"Impossível pensar o mundo durante e pós-pandemia sem o digital", afirma Marco Stefanini
Grupo Stefanini aposta nas mudanças na rotina forçadas pela pandemia para ganhar ainda mais espaço e ampliar oferta de soluções digitais.
Marco Stefanini acredita na transformação cultural provocada pela pandemia. (Foto: Divulgação) |
No ambiente empresarial, muitas companhias têm apostado fortemente na tecnologia para manter seu funcionamento e conseguir repensar sua maneira de trabalhar. O que estava planejado para ser implementado nos próximos cinco ou dez anos, como o teletrabalho ou o investimento em segurança digital, foi rapidamente incorporado às rotinas e mostrou com mais clareza qual será o papel do digital no mundo pós-pandemia.
É neste mar em que navega o Grupo Stefanini, multinacional brasileira com 32 anos de atuação no mercado, que oferece soluções tecnológicas aos mais diversos segmentos da economia e emprega 25 mil funcionários em 41 países. Ao todo, o grupo conta com 17 empresas na área digital com uma gama de serviços em automação, cloud, Inteligência Artificial, IoT, marketing digital, segurança cibernética e User Experience (UX).
Todo esse poderio nasceu pelas mãos do CEO do grupo, Marco Stefanini, cuja trajetória começou como engenheiro de software de um grande banco e culminou na criação da quinta companhia brasileira mais internacionalizada, segundo o último ranking da Fundação Dom Cabral, e a primeira com presença em maior número de países.
Recentemente, o executivo foi indicado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) para presidir o Fórum das Empresas Transnacionais da entidade (FET). O organismo fomenta a internacionalização das empresas brasileiras e é de grande importância na obtenção de acordos com o Governo para estímulos ao setor.
Para Stefanini, a transformação digital é na verdade cultural, que começa na mente do executivo e se estende por todas as pessoas da organização. Ele acredita que o mundo vai ficar cada vez menos analógico daqui para frente e a tecnologia deverá garantir conectividade, mobilidade, acesso em nuvem e segurança.
Tanto é assim que, mesmo com a crise econômica atingindo grande parte das empresas no mundo inteiro, a Stefanini conseguiu fechar novos negócios durante a pandemia e espera continuar crescendo neste ano. “As soluções digitais claramente vão ter um impulso maior. Algumas empresas poderão ampliar o home office após a pandemia, assim como a utilização de ferramentas de videoconferência em substituição às frequentes viagens internacionais. O coronavírus acabou forçando algumas empresas a migrarem seus processos para o âmbito digital mais rapidamente. É um caminho sem volta e que se manterá após a pandemia”, avalia.
Neste cenário de afastamento social, algumas tendências vieram para ficar e certamente a tecnologia terá papel fundamental para a recuperação econômica dos países. “Eu tenho dito dentro da empresa que temos dois grandes focos: um é a saúde e bem-estar de todos e o outro é preservar as finanças da empresa e dos nossos clientes. Temos que manter a economia funcionando dentro do possível para que daqui a dois ou três meses, a gente volte a pleno vapor e tente se recuperar economicamente”, diz Marco Stefanini.
O executivo destaca que são muitas as lições que ficam por conta da pandemia. Trabalhar de maneira colaborativa é uma das principais. Stefanini acredita que apesar do distanciamento físico, as pessoas acabaram se aproximando mais dos colegas e dos clientes em busca de alternativas para garantir o bom funcionamento dos negócios.
A pandemia também contribuiu para romper a resistência com as soluções digitais, tanto para uso pessoal quanto corporativo. Os gestores passaram a enxergar como elas podem otimizar tarefas e ampliar a produtividade. “A tecnologia permite que os profissionais se tornem mais eficientes, já que várias tarefas repetitivas podem ser absorvidas pelos robôs, liberando as pessoas para se dedicarem a atividades mais estratégicas. Ela tem sido fundamental para a manutenção das atividades em vários segmentos. É impossível pensar o mundo durante e pós-pandemia sem o digital. A tendência é que a tecnologia seja mais valorizada e utilizada, inclusive em setores que se mostravam mais conservadores em relação à transformação digital”, afirma o executivo.
Agilidade e eficiência
Assim que a Covid-19 começou a avançar, a Stefanini fez um rápido movimento para transferir 90% dos seus funcionários no mundo para trabalhar remotamente. E o resultado foi surpreendente na maioria das equipes, que conseguiram manter alta produtividade mesmo nos momentos mais críticos da pandemia.
Com subsidiárias na Ásia, Europa, América do Norte e América Latina, o grupo teve que achar o ponto de equilíbrio entre manter-se funcionando e preservar a saúde de seus funcionários. E mais: implementar a mesma lógica para seus clientes, negociando soluções individualmente com cada um deles e preparando-os para implementar o home office, caso fosse necessário.
“Temos clientes que não necessariamente precisam estar em home office. Outros que precisamos alinhar para que sua infraestrutura esteja compatível com o trabalho remoto. Não é somente a nossa estrutura que precisou de mudanças. Além disso, atendemos serviços essenciais que temos que apoiar. São redes de farmácias, hospitais, banco, companhias de energia elétrica, empresas de telecom, etc. Temos que dar suporte para que nossos clientes possam prestar esses serviços essenciais à população”, explica o CEO.
O trabalho remoto forçado em muitos segmentos também serviu de laboratório para empresas que já haviam implementado alguma forma de home office, mas nada que requeresse um gerenciamento massivo. Segundo Stefanini, o nível de maturidade das empresas quanto ao home office ainda não é alto e este pode ter sido um dos aprendizados trazidos pela pandemia. Os outros são com relação a necessidade de se investir cada vez mais em cyber segurança e em diversos canais de vendas, como no caso do varejo.
“Durante a pandemia, mesmo quem não utilizava o e-commerce frequentemente teve que recorrer às compras on-line. O consumidor mudou e quer atendimento rápido e eficiente no canal que ele preferir, não naquele que a empresa escolher. Há uma tendência de crescimento das soluções omnichannel, que possibilitam ao cliente iniciar a interação em um canal, pesquisar por outro e finalizar a compra em um terceiro canal. As marcas precisam acompanhar a jornada do cliente e oferecer aquilo que ele realmente necessita ou deseja”, analisa.
Estratégia internacional
O planejamento estratégico da Stefanini sempre teve como pilar a internacionalização de suas empresas. O grupo acredita que a expansão no ambiente global beneficia também aos clientes brasileiros. O executivo aponta que o fenômeno é condição imprescindível para que o Brasil promova seu crescimento interno explorando o mercado global. Porém, o plano ambicioso esbarra nos entraves tributários nacionais.
Na maioria dos países, o sistema tributário incentiva a instalação de empresas em outras nações ou se mantém neutro, sem criar obstáculos. A melhor prática internacional é a de que o lucro obtido no exterior pela empresa deve ser tributado apenas no país onde a empresa se instala. Esse é o método sugerido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e praticado por grandes economias desenvolvidas e em desenvolvimento, como Alemanha, Canadá, China, Índia, França, Itália, Japão e Reino Unido, que reconhecem os benefícios de ter empresas globais.
No Brasil, entretanto, a empresa multinacional tem que pagar imposto também em território nacional. “Como a tributação de Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) no Brasil é da ordem de 34% e a média dos países da OCDE é de 22%, empresas brasileiras arcam com carga tributária mais elevada e são penalizadas ao investirem no exterior em comparação com seus competidores”, esclarece.
Marco Stefanini defende que os poderes Executivo e Legislativo promovam um sério debate acerca da legislação tributária e que se aproximem do que é sugerido pela OCDE para não deixar o Brasil na contramão do que vem sendo aplicado no resto do mundo.
Tecnologia por toda parte
A Inteligência Artificial tem sido a menina dos olhos dos empresários. De acordo com a consultoria Gartner, o emprego desta tecnologia deve gerar cerca de US$ 3 trilhões e 6,2 bilhões de horas de produtividade no mundo inteiro, em 2021. Uma pesquisa realizada pela consultoria americana DuckerFrontier, a pedido da Microsoft, mostrou que o Produto Interno Bruno (PIB) do Brasil pode crescer 7,1% ano até 2030 com a utilização de Inteligência Artificial, considerando os segmentos de serviços públicos, prestação de serviços corporativos, varejo, atacado, hotelaria e alimentação, construção, manufatura, mineração, água e energia, agricultura e pesca. Segundo o estudo, o aumento se daria em função da geração de novos empregos para profissionais qualificados que atuariam com novas tecnologias que, por sua vez, gerariam mais empregos em outros setores, injetando mais dinheiro na economia.
Pensando nisso, a Stefanini investiu nos últimos anos na plataforma Sophie, especializada em gerir demandas de atendimento por meio de algoritmos de Inteligência Artificial. Nas empresas em que foi implementada, o índice de satisfação é de 85%. Experiência híbrida de atendimento digital, a Sophie pode ampliar o nível de satisfação dos clientes em 22% se comparada a um call center tradicional, reduzindo em 50% o volume de chamadas dos consumidores para hotline, além de ampliar em 35% a produtividade dos colaboradores. A solução é flexível, atende a dezenas de tipos de conteúdo e pode aprender qualquer tipo de informação.
Durante a pandemia, inclusive, a plataforma foi disponibilizada gratuitamente para empresas, organizações e entidades públicas interessadas em utilizá-la em seus websites e intranets para responder dúvidas de colaboradores e cidadãos sobre o novo coronavírus.
O relatório The Global Talent Competitiveness Index 2020 (GTCI) do INSEAD, uma das maiores e mais prestigiadas escolas de negócios do mundo, revelou que a Inteligência Artificial representa uma oportunidade real para ajudar várias regiões a iniciar um novo ciclo de crescimento e eficiência. De acordo com o estudo, a América Latina, por exemplo, tem potencial para se tornar um hub de talentos em Inteligência Artificial e soluções digitais nos próximos anos. Entre os 100 países mais bem preparados para utilizar a Inteligência Artificial, 15 são do continente, com destaque para o México, Uruguai, Chile e Brasil.
Marco Stefanini participou do relatório e no capítulo que assinou com Fábio Caversan, diretor de pesquisa cognitiva da Stefanini Estados Unidos, destacou que existem profissionais de nível sênior na América Latina que podem ser treinados com foco na IA, mas que para isso é necessário investir em educação, trazendo uma abordagem mais humana para o debate.
“Para alguns especialistas, as plataformas de inteligência cognitiva são vistas como símbolo de esperança para solucionar questões mais complexas nas áreas de educação e saúde. É difícil pensar em um setor que não vá demandar funcionalidades da IA para gerir dados que possam ser utilizados de maneira estratégica na tomada de decisões”, finaliza o executivo.