Brasil inicia movimento inédito de captação de recursos e geração de negócios sustentáveis

Brasil é o 5º maior emissor de GEE – com cerca de 70% proveniente do setor de Agricultura, Florestas e Uso do Solo (AFOLU).

CCRRenata Ruggiero, diretora de Sustentabilidade, Inovação e Responsabilidade Social do Grupo CCR. (Foto: Divulgação)

Desburocratizar o acesso do Sul Global aos fundos ambientais e climáticos sempre foi uma das prioridades do Brasil. Atualmente, quatro dispositivos multilaterais financiam a maioria dos projetos que tentam frear a crise climática: o Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund); Fundo de Investimento Climático (Climate Investment Funds); Fundo de Adaptação (Adaptation Fund) e o Fundo Global para o Meio Ambiente (Global Environment Facility).

Os critérios para conseguir recursos desses fundos são considerados burocráticos e difíceis pela maioria dos países do hemisfério sul. O que o Brasil espera que mude a partir das reuniões no âmbito do G20, que acontece em novembro, no Rio de Janeiro.

“Nós priorizamos usar o capital político do G20 para impulsionar uma transformação dos principais fundos climáticos e ambientais do mundo. Temos uma agenda de implementação pela frente, mas já conseguimos que todos os membros do G20 apoiassem uma reforma da arquitetura financeira climática”, explica Ivan Oliveira, coordenador do Grupo de Trabalho de Finanças Sustentáveis do G20 (SFWG, na sigla em inglês) e subsecretário de Financiamento ao Desenvolvimento Sustentável do Ministério da Fazenda.

Bioeconomia

Representantes do G20 também aprovaram em setembro uma declaração que estabelece dez princípios para desenvolver a bioeconomia no mundo. O Brasil, que atualmente preside o Grupo, celebrou o consenso em torno do texto como uma conquista histórica. A bioeconomia é um conceito que envolve inovações fundamentadas em recursos biológicos, que resultam no desenvolvimento de produtos, processos e serviços mais sustentáveis. Uma das principais discussões associadas ao tema é a substituição de matérias-primas de origem fóssil por outras menos poluentes.

"Nos dedicamos à troca de experiência entre os países, abordando temas fundamentais, como as economias florestais, o uso estratégico da biodiversidade, incluindo o seu patrimônio genético e o conhecimento tradicional associado à biotecnologia, à bioindustrialização e à biossegurança, entre outras áreas essenciais. Nosso propósito é estabelecer princípios orientadores que servirão como base para o desenvolvimento da bieconomia, em suas diversas vertentes”, afirma Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas.

Potencial

O Boston Consulting Group (BCG) acaba de divulgar um estudo intitulado Seizing Brazil's Climate Potencial, mostrando que o país tem a oportunidade de atrair até US$ 3 trilhões em investimentos até 2050 e se tornar um hub global de soluções climáticas. De acordo com o relatório, o cenário atual de emissões de gases de efeito estufa (GEE) pode resultar em graves perdas sociais, naturais e econômicas, com impactos como aumento do nível do mar, secas mais longas e expansão dos danos causados por inundações. Como o Brasil é o 5º maior emissor de GEE – com cerca de 70% proveniente do setor de Agricultura, Florestas e Uso do Solo (AFOLU) –, é uma peça fundamental para o alcance das metas globais de neutralidade climática.

Para o cientista brasileiro Carlos Nobre, o clima já é uma emergência humana e o Brasil tem potencial de protagonizar e ser o primeiro país a neutralizar a emissão de gases de efeito estufa até 2040.

“Em nosso país, é possível neutralizar a emissão de gases de efeito estufa se as políticas ambientais forem bem implementadas e executadas no curto prazo, como a arborização urbana. Além de termos emissões líquidas negativas após 2040 e até 2100. Para isso, os setores também devem caminhar na busca por sustentabilidade, transição energética, e aperfeiçoar os sistemas de previsão e os alertas de desastres causados por extremos climáticos”, destaca.

Amazônia

Para reforçar as frentes em prol do reflorestamento e da redução de emissões de gases, a Suzano firmou parceria com a Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), que conta com o apoio da USAID Brasil e Aliança Biodiversity & CIAT, para a implementar um programa de conservação ambiental focada no desenvolvimento econômico sustentável em comunidades da Amazônia.

O programa é formado por projetos com duração de 18 meses e serão implementados em municípios do sudeste do Pará, no Maranhão e norte do Tocantins, em regiões próximas às áreas onde a empresa possui atuação. Estima-se que cerca de três mil pessoas serão beneficiadas, garantindo a preservação de 200 mil hectares de floresta nativa.

"Essa parceria com a PPA e com a USAID contribuirá diretamente com esse objetivo e com a construção de uma governança territorial nessa região para fortalecimento de comunidades e meio ambiente amazônicos", detalha Marina Negrisoli, diretora de Sustentabilidade da Suzano.

Pioneirismo

No âmbito do mercado de capitais, o Brasil inicia uma nova etapa nas ações de combate às mudanças climáticas. As empresas Reservas Votorantim (RV) e ECCON Soluções Ambientais, por exemplo, terão a sua metodologia de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) registrada na primeira plataforma nacional de registro de projetos geradores de créditos de carbono, em fase de desenvolvimento pela B3.

“A plataforma vai receber as informações dos projetos e será um repositório dos seus dados. Além disso, a iniciativa está alinhada à estratégia da B3 de criação de novos produtos ASG e no desenvolvimento da agenda econômica sustentável”, diz Leonardo Betanho, superintendente de Produtos de Balcão na B3.

Visão

Mesmo ainda na etapa de estruturação, a nova plataforma já conta com um potencial cliente. Acreditando na iniciativa, o Grupo CCR será a primeira empresa a comprar créditos de carbono de um projeto que será registrado na plataforma da B3. Pela primeira vez em sua história, a Companhia comprou 67 mil toneladas de crédito de carbono gerados pela PSA Carbonflor, metodologia aplicada no Legado das Águas, a maior reserva privada de Mata Atlântica do país, administrada pela Reservas Votorantim.

“Como maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, o Grupo CCR vem implementando uma série de ações para promover a descarbonização de suas operações de rodovias, aeroportos e mobilidade urbana. Participar desta iniciativa é mais um passo nesta jornada, e está em linha com o nosso objetivo de liderar a agenda ESG em nosso setor”, aponta a diretora de Sustentabilidade, Inovação e Responsabilidade Social do Grupo CCR, Renata Ruggiero.