Hamilton Agle, Estre: 'O nosso trabalho não é apenas proteger o meio ambiente, mas também agregar valor ao negócio'

Sustentabilidade ocupa espaço estratégico no plano de desenvolvimento das grandes companhias.

Estre_110Hamilton Agle, CEO da Estre Ambiental.(Foto: Divulgação)

A importância da agenda ESG é um fato irreversível nas empresas, impulsionada principalmente pelo retorno positivo na cadeia de valor. Esse processo não apenas promove o crescimento saudável dos negócios, mas também demonstra um compromisso com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. O estudo "Tendências de RH 2023", da consultoria Korn Ferry, revela que 67% das empresas no Brasil adotaram o ESG como pilar estratégico.

O estudo identificou as prioridades ESG, incluindo a redução de emissões, uso eficiente de recursos, energias renováveis, investimento em projetos filantrópicos e políticas de recursos humanos alinhadas aos valores da empresa. Com isso, grandes companhias não só adotaram o ESG como meta como passaram a desenvolver produtos e serviços com foco na sustentabilidade, valorizando os negócios e atraindo novos clientes.

A Marfrig e BRF, por exemplo, têm a sustentabilidade como um pilar fundamental do negócio e uma sólida governança sobre o tema – as duas empresas contam com comitês dedicados ao tema, com a participação de membros do Conselho e membros independentes.

"Marfrig e BRF estão orientadas a operar de forma cada vez mais eficiente, rentável e sustentável, e a promover geração de valor para todos os nossos stakeholders”, destaca Marcos Molina, fundador da Marfrig.

Avanços

A Marfrig também foi a empresa mais bem avaliada do setor de proteína bovina pela iniciativa FAIRR, uma rede colaborativa composta por mais de 360 investidores internacionais que visa aumentar a conscientização sobre os riscos e oportunidades ambientais, sociais e de governança (ESG) trazidos pela pecuária intensiva.

Na lista do CDP, organização internacional sem fins lucrativos que incentiva empresas e governos a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, preservar os recursos hídricos e proteger as florestas, a companhia acaba de receber a nota máxima, com a classificação A para mudanças climáticas e para as categorias florestas e recursos hídricos, fazendo com que a empresa seja a mais bem avaliada do setor globalmente.

Isso é resultado de mais de três anos do Programa Verde+, que receberá investimentos de R$ 100 milhões em frentes como recuperação florestal, restauração ecológica, agropecuária regenerativa e melhoria genética do rebanho, dentre outras.

A Marfrig integra, ainda, pelo quarto ano consecutivo, a carteira do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da B3 (Bolsa de Valores do Brasil), que chega à sua 19ª edição em 2024. A BRF também faz parte da lista, desde 2006.

DNA ambiental

Neste cenário de avanços no uso de tecnologias sustentáveis, algumas empresas atuam diariamente com este propósito. Em parceria com a Black Jaguar Foundation, a Amaro Aviation, empresa privada de aviação executiva fundada em 2020, compensa mensalmente 10% das emissões de carbono dos voos de traslados.

“Essa ação convida nossos clientes para a compensação voluntária das emissões de seus voos. Agora, estamos com um programa de crescimento forte na aviação privada e no gerenciamento de aeronaves. Nosso plano de negócios prevê a entrada no setor de emergências médicas. Para isso, estamos investindo em um novo helicóptero para revolucionar o mercado de monoturbinas”, afirma Marcos Amaro, CEO e fundador da empresa.

Tratar resíduos é uma operação fundamental na cadeia sustentável. E que também contribui para agregar valor ou negócios das empresas. Especializada em serviços ambientais e uma das maiores empresas do setor, a Estre é um exemplo de companhia que oferece gerenciamento e tratamento de resíduos com alta tecnologia.

“O nosso trabalho não é apenas proteger o meio ambiente, mas também agregar valor ao negócio dos nossos parceiros”, afirma Hamilton Agle, CEO da Estre Ambiental. E empresa conta soluções de planejamento estratégico, logística e destinação final responsável.

Já a Paper Excellence, gigante do setor de papel e celulose, também alinha sua produção de papel e celulose à práticas sustentáveis. A empresa já tem hoje, no Brasil, mais de R$ 13 bilhões investidos. Isso coloca a companhia como um dos maiores investidores no país nos últimos anos.

“O Brasil é um país atrativo no setor, sendo o segundo maior produtor de celulose do mundo, atrás apenas do Estados Unidos, com a maioria da produção dedicada à exportação. Além disso, essa alta produtividade florestal, aliada a boas condições logísticas e áreas degradadas disponíveis para conversão, criam um diferencial competitivo para o Brasil em relação a diversas regiões do mundo”, detalha Claudio Cotrim, CEO da Paper Excellence no Brasil.

Eletromobilidade

O governo federal aprovou no início do ano um plano de ações para estimular o desenvolvimento do setor industrial brasileiro. Chamado Nova Indústria Brasil (NIB), o plano foca metas e ações que, até 2033, pretendem promover o desenvolvimento do país por meio de estímulos à inovação e à sustentabilidade em áreas estratégicas para os investimentos, principalmente a eletromobilidade do transporte público.

E empresas do setor já disparam nesta corrida. Em janeiro, a Eletra, que desenvolve e integra sistema de tração para ônibus e caminhão, apresentou o e-Trol, um trólebus com ampla autonomia sem contato com a rede aérea, produzido especialmente para operações em vias segregadas e BRT (Bus Rapid Transit).

“Sabemos muito bem quais são as condições de operação do transporte urbano nas cidades brasileiras e fazemos produtos customizados para cada trajeto. A nossa tecnologia conhece o Brasil”, analisa a presidente da empresa, Milena Romano Braga.

Sócia do Wald, Antunes, Vita e Blattner Advogados, Patrícia Iglecias esteve em Dubai, no final do ano passado, para acompanhar de perto os intensos debates da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática.

De acordo com a especialista pela primeira vez desde que as nações começaram a se reunir, há três décadas, para enfrentar as mudanças climáticas, diplomatas de quase 200 países aprovaram um pacto global que pede explicitamente uma transição energética que afaste a humanidade dos combustíveis fósseis, como o petróleo, o gás e o carvão, que estão aquecendo o planeta em escala de risco.

“Os negociadores chegaram a um compromisso que clama aos países para acelerarem o abandono global dos combustíveis fósseis durante esta década de uma forma justa, ordenada e equitativa. E para que as nações deixem de adicionar dióxido de carbono à atmosfera até meados deste século”, pontua a advogada que foi secretária do Meio Ambiente de São Paulo e a primeira mulher a presidir a CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo.