Conselheiros de administração no Brasil têm o desafio de inserir IA generativa na agenda de curto prazo
Há um papel educativo por parte dos Conselhos no sentido de demonstrar como a governança corporativa deve evoluir para lidar com os riscos associados a essa tecnologia.
Denis Balaguer, líder de inovação da EY. (Foto: Divulgação/EY)
Mais de quatro a cada dez conselheiros (44%) querem dedicar mais tempo neste ano ao tema "inovação e tecnologias emergentes", como a IA generativa, de acordo com estudo da EY sobre as prioridades dos Conselhos de Administração para 2024 nas Américas. Esse mesmo assunto foi escolhido por 46% dos respondentes na pergunta sobre os temas que eles gostariam de ter mais informações e recursos. Ainda em relação a essa questão, a liderança, com 47% das respostas, ficou com "segurança cibernética e privacidade de dados". Por fim, os conselheiros posicionaram inovação e tecnologias emergentes entre suas cinco prioridades de supervisão em 2024.
A pesquisa entrevistou mais de 350 membros de Conselhos corporativos nas Américas, incluindo Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Estados Unidos e México, representando empresas de diversos setores e tamanhos – tanto de capital aberto quanto fechado. O papel crucial do Conselho neste ano é orientar a administração das suas empresas no equilíbrio entre o que é urgente abordar agora e o que é vital para investir no futuro.
“O curto prazo ainda se impõe na realidade brasileira, conforme percebemos na experiência compartilhada pelos conselheiros de administração no evento realizado recentemente na EY, com os Conselhos muito preocupados com os desafios de negócio do dia de amanhã. Com muito tempo dedicado ao curto prazo, torna-se desafiador trazer essa discussão sobre tecnologia com mais força, embora haja consciência sobre essa necessidade”, resumiu Denis Balaguer, líder de inovação da EY. “Há um papel educativo por parte dos conselheiros no sentido de demonstrar como a governança corporativa deve evoluir para lidar com a agenda de riscos associados à IA generativa”, completou.
Entre os riscos estão desrespeito à propriedade intelectual; vieses inconscientes da base de dados usada nesses sistemas de inteligência artificial; e alucinação (erro ou criatividade indesejada) da IA generativa que possa colocar em risco a reputação da empresa. Essas ameaças não devem servir como desincentivo à adoção da IA, mas como fator impulsionador para a criação de uma governança robusta, que envolva toda a organização, para utilização desses sistemas. O alinhamento entre os conselheiros para entender como essa tecnologia pode transformar o negócio passa por investigar os impactos que serão gerados na indústria ou setor de atuação das suas empresas e como a IA pode trazer ganho de produtividade.
O risco de deixar para depois ou de ignorar a transformação
“O comportamento de aguardar alguém transformar seus negócios por meio da IA generativa para observar se isso vai dar certo talvez não se aplique agora, considerando o potencial disruptivo dessa tecnologia. No passado, as empresas que demoraram a perceber ou simplesmente ignoraram transformações semelhantes ficaram para trás ou desapareceram”, observou Denis.
Os Conselhos têm, portanto, o papel essencial de assegurar que suas organizações estejam de fato considerando todo o potencial da IA generativa, por meio de políticas de IA responsáveis, baseadas na ética, que gerenciem os riscos e capitalizem as oportunidades disponíveis para o negócio, mantendo os valores e o propósito da empresa como norte.
“O Conselho precisa conhecer essa tecnologia e suas possibilidades para resolver as dores dos seus negócios por meio da IA. Uma das sugestões surgidas no evento é que os comitês possam ser a porta de entrada desse assunto nas organizações. Para os conselheiros presentes, os comitês permitem um espaço extra de discussão, sendo mais adequados do que o fórum do Conselho de Administração, que está ainda muito ligado às questões do curto prazo”, finalizou Denis.