Abrão Neto, da Amcham: 'Os valores recordes das exportações brasileiras para os EUA corroboram a importância da parceria econômica bilateral'
EUA consolidaram sua posição como mercado estratégico para as exportações brasileiras, especialmente de bens industriais, segundo a Amcham.
Abrão Neto, CEO da Amcham Brasil. (Foto: Divulgação)
Com reeleição em 2024 e agora o retorno de Donald Trump à Casa Branca, investidores ao redor do mundo estão reavaliando seus portfólios, antecipando as potenciais mudanças econômicas e políticas que podem acompanhar o retorno de Trump ao poder, incluindo uma nova onda de desregulamentação, incentivos fiscais e políticas externas mais agressivas.
De acordo com Fernando Bento, CEO e sócio da FMB Investimentos, para economias emergentes, que frequentemente têm dependência de commodities e estão vulneráveis à valorização do dólar, a possível volta de Trump representa um cenário de volatilidade. No caso brasileiro, uma série de fatores pode contribuir para pressões econômicas mais intensas.
“Uma política fiscal expansiva nos EUA pode resultar em um dólar mais forte, pressionando economias emergentes. Para o Brasil, um dólar valorizado pode impulsionar a inflação ao encarecer a importação de produtos e insumos dolarizados. Esse movimento tende a afetar diversos setores, desde a indústria até o consumidor final”, diz Fernando Bento.
Agro Forte
Gesner Oliveira, sócio da consultoria GO Associados e docente da FGV, também apresenta uma perspectiva otimista para o agronegócio brasileiro diante da política econômica de Donald Trump, chamada de Trump Economics. Para o especialista, o aumento do protecionismo dos Estados Unidos contra outros países, especialmente em relação à China, pode criar uma oportunidade única para o Brasil.
A expectativa é que uma escalada protecionista possa resultar em retaliações por parte da China, elevando as tarifas de importação de produtos agrícolas norte-americanos, como soja e milho. Esses produtos, nos quais Brasil e Estados Unidos competem diretamente, pode riam ver uma mudança de fluxo comercial, beneficiando os produtores brasileiros.
“Ora, se a China decide elevar as tarifas sobre a soja e o milho americanos, isso abre uma janela de oportunidade para o Brasil aumentar suas exportações desses produtos para o mercado chinês. Além disso, o mesmo cenário pode se repetir em outros setores agrícolas, como o de carnes”, explica Oliveira. Segundo ele, a guerra comercial entre Estados Unidos e China, intensificada pelas políticas protecionistas de Trump, pode acabar favorecendo o Brasil em nichos específicos do agronegócio.
Comércio
Os EUA consolidaram sua posição como mercado estratégico para as exportações brasileiras, especialmente de bens industriais, segundo a edição mais recente do Monitor do Comércio Brasil-EUA da Amcham. De janeiro a setembro de 2024, as exportações brasileiras para os EUA atingiram o valor recorde de US$ 29,4 bilhões, um aumento de 10,3% em relação ao mesmo período do ano passado, com alta nas vendas dos setores das indústrias de transformação, extrativa e agropecuária.
Esse resultado posiciona os EUA como o mercado de maior crescimento para exportações brasileiras no acumulado do ano, superando em mais de 12 vezes o aumento das vendas do Brasil para o mundo (+0,8%). Como referência, o desempenho das exportações brasileiras para outros importantes parceiros comerciais foi: União Europeia (+4,9%), China (-1,2%) e América do Sul (-19,8%).
“Os valores recordes das exportações brasileiras para os EUA corroboram a importância da parceria econômica bilateral, coroando o marco de comemoração dos 200 anos das relações diplomáticas entre os dois países” afirma Abrão Neto, CEO da Amcham Brasil .
A corrente bilateral de comércio atingiu US$ 60,1 bilhões, representando um aumento de 8,2% em relação ao mesmo período do ano passado. “Este desempenho destaca o papel de setores de maior valor agregado, como a indústria de transformação, na construção de uma relação cada vez mais promissora”, complementa Abrão Neto.