Combate à miséria e o enfrentamento das mudanças climáticas unem grandes nações

Apesar das consonâncias, risco político cria apreensão e pode afetar desenvolvimento global.

Patricia Krause Image 2024-04-24 at 13.16.58Patricia Krause, economista-chefe da Coface América Latina. (Foto: Divulgação)

O Brasil e outros países emergentes pedem maior peso nas decisões dos bancos multilaterais para que tenham mais flexibilidade na utilização de empréstimos. Isso porque os financiamentos estão atrelados a usos específicos, o que atrasa a liberação de recursos para lidar com eventos repentinos relacionados à crise climática.

De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, instituições financeiras como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), devem ter mais recursos para iniciativas de transição energética e a luta contra a fome.

"No centro desses esforços está a necessidade de garantir que o apoio dos bancos multilaterais de desenvolvimento seja orientado pelas prioridades nacionais de desenvolvimento, proporcionando benefícios tangíveis aos países beneficiários”, aponta.

Haddad explica que o Brasil está elaborando um plano que torne as instituições multilaterais “melhores, maiores e mais eficazes”. Os ministros de Finanças e presidentes dos Bancos Centrais do G20, grupo das 20 maiores economias do planeta, mais a União Europeia e a União Africana, votarão a proposta em outubro.

Tributação internacional

O G20 também pode chegar a um acordo sobre a taxação de super-ricos até novembro, disse o ministro da Fazenda. Ele relatou que o governo do presidente Joe Biden apoia a medida, proposta pelo Brasil, que exerce a presidência do G20 até o final deste ano.

“Podemos, em julho, e depois, em novembro, soltar um comunicado político com um consentimento dos membros do G20 dizendo que, sim, essa proposta precisa ser analisada, tem procedência e que vale a pena, ao longo de três ou quatro anos, nos debruçarmos sobre ela para ver sobre o que nós estamos falando”, pontua.

Apesar do aparentemente entrosamento, Haddad destaca ser necessário que os países do G20 tratem o assunto como prioridade nos próximos anos. Segundo Haddad, é preciso haver coordenação internacional porque a taxação por apenas um país seria ineficaz e criaria conflitos de interesse.

“Se algum país achar que vai resolver esse tipo de injustiça sozinho, ele vai ser prejudicado por uma espécie de guerra fiscal entre os Estados nacionais”, adverte o ministro.

Cautela

O risco político está em alta este ano e é uma das maiores fontes de apreensão em relação ao desempenho econômico global, o que pode atrapalhar exatamente todo este processo de revisão do papel das instituições financeiras e própria taxação de grandes riquezas. A avaliação é da Coface, líder global em seguro de crédito e pioneira no fornecimento de informações comerciais, em seu mais recente estudo global Coface Country Risk, que abrange 160 países.

Para a instituição, não há dúvida de que 2024 será um ano tumultuado, com eleições em mais de 70 países, incluindo sete dos mais populosos do mundo, e abrangendo metade da população mundial, ou 55% do PIB global. A onda de eleições, recorda o levantamento, começou em janeiro em Taiwan e vai se estender até novembro, nos Estados Unidos.

De acordo com Ruben Nizard, economista para América do Norte e diretor de Risco Político da Coface, "com este calendário eleitoral supercarregado no horizonte, nosso mais recente índice de risco social e político destaca que a vulnerabilidade social e política está acelerando ao redor do mundo, criando incerteza e instabilidade em igual medida para nosso ambiente. A pontuação média global subiu para 38,6%, não muito longe do pico de 2021 (39,4%) após a crise da Covid-19, e acima dos níveis pré-Covid (média de 2016-2020: 36,9%). Nossos indicadores têm anunciado que estamos entrando em uma nova fase para esses riscos desde o início da década”, diz.

Ritmo

Essa perspectiva foi um dos fatores que fizeram a Coface prever redução no crescimento do PIB mundial para 2,4% em 2024, depois de ter crescido 2,7% no ano anterior. Será o menor índice de aceleração desde 2011, com exceção da queda de 3,0% registrada em 2020, no pico da pandemia.

De acordo com Patricia Krause, economista-chefe da Coface América Latina, o ritmo menor da atividade econômica deve acontecer também no Brasil, com um crescimento de 2,0% em 2024, em comparação a 2,9% em 2023 e 3,0% em 2022. No continente, o quadro mais preocupante é, segundo ela, na Argentina, que deverá ter novo ano de recessão em 2024, em que pesem alguns resultados alcançados nos primeiros meses do governo Javier Milei. Para Patricia Krause, esses números positivos registrados até aqui não são sustentáveis e não autorizam previsões otimistas em relação ao país.