'O fortalecimento da cooperação, a nível do setor privado, destaca o aprofundamento entre os Emirados e o Brasil'

Ministro da economia dos Emirados Árabes, Abdulla Bin Touq, afirma que o governo está empenhado em promover um ambiente favorável aos negócios.

ministro economiaAbdulla Bin Touq, ministro da economia dos Emirados Árabes, Abdulla Bin Touq. (Foto: Divulgação)

A balança comercial do Brasil, com os países árabes, fechou 2023 com um aumento de 218,6% em relação ao ano anterior, e um superávit recorde de US$ 8,67 bilhões, segundo os dados da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. O órgão informa também que as exportações dos produtos brasileiros representaram um total de US$ 19,3 bilhões - crescimento de 9,2%, se comparado com 2022.

Para o ministro da economia dos Emirados Árabes, Abdulla Bin Touq, o governo do país está empenhado em promover um ambiente favorável aos negócios, reconhecendo o papel fundamental que a empresa privada desempenha na promoção da economia. “O fortalecimento da cooperação a nível do setor privado também destaca o aprofundamento dos laços entre os Emirados e o Brasil. Nossa parceria com o país não se limita a setores específicos, mas abrange uma ampla gama de indústrias e, mais importante, os setores da nova economia e as indústrias emergentes”, afirma.

Rodrigo Paiva, presidente do LIDE Emirados, sinaliza que as relações entre Brasil e Emirados Árabes revelam um cenário promissor de oportunidades e potencial econômico. A diversificação dos setores de interesse, como energia, agronegócio e infraestrutura, oferecem bases sólidas para colaborações estratégicas.

“O Brasil, conhecido por sua expertise agrícola, pode suprir a crescente demanda dos Emirados por alimentos, enquanto investimentos árabes podem impulsionar projetos de energia renovável e infraestrutura no Brasil. A exploração conjunta de tecnologias avançadas também se destaca, proporcionando um terreno fértil para inovações. Além disso, iniciativas culturais e de turismo podem fortalecer os laços entre as nações, fomentando uma compreensão mais profunda e duradoura. Diante dessas perspectivas, as relações Brasil-Emirados Árabes se apresentam como uma via estratégica para o desenvolvimento econômico e a cooperação bilateral”, diz.

Alinhamento

Entre os países da Organização para Cooperação Islâmica (OCI), a Arábia Saudita foi um dos primeiros países a adquirir frango de padronização muçulmana (halal) do Brasil no fim dos anos 1970. A transação foi tão importante que deu início a um intenso comércio de alimentos com o mundo muçulmano.

Osmar Chohfi, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, avalia que a Arábia Saudita está entre os principais parceiros comerciais do Brasil na Organização para Cooperação Islâmica (OCI). “Todos os anos destinamos 11,1% da produção total de frango e 3,9% da produção total de carne bovina aos países da OCI. Também nos tornamos o principal fornecedor de alimentos e bebidas desse bloco, tendo enviado só em 2022 um total de US$ 23,41 bilhões em gêneros alimentícios, desbancando concorrentes fortes como Estados Unidos, Indonésia, Turquia e outros. A Arábia Saudita está entre os principais parceiros comerciais do Brasil na OCI. Em 2022, o Brasil exportou ao país US$ 2,924 bilhões em mercadorias como frango, carne bovina, grãos, frutas, café e outros produtos do agronegócio”, enfatiza.

Diversificação

Mas além dos consumos dos produtos brasileiros e dos índices positivos da balança comercial, essas nações também são oportunidades de investimento e recursos para o Brasil. Ahmed El Khatib, professor e coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), explica que, em termos de complementaridade comercial, nota-se que, enquanto Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita são altamente dependentes da importação de alimentos, o Brasil depende da importação de combustíveis e fertilizantes - produtos tipicamente exportados pelo Mundo Árabe.

“Algumas empresas brasileiras já descobriram as vantagens competitivas que Dubai tem, principalmente na parte logística, tributária, comercial e financeira, por ser um local de fácil acesso e muito conectado por via aérea ou marítima aos principais mercados na Ásia, na África e até em partes da Europa. Estamos falando de um mercado expandido que pode chegar a mais de 2 bilhões de consumidores. Em Dubai, só para dar um exemplo, temos mais de 30 zonas francas, onde as empresas se beneficiam de uma estrutura própria, geralmente definida de acordo com o setor específico. Lá, as empresas podem ser 100% donas de seus negócios, não necessitando de um parceiro local com cidadania emirática”, pontua o professor.

Investimento

O professor El Khatib evidencia que os fundos soberanos árabes detêm 40% do capital mundial alocado atualmente em fundos desse tipo no mundo, totalizando cerca de US$ 2,3 trilhões.

“São recursos que os países árabes já utilizam para semear o futuro, a fim de desenvolver iniciativas econômicas sustentáveis. O financiamento de startups e tecnologia, pesquisa científica e projetos com finalidade de assegurar o acesso das populações árabes a alimento, podem ajudar o Brasil a se destacar ainda mais na região”, complementa.

Neste cenário, a Vale assinou, em 2023, um acordo vinculante com a Manara Minerals, uma joint-venture entre a Ma'aden e o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita. O recurso por um enterprise value implícito de US$ 26 bilhões será destinado para a Vale Base Metals Limited (VBM), uma entidade gestora do negócio de metais de transição energética da Vale.

Esta parceria estratégica irá acelerar o programa de investimento da VBM, que deverá atingir entre US$ 25 e 30 bi na próxima década, e ajudará a impulsionar um aumento potencial de produção significativo da VBM de cerca de 350kt/ano para 900kt/ano em cobre e de aproximadamente 175kt/ano para mais de 300kt/ano em níquel.

"Consideramos esses investimentos estratégicos como um marco importante na jornada para acelerar o crescimento da nossa plataforma de negócios de Metais para Transição Energética, criando expressivo valor a longo prazo para todos os nossos stakeholders", disse **Eduardo Bartolomeo**, CEO da Vale. "Com nosso portfólio de alta qualidade, estamos posicionados, de maneira única, para atender à crescente demanda por minerais críticos e para beneficiar a transição energética global, ao passo que continuamos comprometidos com práticas socioambientais robustas e com a mineração sustentável”, finaliza.