Em 2025, a tendência é de uma inflação mais disseminada, afirma André Braz
Especialista afirma que essa reação só tenda a aparecer em meados do ano.
André Braz, coordenador de Índices de Preços do FGV IBRE. (Foto: Divulgação)
Um dos elementos mais perversos para o panorama de 2025 é o da combinação juros altos e inflação. André Braz, coordenador de Índices de Preços do FGV IBRE, afirma que a tendência para este ano é de uma pressão de preços mais disseminada e mais sensível à ação da política monetária, ainda que essa reação só tenda a aparecer em meados do ano.
“Em 2024, houve uma concentração da alta em alimentos, influenciada por uma série de fatores como fenômenos climáticos e demanda aquecida pelo melhor cenário de emprego e renda, como também o efeito da desvalorização cambial, que resultou no aumento de exportações de vários itens alimentícios, desfavorecendo a demanda doméstica”, diz. De acordo ao IPCA do IBGE, alimentação e bebidas, saúde e cuidados pessoais e transportes responderam por cerca de 65% da inflação de 2024, de 4,83%. O grupo alimentação e bebidas respondeu pela maior contribuição, com 1,63 ponto percentual.
Braz destaca que neste início de 2025 reajustes nas atividades de serviços – entre as mais preocupantes por sua resiliência – deverão ser guiados mais pela melhora da renda dos brasileiros observada do que os possíveis efeitos do aumento da Selic na atividade que, reforça, tenderão a ser mais sentidos a partir do segundo semestre. “A prévia que captamos no início de janeiro para os reajustes em mensalidade escolar, por exemplo, gira em torno de 7,5% a 8%”, ilustra Braz.
O mesmo caminho tem sido observado para alguns preços administrados. Braz cita o exemplo do transporte público urbano, que é um tipo de reajuste com efeito permanente no bolso do usuário. “A correção da tarifa de ônibus nas capitais brasileiras que temos visto é a mais intensa desde a pandemia”, afirma. “De fevereiro de 2020 a dezembro de 2024, a inflação medida pelo IPCA-15 soma 32%, enquanto o reajuste de ônibus urbano acumulou 6,7% nesse mesmo período”, cita. Este ano, entretanto, entre as sete capitais com aumento de tarifa anunciado na primeira semana de janeiro, os reajustes variaram de 4,29% a 15% – respectivamente, em Recife (PE) e Florianópolis (SC).
O economista do IBRE destaca que, agora em janeiro, o índice agregado da inflação poderá “esconder” esse impacto em função do chamado “bônus Itaipu”, referente à distribuição do saldo positivo da hidrelétrica para o ano de 2023, que reduzirá a conta de luz de mais de 78 milhões consumidores residenciais e rurais em até R$ 49 – totalizando R$ 1,3 bilhão distribuídos. “Isso deve impor um recuo de cerca de meio ponto percentual na inflação de janeiro, mas tudo volta ao normal em fevereiro. É um jogo de soma zero”, afirma.
Braz afirma que um elemento que tende a ampliar essa tendência de disseminação da inflação em 2025 deverá ser o câmbio, que tende a afetar do preço dos alimentos – pese a perspectiva de melhores safras –, aos bens duráveis importados ou componentes importados. “No caso dos bens duráveis, ainda há a desvantagem de serem mais dependentes de financiamento, por seu maior valor, que é encarecido pelo aumento da taxa de juros”, lembra Braz.
Apesar de ser mais sensível à Selic, Braz lembra que esse setor poderá se ver limitado a conter o reajuste de preços devido ao pedaço da inflação referente a aumento de custos, e não de demanda. “Indústrias que trabalham com componentes importados, por exemplo, terão mais dificuldades em segurar repasses aos preços de seus produtos”, diz, citando exemplos como de automóveis à linha branca.
Livio Ribeiro, pesquisador associado do FGV IBRE, avalia que o impacto inflacionário via câmbio pode não ser tão efetivo caso haja interferência na flutuação dos preços dos combustíveis conforme o preço internacional. “Se isso acontece, quebra-se esse mecanismo de transmissão de uma forma difícil de precisar, pois se tratará de uma escolha política”, diz.
“Se tudo fosse livre, inclusive a gasolina, teríamos um repasse relativamente grande, em torno de 90 pontos-base; sem gasolina, esse número cai para cerca de 30 pontos.” Na primeira semana de janeiro, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) indicava uma defasagem de 12% no preço dos combustíveis em relação a preço internacional. “No último ano, a Petrobras reagiu quando essa defasagem bateu nos 30%, o que pode indicar que, por enquanto, ainda há muita gordura para queimar.”
Para Braz, a acomodação do dólar no patamar de R$ 6, tal como sinalizado no Boletim Focus do BC, praticamente eliminaria as chances de se colocar a inflação dentro do intervalo da meta – o teto é de 4,5% ao ano. “Por enquanto, o cenário dificulta projeções”, afirma, apontando que parte desse cálculo vem da evolução do cenário fiscal. “Caso o governo consiga sinalizar uma política de compromisso em conter o déficit público, já reduziria o impacto doméstico na evolução do câmbio”, diz, lembrando que a alta volatilidade é um dos elementos mais nocivos neste momento, reduzindo a margem de planejamento dos agentes, levando muitas vezes a uma alta preventiva de preços.