Cacau na Mata
Marcas como Q e Dengo fazem a pureza do fruto tropical ganhar projeção no país.
Q é comandada pela caçula Samantha Aquim.
Ter à mesa um chocolate cuja marca já teve uma edição limitada com design criado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e degustada como um dos melhores já experimentados pela rainha Elizabeth II é uma experiência única, mas que se torna ainda mais valorizada ao ser definida como genuinamente brasileira e sustentável. Assim é o chocolate Q. Cultivada dentro da floresta tropical em Ilhéus, na Bahia, a pureza do cacau é a principal característica da marca carioca da família Aquim. A Q é comandada pela caçula Samantha Aquim, cozinheira formada pela conceituada École Lenôtre de Paris.
Tudo começou em 2008, quando ela viajou para a Fazenda Leolinda, que segue até hoje como a região de produção exclusiva da marca, feita no sistema cabruca. Nele, o cacau é cultivado entre árvores nativas da Mata Atlântica, o que preserva a floresta e os animais silvestres do local. “Nossa parceria com a Leolinda é parte indissociável da história da Q. Crescemos e prosperamos juntos. Compartilhamos a missão de divulgar a beleza do cacau brasileiro para o Brasil e para o mundo”, explica Samantha. “Esse vínculo entre a marca, o campo, a natureza e, em especial, os homens, não é negociável para a Família Aquim”, completa.
É ela quem seleciona pessoalmente os lotes do fruto que serão transformados nos produtos da Q. Criteriosa, a escolha não tem como base a busca por sabores específicos, mas a essência do que Samantha acredita ter sido o perfil aromático da colheita daquele ano. “Cada barra de chocolate Q é uma cápsula do tempo que registra o que aconteceu na Fazenda Leolinda durante aquela safra”, comenta a chef. Os produtos, no entanto, apresentam constantemente notas mais cítricas.
Hoje, o chocolate de maior sucesso entre os consumidores da marca é o Q95, com 100% cacau. A Q reúne em seu portfólio três linhas de chocolates, todas com puro cacau e armazenadas em embalagens que carregam elementos das matas tropicais. Na pandemia, a Q interrompeu temporariamente as vendas em Lisboa, e se concentrou no mercado brasileiro, expandindo de Ipanema para São Paulo, além dos canais online. A operação paulista tem a parceria da Pazetto Events.
Estevan Sartoreli, CEO da Dengo Chocolates.
É também a partir do sistema cabruca em fazendas do sul da Bahia que mais uma marca nacional opera para a comercialização de um produto genuinamente brasileiro e sustentável. Fundada por Guilherme Leal, que também comanda a Natura, Body Shop e Avon, e Estevan Sartoreli, a Dengo Chocolates trabalha em parceria com 189 produtores locais de cacau em um processo que acompanha as etapas da produção e garante a compra do fruto por um valor 160% mais alto do que é pago pelo mercado comum.
“Tratamos o produtor como nosso primeiro cliente. Ele tem papel essencial no processo. Se não fosse pela rede de produtores, não existiríamos”, declara Sartoreli, CEO da Dengo Chocolates. A marca compra cacau geneticamente diverso para a fabricação dos chocolates, mas geralmente adquire lotes varietais, como PH16, Parazinho, PS1319, CCN51 e Catongo. As notas têm características de frutas frescas, frutas marrons e cacau. Entre seus produtos, o carro-chefe é a criação quebra-quebra, em placas de chocolate com sabores como banana e castanha-de-caju, abacaxi com coco e biju.
Como sinal do sucesso de negócio sustentável da marca, a Dengo inaugurou em novembro de 2020 sua loja conceito na capital paulista. Formada por quatro pavimentos, a luxuosa construção “Fábrica de Dengo” permite que o visitante conheça o processo verde de produção, passando pela amêndoa ao chocolate final: em um óculos de realidade virtual, é possível se sentir nas fazendas de cacau, junto à mata nativa. O segundo andar da loja tem inspiração baiana e conta com restaurante e bar especializado com drinques feitos de ingredientes brasileiros.
Tanto a Dengo quanto a Q utilizam o sistema cabruca de cultivo do cacau, em que o manejo é feito à sombra da Mata Atlântica, no Sul da Bahia. Na loja “Fabrica De Dengo”,em São Paulo, é possível conhecer o processo verde de produção, passando pela fermentação das amêndoas até a finalização do chocolate.
Além da Fábrica de Dengo, a marca tem outras 25 lojas espalhadas pelo Brasil, nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Paraná e Distrito Federal. Para o retorno a uma normalidade mais sustentável, a marca já planeja sua expansão: “Acreditamos que negócios de impacto social como a Dengo, que estejam comprometidos com alimentação mais saudável, respeito aos produtores e conservação ambiental possuem oportunidade de forte crescimento no pós pandemia”, reafirma Sartoreli.