'Taxa de desemprego em queda mostra que o mercado está positivo para o trabalhador, mas reforça as preocupações do BC com a pressão inflacionária'
Especialista explica que esse processo se torna inflacionário quando o aumento real de salário é maior que o da produtividade.
Fernando de Holanda Barbosa Filho, especialista em mercado de trabalho, pesquisador do Observatório de Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE. (Foto: Divulgação)
O mercado de trabalho brasileiro fechou o trimestre encerrado em junho com uma taxa de desemprego de 6,9%, conforme a PNAD-C divulgada ontem (31/7) pelo IBGE. Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE, destacou à coluna da jornalista Mirian Leitão, no jornal O Globo, que de 2012 para cá essa taxa foi menor do que 6,9% em apenas nove ocasiões. Quando se analisa apenas os trimestres fechados em junho, é a menor desde 2014.
Mercado de trabalho aquecido, fortemente puxado pelo emprego formal, em geral também se converte em melhores salários, e desta vez não tem sido diferente: alta de 1,8% no trimestre e de 5,8% na comparação anual do rendimento médio do trabalhador, que fechou em R$ 3.214. Maior dificuldade em contratação, a um custo mais alto, já se mostra no radar das preocupações de empresários do setor da construção, por exemplo, como apontou a Sondagem do FGV IBRE (leia mais).
“Taxa de desemprego em queda e forte aumento do rendimento real mostram que o mercado está positivo para o trabalhador. Por outro lado, reforça as preocupações do Banco Central com a pressão inflacionária”, diz Fernando de Holanda Barbosa Filho, especialista em mercado de trabalho, pesquisador do Observatório de Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE. É um círculo vicioso, pois inflação corrói renda, anulando os efeitos positivos dessa evolução do mercado de trabalho.
Como explica Barbosa, esse processo se torna inflacionário quando o aumento real de salário é maior que o da produtividade. Os dados mais recentes do Observatório Regis Bonelli mostram que, embora a PTF – medida de eficiência econômica que envolve a produtividade do trabalhador e do uso do capital, como máquinas, tecnologias e infraestruturas – esteja acima da tendência observada no pré-pandemia, no primeiro trimestre de 2024 registrou-se sinais de perda de dinamismo. Nesse período, a PTF registrou queda interanual de 1,3% no primeiro trimestre de 2024, quando considerada a medida por horas efetivas de trabalho. “Em comparação com o quarto trimestre de 2023, as reduções foram de 0,1% e 0,7%, respectivamente”, dizem os pesquisadores do Observatório.
Recentemente, em colaboração para matéria da revista Veja (link aqui), Fernando Veloso, coordenador do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, ressaltou que no final de 2023 a produtividade do trabalho, medida por hora trabalhada, se igualava à de 2012. Veloso ressalta que, se não fosse pela evolução das habilidades dos trabalhadores – em especial o aumento da escolaridade – esse resultado seria ainda pior. “Nosso ambiente de negócios é complicado e o resultado é que não usamos nosso potencial da melhor maneira”, afirmou.
Se a tendência observada no início do ano se mantiver para o segundo trimestre, reforçará os sinais de preocupação com pressões inflacionárias vindas do mercado de trabalho.