Pedro de Godoy Bueno: 'Investimos em pesquisas e desenvolvimento de soluções que ofereçam benefícios para o setor'
Uma das principais lideranças empresariais jovens do país revela quais são os objetivos da Dasa, diante do atual ecossistema de saúde.
Pedro de Godoy Bueno é empresário do setor de saúde e assumiu em 2015 a posição de CEO da Dasa, maior rede de saúde integrada da América Latina, atendendo a mais de 23 milhões de usuários e 250 mil médicos todos os anos. Como um ecossistema completo de prestação de serviços médicos para todos os níveis de cuidados, hoje a empresa conta com 15 hospitais, 980 unidades ambulatoriais, a maior operação de medicina diagnóstica da América Latina e o Nav, plataforma de tecnologia em saúde. Pedro Bueno também é sócio fundador da DNA Capital, gestora de investimentos especializada em saúde, e acionista da Viveo, maior ecossistema de produtos e serviços em supply chain para o setor de saúde do Brasil.
Pedro de Godoy Bueno, empresário e CEO da Dasa. (Foto: Divulgação)
Nesta entrevista, Bueno fala sobre o propósito da Dasa de “ser a saúde que as pessoas desejam e que o mundo precisa”. O empresário destaca que o brasileiro realmente deseja ter mais transparência, facilidade e cuidado na hora que eventualmente estiverem doentes e precisarem do sistema de saúde.
Revista LIDE: Quais espaços a Dasa pode ocupar no ecossistema de saúde brasileiro, ainda nesta década?
Pedro de Godoy Bueno: Entendo que, como maior rede de saúde integrada no Brasil, a Dasa tem um papel fundamental para protagonizar a mudança na forma como nos relacionamos com nossos usuários e, com isso, entregar o valor que eles tanto esperam. Nosso objetivo é integrar todo o ecossistema de saúde por meio de dados e de uma experiência que encante e facilite a vida das pessoas. Com as informações e jornada integrada seremos capazes de engajar pacientes na prevenção e cuidado precoce, gerando, assim, mais saúde e, também, mais eficiência para o setor como um todo.
Para isso, trabalhamos nos últimos anos na construção de uma completa rede de serviços integrados, com gestão baseada em inteligência de dados para garantir agilidade, eficiência, melhores desfechos e sustentabilidade, gerando valor em cada etapa e proporcionando experiência positiva, algo que leva ao engajamento no próprio cuidado, refletindo em melhores resultados clínicos e melhor assistência.
E a inovação é nossa aliada nesta jornada. Por isso, investimos constantemente em tecnologia, ampliando o nosso data lake e os projetos de inteligência artificial, customer experience, ciência e pesquisa, novos produtos e serviços, data analytics e ferramentas para que os médicos possam acompanhar os pacientes de maneira cada vez mais próxima e eficiente. Nossa proposta é única, porque coloca o paciente no centro de todas as decisões, viabilizando navegação fluída e sem fricção, em hospitais e laboratórios de referência nacional e otimizando processos e dinâmicas que vêm impactando na sustentabilidade do setor, permitindo que ampliemos o acesso à saúde de qualidade para cada vez mais pessoas.
Vocês lançaram uma área exclusiva de Engajamento com Startups. Como estão as expectativa sobre primeiros resultados e potencial da iniciativa para os próximos anos?
Desde que a área começou, já mapeamos 371 startups, sendo que 41 delas foram conectadas a setores da Dasa e 17 estão em teste de hipótese. Também estamos animados com o Dasa Pulsa, nosso primeiro ciclo de aceleração de startups que foi lançado em abril deste ano. Selecionamos cinco healthtechs que serão acompanhadas de perto para que desenvolvam seus negócios e tragam soluções com potencial para transformar a saúde e a jornada do cuidado em diferentes frentes, desde o relacionamento com o cliente até a gestão de dados e o uso de inteligência artificial.
E esse não é um movimento de hoje. Em 2018, fundamos o núcleo de Inovação Aberta e Relacionamento com startups, cuja primeira iniciativa foi a construção do Cubo Health, do qual somos patrocinadores até hoje. Estamos sempre atentos às novidades no mercado e queremos trazer outras startups para apoiar e potencializar soluções que ampliem a eficiência operacional, além de melhorar a experiência de médicos e usuários.
Onde a Dasa se posiciona no contexto de busca por expansão, investimentos, aquisições e parcerias neste momento?
Temos um olhar estratégico para oportunidades que potencializem a nossa operação e a experiência de médicos e pacientes, sempre mantendo em vista o propósito de oferecer os cuidados de maneira preditiva, preventiva e personalizada. Entre essas oportunidades podem estar startups ou empresas que apresentem soluções complementares para os negócios ou que permitam expandir nossa atuação.
Além disso, avançamos muito por meio de movimentos orgânicos de expansão. Em agosto deste ano, por exemplo, inauguramos o nosso primeiro Espaço de Saúde Integrada em Alphaville, que materializa o conceito de cuidado integrado da Dasa. Em um só lugar, reunimos as marcas Alta Diagnósticos e Nove de Julho para oferecer uma jornada completa, de consultas à exames de alta complexidade.
Quais as principais tecnologias aplicadas no processo de atendimento e oferta de serviços são consideradas prioritárias neste momento?
Inspirados nos controles da aviação, em 2019 criamos o NOC, um centro de comando para monitoramento em tempo real das nossas operações. Além de centralizar os processos, ele oferece dados dos atendimentos, da gestão de indicadores e de governança dos nossos hospitais e unidades diagnósticas. Esses dados são cruzados por artificial intelligence e machine learning e guiam os gestores na tomada de decisão, otimizando tempo e recursos, além de proporcionar atendimento mais preditivo e com a melhor conclusão. Os resultados são vistos na prática: nos hospitais, por exemplo, por meio de dados, a Dasa conseguiu otimizar o giro de leitos em mais de 20%, potencializando a disposição de espaços para internação quando os pacientes precisam.
Além de contar com os dados gerados pelo NOC, seguimos construindo experiência com menos atrito pelo Nav, nossa plataforma digital que conecta o físico ao digital, proporcionando interação da jornada do cuidado da consulta ao diagnóstico e hospital. Tudo isso só é possível pela capacidade de processamento, cruzamento e análise de informações do nosso data lake, o maior banco de dados privado do setor de saúde do Brasil, com mais de 6,4 bilhões de dados. Nossa proposta é uma ruptura com o modelo aplicado há muito tempo no país, em que não era possível ter a visão completa do paciente e integrar esses dados para prever riscos, tratamentos e prevenção de algum evento futuro.
No Brasil, temos grande dificuldade principalmente com verbas para pesquisa e educação. Como a companhia tem atuado para mudar esse quadro em ações internas e externas?
Investimos em pesquisas e desenvolvimento de soluções que ofereçam benefícios para o setor como um todo, como é o caso do Genov, maior banco privado de sequenciamento amostral do vírus da Covid-19 no país. O projeto, liderado por um time multidisciplinar, identificou os primeiros casos da “Alfa” e “Gama-plus” no País e contribuiu para a contenção da doença principalmente nos momentos de pico, juntamente com a vacinação, o uso de máscaras e o isolamento social. Para a pesquisa brasileira, fica o legado da vigilância, da infraestrutura logística e da tecnologia que desenvolvemos e importamos.
Além disso, temos o Instituto de Ensino e Pesquisa Dasa, que agrega a experiência da prática clínica com a geração de conhecimento científico. Somente em 2021, apoiamos pesquisadores da Dasa a publicar mais de 250 artigos de médicos e cientistas vinculados à companhia em revistas de renome, como a Nature. Em 2022, já foram publicados mais de 120 artigos em áreas como diagnóstico por imagem, inteligência artificial, genética e impressão 3D. Recentemente, divulgamos uma parceria com a Inspirali para fornecer uma formação médica integrada entre a teoria e a prática para estudantes, médicos e especialistas em saúde, oferecendo formação e desenvolvimento médico no modelo lifelong learning, algo que proporcionou para mais de 200 graduandos de medicina vivenciarem a prática nos hospitais da empresa, além do desenvolvimento de trilhas sensu lato em diversas especialidades.
Outro projeto que merece destaque é o DNA do Brasil, em parceria com o Ministério da Saúde que tem como missão colocar o país no mapa mundial dos estudos genômicos, cruzando informações de saúde de 15 mil pessoas com seus dados do DNA.
O ESG é uma preocupação dos clientes do setor? Como a empresa atua em temas como equidade de gênero, diversidade e inclusão?
Estar alinhado aos princípios de ESG passou a ser condição básica na gestão de um negócio e é premissa na cultura e na prática da Dasa. Nesse contexto, buscamos garantir que as iniciativas cuidem das pessoas, do ambiente e do planeta. Em 2022 passamos de 3 para 14 projetos, e temos um planejamento estratégico da área para os próximos cinco anos considerando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Entre as iniciativas estão a criação de usinas solares para abastecer nossas unidades de medicina diagnóstica e projetos de capacitação em saúde na Ilha de Marajó.
Em se tratando de diversidade e inclusão, avançamos, mas sabemos que esse é um caminho longo e de aprendizado contínuo. Hoje, 38,5% das posições de alta liderança (diretorias e executivos C-Level) estão ocupadas por mulheres e temos grupos de afinidade para que todos se sintam acolhidos e livres para discutir ideias. Nosso Comitê de Diversidade está atento e acompanha cada passo dessas estratégias que já fazem parte da nossa cultura.
Atualmente, qual o maior desafio da empresa diante das mudanças nos hábitos sociais, como o cenário de trabalho híbrido, além da perda de poder aquisitivo de parte da população?
Nosso maior desafio é levar e tornar a saúde acessível a todos. A pandemia trouxe muitas mudanças, novos hábitos e novas necessidades, e o autocuidado é um deles. Os modelos híbridos de trabalho estão fazendo a sociedade se adaptar à novas rotinas e, nesse quesito, a falta de tempo é umas das principais queixas na hora de agendar uma consulta ou exame. Todo o setor tem se movimentado em busca de soluções que possam sanar essas questões e já que sabemos que a saúde ficou atrasada em relação à oferta de serviços integrados e na urgência de pensar no ser humano como um todo.
Para identificá-las, acompanhamos o dia a dia das operações para criar ou implementar produtos e serviços trocando muitas informações com os times que estão na linha de frente do atendimento. E, nessa lógica, ganham cada vez mais espaço os atendimentos on-line e móvel, que abrem possibilidades e mais comodidade para o cuidado com a saúde, com a mesma qualidade e segurança. Também captamos informações úteis nesse processo por meio da tecnologia, algoritmos e inteligência artificial, utilizadas no modelo phygital, que integra a experiência física e digital. A saúde é fundamental para a sociedade e, para transformar a lógica assistencial, precisamos focar nas pessoas e acreditar no cuidado sustentável, para reduzir custos e otimizar a eficiência operacional e o desfecho clínico, sendo esse um processo de mudança cultural.