Carlos Felipe Jaramillo: 'O baixo crescimento persistente não é apenas uma estatística econômica, é uma barreira para o desenvolvimento'

Ultrapassar barreiras em áreas como educação, infraestrutura e produtividade é fundamental para América Latina e Caribe avançar e promover o crescimento sustentável da região.

164273163061ea186e48e65_1642731630_3x2_xlCarlos Felipe Jaramillo, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. (Foto: Divulgação)

Os países da América Latina e do Caribe demonstraram uma força econômica inesperada em 2023 e podem implementar reformas para aproveitar as oportunidades econômicas ainda inexploradas, permitindo que a região desempenhe um papel fundamental no cenário econômico global, de acordo com o novo relatório macroeconômico do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A região cresceu 2,1% no ano passado, superando as estimativas iniciais de 1%. Prevê-se que o crescimento regional desacelere para 1,6% em 2024, antes de se recuperar para 2% em 2025. O desempenho neste ano é influenciado por vários fatores, entre eles o crescimento global mais baixo, taxas de juro elevadas, preços estáveis das commodities, consolidação fiscal gradual e níveis da dívida relativamente altos, segundo o relatório “Pronto para decolar? Aproveitando a estabilidade macroeconômica para o crescimento”.

“Embora os países da América Latina e do Caribe estejam prontos para contribuir para a demanda mundial em setores críticos como segurança alimentar, energias renováveis e mudanças climáticas, ainda precisam avançar nas reformas para aumentar a produtividade, melhorar a resiliência econômica e promover o crescimento sustentável”, disse Eric Parrado, economista-chefe e gerente-geral do Departamento de Pesquisa do BID.

Incentivo e alertas

Entre as políticas para aumentar a produtividade, o relatório recomenda que os países melhorem o acesso à educação de qualidade, incentivem a formalização e crescimento das pequenas empresas, facilitem o acesso aos mercados globais para todas as empresas, aproveitem a reorganização das mudanças nas cadeias de valor globais para atrair fluxos de investimento estrangeiro direto e promovam um mercado de crédito mais competitivo para as empresas.

Em um novo relatório, “Competition: The Missing Ingredient for Growth?” (Concorrência: o ingrediente que falta para crescer?), o Banco Mundial destaca as possíveis áreas de ação,
enfatizando que alavancar políticas e instituições de concorrência é fundamental para qualquer estratégia de crescimento impactante.

“O baixo crescimento persistente não é apenas uma estatística econômica, é uma barreira para o desenvolvimento. Isso se traduz em serviços públicos reduzidos, menos oportunidades de emprego, salários baixos e mais pobreza e desigualdade. Quando as economias ficam estagnadas, o potencial de sua população é limitado. Precisamos agir de forma decisiva para ajudar a América Latina e o Caribe a sair desse ciclo”, diz Carlos Felipe Jaramillo, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe.

Otimismo

Um ponto positivo na região tem sido a gestão da inflação, refletindo décadas de sólidas reformas macroeconômicas. A inflação regional, excluindo Argentina e Venezuela, está em 3,5%, em comparação com 5,7% nos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Na maior parte da região, as expectativas inflacionárias permanecem ancoradas e espera-se que as metas dos bancos centrais sejam atingidas em 2024. Para capitalizar esse progresso e reacender as economias, a América Latina e Caribe devem enfrentar desafios de longa data. Reformas em infraestrutura, educação e comércio são fundamentais para aumentar sua produtividade e integração global.

“À medida que o choque da pandemia recua, as taxas de crescimento da América Latina e Caribe (ALC) espelham as da década de 2010. Isso mostra que a região não abordou os obstáculos persistentes que bloqueiam seu potencial, incluindo baixos níveis de educação, infraestrutura precária e altos custos de investimento, que também alimentam o descontentamento social”, analisa William Maloney, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe.

“Uma agenda que impulsiona o crescimento é aquela que aborda essas lacunas com seriedade. Caso contrário, a região permanecerá estagnada e não será capaz de atrair investimentos ou aproveitar novas oportunidades, como a economia de baixo carbono. A melhoria dos sistemas de concorrência deve fazer parte dessas estratégias, beneficiando consumidores e empresas”, conclui o especialista.