na tarde desta terça-feira (29). Em pauta, estavam temas como transição energética, indústria, comércio e serviços como formas de atrair investimentos internacionais.
No painel "Atratividade do Brasil para investidores internacionais", foram reunidos grandes nomes da indústria brasileira e internacional de vários segmentos para discutir como aproveitar as oportunidades e fomentar o aporte de valores para desenvolver o crescimento do país. Fiona Clouder, diretora-executiva da ClouderVista, empresa de consultoria de negócios para a América Latina, fez elogios à versatilidade brasileira e à economia vibrante do país, que desponta como uma grande liderança estratégica na região, principalmente como anfitrião da COP 30, a ser realizada no ano que vem.
"Gostaria de destacar a confiança global na infraestrutura e na tecnologia que podem impulsionar o crescimento mútuo entre Brasil e Inglaterra", afirmou, destacando setores relacionados à economia verde, como descarbonização, hidrogênio verde e transição energética como opções sólidas de colaboração.
Dyogo Oliveira, presidente da CNSeg enfatizou a importância da segurança jurídica para os negócios no país. (Foto: Felipe Gonçalves/LIDE)
Dyogo Oliveira, presidente da CNSeg e ex-ministro do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, endereçou a atração de investimento como possibilidade para preencher várias lacunas encontradas no país, como distribuição de renda, educação, saúde e obras de infraestrutura. Ele salientou que a segurança jurídica no Brasil é necessária nas mais diversas esferas, porque ela guia decisões de negócios importantes que podem interferir no ambiente favorável a investimentos externos. Por esse motivo, o Brasil está em uma boa posição atualmente, com economia em crescimento, queda histórica no desemprego e aumento da produtividade.
Abordando os riscos crescentes com as mudanças climáticas, Dyogo reforçou o valor do setor de seguros para proteger plantações, cidades, indústrias, infraestrutura, famílias e cidades das grandes crises e catástrofes climáticas que levaram a indenizações milionárias, mas ainda pequenas em relação à verdadeira dimensão de perdas. Ele destacou o recém criado seguro social de catástrofe, que poderá indenizar famílias afetadas no Brasil.
"Precisamos fazer uma gestão mais inteligente e ativa dos riscos a que estamos submetidos enquanto empresários, pessoas e país".
Stephen Phipson, CEO da Make UK durante o LIDE Brazil Conference London. (Foto: Felipe Gonçalves/LIDE)
Representando parte importante do setor produtivo inglês, Stephen Phipson, CEO da Make UK, trouxe para debate a capacidade do país de investir nas atividades de manufatura avançada, produzindo componentes para aeronáutica, equipamentos de defesa, equipamentos tecnológicos, maquinário médico, entre outros. Com o novo governo inglês, está sendo desenhada também uma nova estratégia de negócios para o setor industrial do país, buscando a criação de empregos e investimentos alinhada ao plano do Reino Unido de se tornar carbono neutro nos próximos anos, o que representa uma grande oportunidade para expandir o relacionamento com o Brasil.
Senador Efraim Filho destacou a reforma tributária como um passo essencial para uma mudança de cultura. (Foto: Felipe Gonçalves/LIDE)
O senador Efraim Filho (UNIÃO-PB), em sua exposição, colocou a reforma tributária como um passo essencial para uma mudança de cultura que permita avançar nos planos da economia para o Brasil, mesmo que haja divergências, devido à facilitação do ambiente de negócios, com previsibilidade e segurança jurídica aos investidores priorizarem o país.
"A reforma tributária vai trazer ao Brasil um modelo mais simples e menos burocrático de tributação, facilitando a vida de quem produz", detalhou. "A reforma tem que dialogar com a vida real, com as famílias, não tem que servir para atender aos interesses do governo. O Brasil tem tudo para se tornar um destino premium para os investidores internacionais."
Michel Temer, ex-presidente do Brasil encerrou o primeiro painel do período da tarde. (Foto: Felipe Gonçalves/LIDE)
Encerrando o painel, Michel Temer, ex-presidente do Brasil, utilizou o texto da Constituição de 1988 para exemplificar o peso da segurança jurídica para manter o país em pleno desenvolvimento, com ordem e segurança para que ele prospere, da mesma forma que a mesma segurança jurídica torna o país mais seguro, previsível e atrativo para o exterior. "Aos investidores do Reino Unido, deixo um recado: invistam no Brasil, porque nós temos segurança jurídica”.
Os caminhos da transição energética
Claudio Oliveira, vice-presidente da Cosan, empresa que comporta um portfólio de outras seis companhias no ramo de energia, apresentou as principais ações e planos da empresa para se manter na vanguarda da transição energética no país. Uma das empresas co-controladas da Cosan é a Raízen, que tem 35 parques de bioenergia, com mais de 1,33 milhões de hectares de cana de açúcar cultivados para produção de etanol e outros produtos energéticos. Outra empresa é a Compass, holding de distribuição de gás natural, que também oferece produtos de marketing, serviços especializados e mercado livre de energia.
O vice-presidente também destacou que a empresa tem um plano de neutralidade de carbono, visando a transição energética completa até o ano de 2030. A Cosan, por meio do Energy Transition Innovation Center (ETIC), mantido em parceria com a Poli-USP, desenvolve tecnologias com o objetivo de posicionar o Brasil como líder nessa transição para a energia verde.
"A ciência deve ser a base de todas as decisões regulatórias e políticas públicas. A parceria entre o setor privado e autoridades, bem como um forte arcabouço regulatório é fundamental para que o Brasil alcance a liderança nesse setor", analisou.
Thiago Toscano, presidente da Itaminas, empresa de mineração de ferro, apresentou os principais desafios da atividade no Brasil, as oportunidades de investimento na descarbonização da indústria siderúrgica mundial, o papel dos minérios da transição energética, como grafite e manganês, além do plano da empresa de estar à frente da mineração sustentável no Brasil. "A gente é sustentável e é isso que podemos levar do mundo daqui para frente", afirmou.
Luiza Demoro, head de Energy Transition Global da Bloomberg NEF, empresa com base em Londres mas com atuação no Brasil, com foco em criar análises e reportes atualizados que permitam os empresários, governantes e tomadores de decisão a entender a transição energética. Segundo um dos materiais mais relevantes produzidos pela Bloomberg NEF, mostrado durante a exposição, demonstrou que os países têm diferentes mixes de matriz energéticas que requerem novas tecnologias para que seja possível alcançar a meta de net zero.
"O primeiro passo da transição energética do Brasil já foi tomado e o país está em uma posição privilegiada nesse processo", explicou, explicando que quando comparada às matrizes de outras grandes potências globais, a matriz energética brasileira é, em grande maioria, renovável. Além disso, revelou que o Brasil é um dos três maiores destinos de investimentos em energias limpas, além de um dos maiores potenciais de produção de energia eólica do planeta.
A ABEEólica, associação com mais de 150 membros entre produtores de energias renováveis e fósseis, baterias, além da cadeia de produção de energia eólica onshore, foi representada no LIDE Brazil Conference por sua CEO, Elbia Gannoum. Ela explicou a forma como o Brasil tem se posicionado internacionalmente no mercado da energia eólica, que atualmente é o sexto maior do mundo em capacidade instalada, sendo a segunda maior fonte de energia da matriz energética nacional, ficando atrás apenas das hidrelétricas, grandes fontes renováveis.
Ela demonstrou o potencial gigante do Brasil para a geração desse tipo de energia a partir da exploração da sua faixa litorânea, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Sul. Há, também, o aspecto social com a expansão das áreas de energia eólica, com a fixação dos produtores à terra, geração de empregos, crescimento da demanda industrial e conservação das áreas ocupadas. "O segredo do Brasil é a abundância de recursos e a capacidade de legislar de forma segura para que o investidor decida ir para lá".
Presidente do Conselho da Light e ex-ministro de Comunicações, Hélio Costa, retomou o assunto da produção de energia limpa trazendo à tona a importância do estabelecimento de metas de carbono zero como algo inegociável para a empresa e para o setor energético brasileiro. Segundo ele, todos os anos, 50 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, e por isso, é preciso desenvolver estratégias para zerar essas emissões a média e longo prazo para desacelerar as mudanças climáticas.
A Light está testando no Ceará, por exemplo, a produção de energia a partir das ondas do mar, algo que pode ser promissor para garantir a segurança alimentar junto à matriz energética limpa liderada pelo Brasil ao redor do mundo: "ou reduzimos a zero as emissões de carbono ou o planeta não resiste".
Cristiano Pinto da Costa, presidente da Shell no Brasil vê o Brasil como potência em fontes de energia; (Foto: Felipe Gonçalves/LIDE)
Para finalizar o painel, Cristiano Pinto da Costa, presidente da Shell no Brasil, subiu ao púlpito no Hotel Savoy para compartilhar um estudo da empresa sobre cenários para a transição energética, com insights que podem fomentar a tomada de decisões. Há alguns fatores que influenciam essa mudança: aumento da temperatura global, crescimento populacional e de demanda por energia, e desenvolvimento acelerado de tecnologias.
Há dois cenários possíveis para análise, segundo o estudo: no primeiro, o mundo torna-se uma área de colaboração nunca antes vista entre iniciativas públicas e privadas e países, para convergir para um planeta que zera as emissões de carbono até 2050; no segundo, o mundo está mais fragmentado, os países se fecham para proteger seus recursos e não se chega ao nível de net zero na mesma data.
Christiano explicou que a Shell, enquanto empresa tradicionalmente de óleo e gás, está buscando se diversificar, investindo em energias limpas e descarbonização, além do mercado de créditos de carbono, visando a estratégia net zero. "O Brasil é uma grande potência em todas as fontes de energia, que pode se tornar net zero antes da maioria das grandes economias mundiais, mas isso só será possível com um framework competitivo de políticas públicas".