Shell traça caminhos para o Brasil atingir metas climáticas e se coloca como liderança para a transformação energética

No recorte inédito para o Brasil foram desenvolvidos dois cenários: o Sky 2050, que apresenta a transição mais rápida num mundo aberto ao comércio e que expande o acesso a fontes de energia com baixo teor de carbono.

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Cristiano Pinto da Costa, presidente da Shell no Brasil. (Foto: Divulgação)

Pela primeira vez em mais de 50 anos, a Shell lança seu plano de ação global com olhar voltado para o Brasil. Publicados desde a década de 1970, os Cenários da Shell têm como principal objetivo oferecer possíveis visões do futuro e contribuir para a discussão, com governos, academia e sociedade, sobre como o mundo pode evoluir sob diferentes conjuntos de suposições no setor de energia.

No recorte inédito para o Brasil foram desenvolvidos dois cenários: o Sky 2050, que apresenta a transição mais rápida num mundo aberto ao comércio e que expande o acesso a fontes de energia com baixo teor de carbono; e o Arquipélagos que considera uma realidade mais nacionalista, com sanções, barreiras comerciais e tarifas. Nos dois, o Brasil pode chegar a emissões líquidas zero de CO2 antes das principais economias globais.

Análise

Paralelamente, há espaço para a indústria de combustíveis fósseis durante a próxima década, à medida que o país progride no sentido dos seus objetivos climáticos.

“O setor brasileiro de óleo e gás desempenha um papel fundamental em uma transição energética justa, segura e inclusiva. Esses cenários podem contribuir para o planejamento e entrega dos compromissos assumidos pelo Brasil. O propósito não é tentar prever o futuro e trazer respostas definitivas, mas nos ajudar a ter contexto para decisões estratégicas”, destacou Cristiano Pinto da Costa, presidente da Shell no Brasil.

Vale destacar que operação nacional da Shell investe, aproximadamente, R$ 500 milhões por ano em pesquisa e inovação de novas tecnologias, com foco crescente na descarbonização de suas operações. Cerca de 30% desse recurso é destinado para projetos voltados à transição energética.

Infraestrutura

Outro cenário demonstra o que seria necessário para o Brasil alcançar emissões líquidas zero de CO2 em 15 anos. Seria preciso criar uma estrutura que alavanque o potencial de remoção de gás carbônico, adotando os mais altos padrões de qualidade e melhores práticas internacionais, que promovam a entrega de benefícios sociais e resultados ambientais, criando as condições adequadas para o trabalho em conjunto dos setores público e privado no combate às alterações climáticas.

Nesse contexto, a célere implementação de um mercado de carbono é essencial.

“Nós acreditamos que diferentes países e setores seguirão seus caminhos em ritmos distintos, e todos podem contribuir para o alcance das metas estabelecidas no Acordo de Paris”, destaca Costa.

Para o executivo, a transição energética de combustíveis fósseis para renováveis até 2050 precisa ser feita de maneira justa e responsável.

“É possível que demore um pouco mais de tempo, infelizmente. Temos que entender e aceitar que as fontes de energia vão conviver por algumas décadas enquanto substituímos uma forma tradicional de consumir energia por formas novas”, destaca.

Mercado

Com sua matriz energética majoritariamente limpa, o Brasil tem oportunidade para desenvolver recursos ainda inexplorados, de hidrocarbonetos a renováveis, impulsionando o desenvolvimento econômico. Para isso, será preciso tomar decisões rápidas e estratégicas para garantir a competitividade dos projetos, com estabilidade fiscal e regulatória. De acordo com o levantamento da Shell, a demanda por eletricidade pode duplicar até 2040 e triplicar até 2050.

Outra tendência é a expansão e adaptação do setor de bioenergia, com destaque para o potencial de quadruplicar as exportações de biocombustíveis. Nesse sentido, será importante, estabelecer um arcabouço político e regulatório que viabilize o desenvolvimento de novas oportunidades nesse segmento, como combustíveis de aviação sustentáveis (SAF), combustíveis navais de baixo carbono e produção de bioquímicos.

“A transição energética é uma realidade, porém ela precisa ser feita de maneira justa e segura”, conclui Cristiano Pinto da Costa.

Confira a entrevista: 

Neste momento, qual o papel da indústria de óleo e gás nos avanços para uma efetiva transição energética?

Sem dúvida, a transição energética representa um grande desafio para todos os setores da economia global.  Balancear adequadamente o ritmo da transição com a segurança energética é a chave para a nossa indústria, que sempre cumpriu um papel fundamental no fornecimento da energia da qual o mundo necessita. Eventos geopolíticos recentes, como notadamente a invasão russa à Ucrânia, despertaram um olhar mais atento à questão da segurança energética.

Nesse sentido, é importante reconhecer que hidrocarbonetos vão continuar sendo relevantes na matriz energética mundial por décadas.  O setor também terá um papel de geração de caixa para que empresas e governos tenham fôlego para investir em projetos de energias renováveis.

No Brasil, especificamente, a indústria de O&G é responsável por cerca de 15% do PIB industrial, segundo dados do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP).  A demanda global por óleo e gás continuará presente, e o Brasil tem competência de classe mundial, especialmente em Águas Profundas, para suprir esse mercado – monetizando suas reservas e promovendo o desenvolvimento socioeconômico do país com atração de investimentos em infraestrutura, geração de empregos e impostos.  Vale ressaltar ainda que as exportações de petróleo e derivados também são um elemento importante da nossa balança comercial: segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o setor gerou, de janeiro a julho deste ano, uma receita de US$ 27,8 bilhões.

A conclusão razoável é de que o setor de Petróleo e Gás vai continuar sendo importante para o mundo, e particularmente para o Brasil, como elemento fundamental da jornada de transição energética.  Até porque, como o próprio termo implica, estamos falando de uma transição, não de uma ruptura sistêmica que gere incertezas e riscos socioeconômicos, especialmente para países em desenvolvimento.

De que maneira a Shell tem atuado e impulsionado suas iniciativas neste sentido? Qual a estratégia da companhia?

A Shell tem a ambição de se tornar um negócio de emissões líquidas zero até 2050, em linha com a sociedade.  Toda a nossa estratégia é voltada para geração de maior valor, com menos emissões.  Resumidamente, vamos seguir fornecendo a energia de que o mundo precisa para atender à demanda dos clientes e a segurança energética global, enquanto investimos em soluções de baixo carbono.  É importante, entretanto, que esses negócios também gerem retorno financeiro para justificar a continuidade desses investimentos, que na Shell serão da ordem de US$ 10 a US$ 15 bilhões entre 2023 e 2025.

E qual o futuro da indústria offshore? Como tornar suas operações mais sustentáveis?

O Brasil já se consolidou há décadas como um grande ator em Águas Profundas.  O país tem vocação técnica para isso, e possui um operador nacional extremamente competente, a Petrobras.

Dada essa vocação e o potencial geológico do país, o futuro será decidido pela nossa capacidade de nos mantermos competitivos, atraindo novos investimentos.  O mercado brasileiro precisa manter termos e condições atraentes internacionalmente, com um arcabouço regulatório que preze pela previsibilidade e estabilidade jurídica e fiscal.  Aqui vale lembrar que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), o valor equivalente de dois a cada três barris produzidos no Brasil é recolhido ao governo na forma de impostos, participações especiais, royalties e tributos.  O que significa dizer que este já é um setor pesadamente taxado.  Por isso a previsibilidade de termos e condições é tão importante, já que a indústria opera com projetos de 20 a 30 anos, com estratégias e ciclos de investimento de longo prazo.

Se o elemento da sustentabilidade econômica for observado, os agentes da indústria farão sua parte na aplicação de recursos em pesquisa e desenvolvimento para que as atividades de exploração e produção se tornem menos intensas em termos de emissões.  A própria cláusula de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da ANP garante recursos e investimentos significativos para tornar as operações do setor mais eficientes neste sentido.

A Shell, em particular, até o final do ano passado, já tinha atingido mais de 60% da meta de reduzir para a metade as emissões das nossas operações (escopos 1 e 2) até 2030, em comparação com 2016, conforme divulgado em nossa recente atualização estratégica sobre transição energética.

Saindo um pouco do tema da sustentabilidade, em que outros projetos de inovação a Shell está investindo nesse momento?

No Brasil, investimos aproximadamente R$ 500 milhões por ano em Pesquisa e Desenvolvimento, sendo 70% dos recursos destinados a projetos voltados para descarbonização e para a eficiência da indústria offshore, e 30% para o estudo de novas tecnologias de Baixo Carbono e em Transição Energética.

Nosso investimento crescente em inovação é alocado em um portfólio diversificado, composto por cerca de 100 projetos aprovados pela ANP, com foco em descarbonização, eficiência e segurança da indústria. A empresa apoia cerca de 1.400 pesquisadores, em parcerias com mais de 20 instituições acadêmicas e institutos de pesquisa brasileiros, e mais de 30 grandes, médias e pequenas empresas e startups.  A colaboração contínua com esses atores, incluindo centros de excelência como UFRJ, USP e UNICAMP, ajuda a impulsionar a inovação e promover a excelência tecnológica.

Olhando para alguns exemplos de projetos: na área de engenharia de offshore, podemos destacar uma iniciativa que propõe uma metodologia inovadora de integração do hidrogênio a motores de compressão a diesel de embarcações marítimas, como navios-tanque e navios-sonda.

A Shell também investe em muitos projetos que envolvem robótica e uso de inteligência artificial, big data, machine learning (aprendizagem de máquina), digital twin (réplicas digitais) e realidade virtual em busca de maior eficiência energética e redução de CO2 e custos operacionais. Temos, por exemplo, um projeto que estuda o desenvolvimento e a aplicação de um novo sistema de aquisição sísmica 4D para monitorar campos de petróleo, identificando mudanças no reservatório durante a produção por meio de unidades que registram dados no fundo do mar e se comunicam com um veículo submarino autônomo.

Na área de Baixo Carbono e Transição Energética, podemos destacar o programa BRAVE (Brazilian Agave Development), que incentiva uma nova cadeia agroindustrial baseada em espécies de Agave - que são plantas capazes de viver e atingir alta produtividade em regiões do semiárido - como fonte de biomassa para produção de etanol de primeira e segunda gerações.  São muitos projetos, seria impossível elencar todos aqui.  Eu convido quem estiver nos lendo a acessar o site da Shell Brasil para saber mais sobre essas iniciativas.

Quais as perspectivas de crescimento e novos investimentos da empresa tanto na área de petróleo como em projetos renováveis para os próximos anos?

O Brasil desempenha um papel relevante no setor energético global devido à sua vasta riqueza de recursos naturais, incluindo petróleo, gás natural, biocombustíveis e fontes renováveis como hidrelétrica, solar e eólica. E não podemos esquecer dos créditos de carbono.  Nesse sentido, o país possui um potencial significativo para emergir como um líder global em produtos e serviços em energia e carbono em um mundo em transição energética.  A Shell está no país há 111 anos e seguimos buscando oportunidades em todas essas linhas de negócio.  E embora seja nossa política não divulgar previsões de investimento por país, posso lembrar que, nos últimos anos, a Shell vem investindo entre US$ 1 e US$ 1,5 bilhão de dólares no Brasil.

Quais os empecilhos, ruídos, riscos e barreiras que impedem a companhia de ampliar suas operações e negócios no país?

Como eu já disse, competitividade é o nome do jogo para que o Brasil possa realizar seu potencial no setor energético.  E, para que isso aconteça, sim, há pontos de atenção que precisam ser observados. A reforma tributária, por exemplo, embora represente uma oportunidade para modernizar e simplificar o sistema fiscal brasileiro, criando um ambiente de negócios mais previsível e eficiente, traz consigo algumas complexidades e incertezas, como a potencial criação de um imposto seletivo, sobretaxando ainda mais um setor que já contribui significativamente na geração de divisas para o governo – a receita equivalente de dois a cada três barris produzidos no país, como falei anteriormente.

O ideal então é que eventuais mudanças garantam uma carga tributária equilibrada, evitando uma sobrecarga fiscal que poderia afetar negativamente o setor, como por exemplo o chamado “imposto do pecado”, que na proposta da Reforma aparece com fins meramente arrecadatórios e, portanto, não deveria ser aplicado à produção de hidrocarbonetos.

Outro ponto que defendo é a continuidade e regularidade na oferta de áreas exploratórias no país. Para nós, leilões de exploração são fundamentais para atração de investimentos externos. A Margem Equatorial, por exemplo, representa a abertura de uma nova fronteira exploratória no Brasil, atraindo capital e estimulando o desenvolvimento do setor. É uma das decisões estratégicas mais importantes que governo brasileiro tem a tomar nos próximos meses.

A implementação de um mercado regulado de carbono também poderá colocar o Brasil formalmente no mapa de um mercado que movimenta bilhões de dólares mundialmente – e tende a crescer.

Para que o país tire o melhor dessas oportunidades, nosso arcabouço regulatório precisa acompanhar as demandas do mercado.  E o tempo urge.  Se não fizermos o dever de casa, seremos menos competitivos frente a outros países que também buscam atrair investimentos.