França e Brasil constroem parcerias comerciais e diplomáticas sólidas com foco na sustentabilidade

Relações entre países miram acordos e parcerias visando equilíbrio internacional.

d9fcc11b-d673-4da4-b775-f3b561860c69Presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Emmanuel Macron. (Foto: Divulgação)

A França ocupa a posição de 3º maior investidor no Brasil, pelo critério de controlador final, com cerca de US$ 38 bilhões investidos. Em 2023, a corrente de comércio bilateral alcançou US$ 8,4 bilhões, com US$ 2,9 bilhões de exportações brasileiras.

Neste momento, o país tem sido um ator chave nas negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Apesar das divergências, especialmente nas áreas de sustentabilidade e padrões ambientais, há esforços para que o acordo seja finalizado, o que pode ampliar o comércio e os investimentos bilaterais.

De acordo com Maurício Godoi, economista e professor da Saint Paul Escola de Negócios, a França é um mercado importante para os produtos agropecuários brasileiros, incluindo soja, carne bovina e suína.

“A França também tem desenvolvido tecnologias que podem ser aplicadas no agronegócio brasileiro para aumentar a produtividade e a sustentabilidade, como drones para monitoramento de lavouras e sistemas avançados de irrigação. Com as exigências cada vez maiores dos consumidores europeus por produtos rastreáveis e com certificação de origem sustentável, a cooperação em métodos de rastreamento e certificação pode abrir novos mercados para os produtos brasileiros na Europa”, salienta.

Clima

Neste âmbito, a preservação da Amazônia é uma prioridade para ambos os países. A França, especialmente sob a liderança de Macron, tem trabalhado ao lado do Brasil na adoção de medidas mais rigorosas de preservação. Para Igor Lucena, economista, doutor em Relações Internacionais e CEO da Amero Consulting, o crescimento no setor verde é uma área promissora, considerando que França é o único país da Europa que tem um território ultramarino no continente latino-americano, a Guiana Francesa, que faz parte da França e é fronteiriça com o Brasil.

“Isso significa que investimentos na área de desenvolvimento da economia verde são fundamentais para a parceria com a França. Apesar de seu território pequeno, o país tem uma capacidade significativa de desenvolvimento de tecnologias e recursos financeiros da União Europeia, que podem ser alocados para operações do norte do Brasil e da América Latina”, analisa.

Acordos

No final de março deste ano, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Emmanuel Macron, assinaram, no Palácio do Planalto, 21 acordos, entre eles o de cooperação jurídica internacional em matéria penal; declaração de intenções relativas ao reforço da cooperação contra o garimpo ilegal; cartas de intenção sobre cooperação entre o Parque Amazônico da Guiana e o Parque das Montanhas de Tumucumaque; e  a declaração de intenções destinadas a reforçar a cooperação franco-brasileira.

Durante o encontro, Lula ressaltou que dentre as potências tradicionais, nenhuma é mais próxima do Brasil do que a França. Segundo ele, no atual contexto de alta complexidade do cenário internacional, o diálogo entre os dois países representa uma ponte entre o Sul Global e o mundo desenvolvido a favor da superação de desigualdades estruturais e de um planeta mais sustentável. “O Brasil e a França estão decididos a trabalhar juntos para promover, pelo debate democrático, uma visão compartilhada do mundo”, frisou Lula.

Macron reiterou que seu país “ama e acredita no Brasil”, e que há muito a ser comemorado em 2025, quando os dois países completam dois séculos de relações. O presidente francês lembrou que seu país não é apenas o terceiro maior investidor no Brasil, mas o primeiro em termos de geração de empregos no Brasil.

“A confiança em nossas economias e democracia nos une”, acrescentou ao elogiar os modelos econômicos brasileiros voltados ao combate à inflação e à reposição de energia sustentável. “Temos todas as razões para acreditar que isso continuará”, complementou.

Incentivo

Em visita a Belém, capital do Pará, os presidentes do Brasil e da França lançaram um programa de investimentos de 1 bilhão de euros em projetos de bioeconomia para a Amazônia Legal brasileira e, também, da parte da Amazônia da Guiana Francesa. O objetivo é levantar os recursos com investimentos públicos e privados em bioeconomia nos próximos quatro anos. A ação faz parte do Plano de Ação sobre a Bioeconomia e a Proteção das Florestas Tropicais, assinado pelos dois países.

Macron reconheceu o compromisso do atual governo brasileiro na preservação do ecossistema. “O desenvolvimento do futuro dos povos autóctones e da biodiversidade não é apenas uma questão de resistência, é uma causa defendida pelo próprio governo federal”. O presidente francês também comentou os investimentos de € 1 bilhão.

“O que nós queremos fazer é preservar, conhecer melhor, multiplicar a cooperação científica, construir estratégias de apoio aos povos indígenas e juntos ter ações de investimentos na bioeconomia para isso crescer realmente”, destacou.

Viva a democracia

Em evento no Palácio do Planalto, Macron ponderou que os dois países têm valores bastante comuns com relação à democracia, e compartilham de confiança mútua em suas respectivas áreas econômicas. “Estamos em um combate internacional imbuídos dos valores em comum”, disse Macron no último dia de visitas do presidente francês ao Brasil, em março.

Segundo ele, os dois países estão escrevendo uma nova página de parceria estratégica. “Com os textos e as fortes decisões que tomamos, intensificamos intercâmbio e aumentamos a luta contra todos os tipos de crimes que afetam brasileiros e franceses”, acrescentou.

Segurança e defesa global

Além da defesa pela democracia, o Brasil e a França compartilham a visão de uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, onde o Brasil busca um assento permanente, com o apoio da França. Esse tema reforça a cooperação diplomática e geopolítica entre os países. O professor Godoi lembra que a parceria em defesa é um ponto central, exemplificado pela construção de submarinos nucleares pelo Brasil com apoio técnico francês. “Além disso, ambos os países colaboram em missões de paz e na luta contra o terrorismo, fortalecendo a aliança estratégica”, pontua.

Um sinal recente dessa colaboração aconteceu por meio do lançamento do 3º submarino de parceria entre Brasil e França, o Tonelero, fruto de uma parceria de ambos os países no âmbito do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (ProSub). Lula lembrou que, em 2025, será lançado o Angostura, o quarto submarino do programa.

“O presidente Macron e eu concordamos em ampliar esse esforço, com a criação do Comitê Bilateral de Armamento, focado no desenvolvimento de sinergias e de promover maior equilíbrio em nosso comércio de produtos de defesa”, reforçou.

Em discurso, Macron disse que o estaleiro construído para a fabricação do submarino é um dos mais modernos do mundo e o único instalado na América do Sul. “Jamais compartilhamos tanto o nosso know how como estamos fazendo agora com o Brasil. Temos muito orgulho de ter feito isso”. Macron acrescentou que potências pacíficas como França e Brasil têm de “falar com firmeza e força”.

“Compartilhamos a mesma visão, rejeitamos um mundo que seja prisioneiro da conflitualidade entre duas grandes potências. E temos de defender nossa independência, nossa soberania e o direito internacional”, concluiu o líder francês.