Pedro Bueno, da Dasa: precisamos colocar nossa energia em algo que faça nosso coração vibrar
Com ritmo forte em inovação e qualidade, Pedro Bueno quer criar ecossistema com a missão de transformar o setor.
Presidente da Dasa, maior rede integrada de saúde da América Latina, Pedro Bueno. (Foto: Divulgação)
Presidente da Dasa, maior rede integrada de saúde da América Latina, Pedro Bueno é uma das principais – e mais jovens – lideranças empresariais do país. Formado em economia pela PUC-Rio, também é sócio-fundador da DNA Capital, gestora de investimentos especializada em saúde, e acionista da Viveo, maior ecossistema de produtos e serviços em supply chain para o mercado de saúde do Brasil.
Como uma operação completa de prestação de serviços médicos, que atua em todos os níveis de cuidados, a Dasa atende a mais de 20 milhões de usuários e 250 mil médicos todos os anos. Conta com 16 hospitais, 900 unidades ambulatoriais, a maior operação de medicina diagnóstica da América Latina e o NAV, plataforma de tecnologia em saúde. Ciente de sua capacidade de geração de valor, devido à capilaridade e avanços constantes em inovação, a Dasa dedicou mais de R$ 40 milhões a projetos de impacto social e enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.
Para Pedro Bueno, uma liderança jovem e consciente, com olhar que vai além do negócio para o cuidado com as pessoas e com o planeta, é essencial neste momento de transformação da sociedade. Nesta entrevista, o empresário reflete sobre os desafios e conquistas da empresa, além de suas metas e objetivos.
REVISTA LIDE: De que maneira a Dasa tem ajudado no processo de mudança no mercado de saúde?
PEDRO BUENO: Estamos passando por uma transformação muito grande no setor de saúde, que parte de um sistema que envolve vários agentes separados, como laboratórios, hospitais, centros oncológicos e operadoras, para um ecossistema no qual esses players estão integrados, saindo da fragmentação e evoluindo para a coordenação de cuidado. Na Dasa, estamos investindo para apoiar o Brasil a fazer essa migração. Com o uso inteligente dos dados, integramos todas as etapas da jornada, desde a prevenção e atenção primária à medicina de alta complexidade, proporcionando uma medicina focada na saúde e não apenas na doença, além de uma experiência phygital. Hoje, nosso ecossistema é formado por mais de 40 mil colaboradores, e mil deles são dedicados à tecnologia e inovação. Temos também 72 squads, que trabalham no modelo ágil de desenvolvimento de novos produtos e colocam o paciente no centro das decisões. Entre 2018 e 2020, investimos R$ 1,56 bilhão no maior data lake privado do Brasil, com 5 bilhões de dados e 50% das informações nteroperáveis.
Qual foi o maior aprendizado para a Dasa neste período de pandemia?
Aprendemos que é preciso olhar para as pessoas e para a ciência e entender que, no setor da saúde, público e privado andam juntos. Desde o começo, nos apoiamos na ciência para as tomadas de decisão e, o mais importante, para gerar valor à sociedade neste momento complexo. Foi o que nos motivou a lançar o Genov, projeto pioneiro que vai sequenciar 30 mil genomas completos do coronavírus, em até 12 meses, formando o maior banco genômico privado do SARS-CoV-2 no Brasil, permitindo acompanhar e conhecer a evolução genética do vírus. Além disso, para garantir o melhor atendimento aos nossos pacientes, criamos um comitê de crise que contribuiu para que pudéssemos tomar medidas rápidas e solucionar problemas enfrentados por nossos colaboradores, médicos e pacientes. Remodelação de ambientes, adesão ao movimento #NãoDemita, ampliação de programas de bem-estar físico e mental estão entre as iniciativas para colaboradores e médicos.
Para os pacientes, a ampliação dos serviços de coleta domiciliar e atendimento phygital são modelos reforçados na pandemia e que já viraram realidade nos nossos serviços.
Na sua opinião, o que os clientes esperam agora de serviços médicos e laboratórios e como isso impacta no negócio?
Com o avanço da tecnologia, em especial o uso de dados e a inteligência artificial, podemos ter uma gestão de saúde completamente diferente. É isso que a gente está fazendo desde 2017, quando começamos a nova estratégia. O próprio câncer de mama é um caso emblemático dessa coordenação de cuidado proporcionada pela tecnologia. Identificamos por meio de nosso analytics que quase três milhões de mulheres com idade elegível e indicação clínica para a realização de mamografia deixaram de fazer seus exames, no último ano, nas nossas unidades, em função da pandemia. Com base nessa informação, planejamos uma ação coordenada convidando-as a realizarem esses exames e, das pacientes ativadas, aproximadamente 310 mil aderiram. Vale aqui destacar que temos um time de Customer Experience, com mais de 110 profissionais dedicados a melhorar toda a jornada do usuário, física ou digital, com um time multidisciplinar, formado por arquitetos, cientistas de dados, designers, antropólogos e pesquisadores.
Como os critérios ESG têm sido aplicados nas empresas da Dasa?
Nossa visão é garantir que, como empresa, estamos cuidando das pessoas, do ambiente e da comunidade. Temos um Comitê ESG e grupos de trabalho focados na disseminação desses valores, com estabelecimento de governança e acompanhamento das atividades sob cada pilar. E, nesse sentido, posso citar alguns exemplos interessantes. Na pandemia, investimos R$ 60 milhões para realização de diversas ações de combate ao coronavírus, como a criação do Centro de Diagnóstico Emergencial e do Genov. Pensamos também em como minimizar o impacto social da Covid-19 com doações para ampliação de leitos, aquisição de medicamentos, insumos, respiradores e equipamentos de proteção individual. Em benefício do planeta, posso citar a nossa migração do mercado cativo de energia para o mercado livre. Em 2020, foram migradas 23 unidades, que deixaram de emitir mais de duas mil toneladas de gás carbônico.
Além disso, na Dasa, a promoção da diversidade e inclusão é construída em grande parte no dia a dia, nas pequenas atitudes, nos gestos entre líder e liderado, e entre pares. Para isso, o DiversiDasa realiza projetos perenes – e não somente em datas comemorativas – com um olhar para pessoas com deficiência, igualdade racial, equidade de gênero, LGBTQIA+ e diversidade geracional.
Pedro Bueno: nossa visão é garantir que estamos cuidando das pessoas, do ambiente e da comunidade. (Foto: Reprodução)
O que foi mais importante em sua formação e busca por avançar na posição de presidente?
Iniciei minha trajetória profissional ainda muito jovem, aos 15 anos, como estagiário na Amil. Com a venda da empresa para o grupo norte-americano UnitedHealth, em 2012, fundei a gestora de investimentos DNA Capital. Meu mundo estava nas finanças. Meu objetivo era ser investidor. Só que, por uma sequência de acontecimentos, assumi, em 2015, a liderança da Dasa. Pude contar bastante com a mentoria do meu pai, e a sua morte, em 2017, mexeu muito comigo. Foi um ano muito dolorido, mas, também, de transformação. Às vezes, a dor é o que mais nos transforma, se bem cuidada. E, naquele momento, entendi que eu tinha a capacidade e o papel de contribuir para transformar a sociedade, criando um modelo de saúde que seja preditivo, preventivo e que consiga antecipar os problemas e salvar as vidas das pessoas na hora certa, como poderia ter feito com o meu pai e com milhares de outros brasileiros que passam por situações parecidas.
Quais são suas principais metas e objetivos como presidente da Dasa?
Hoje, temos um setor de saúde fragmentado, reativo e ineficiente, que se inflaciona ao longo do tempo, ficando cada vez mais caro e menos acessível para todos. Mas, para além do custo financeiro, existe o custo humano. Tem uma história que eu gosto de contar, de um pai de um conhecido meu. Ele teve uma crise de tosse, foi ao médico e fez um raio-x de tórax. Como o sintoma passou, ele nunca foi buscar o resultado. Passaram-se dois anos e, com a volta da tosse, ele foi novamente ao médico, fez outro raio-x de tórax e, desta vez, ele pegou o resultado: um câncer metastático. Esse é um caso que é muito emblemático da fragmentação, ineficiência e reatividade do nosso setor. Nós, da Dasa, queremos impulsionar um setor de saúde com base em medicina preventiva, preditiva e personalizada, que ajude milhares de outros casos como esse a terem um desfecho diferente, por meio da coordenação de cuidado e do estímulo ao acompanhamento da saúde, e não da doença.
Que dicas daria para jovens empresários e empreendedores que têm enfrentado dificuldades com a retomada dos negócios e reabertura da economia?
Um dos grandes aprendizados da crise do coronavírus é que a única certeza que temos é a de que não existe certeza. Estamos operando em um mundo BANI (Frágil, Ansioso, Não Linear e Incompreensível), no qual não podemos nos assustar com nossas ‘interrogações’, pois isso significa dizer que deixaremos de ousar, de inovar. Por isso, mesmo neste momento desafiador, precisamos manter a curiosidade, a persistência, a humildade, a escuta ativa e a mão na massa. Você pode estudar gestão em uma universidade renomada mundialmente, mas, na verdade, só aprende fazendo. Admitir que seu modelo de negócio talvez precise de um novo formato não é fácil, mas quando isso acontece, nos deparamos com uma imensidão de novos caminhos a seguir.
Que tipo de liderança você procura empregar em seu dia a dia?
Percebi que precisamos colocar nossa energia em algo que faça nosso coração vibrar. Todos querem se engajar por um propósito. A liderança tem a capacidade de criar essa realidade para as pessoas e dar oportunidade delas serem a sua melhor versão. É isso que estamos fazendo na Dasa, criando um ecossistema com a missão de transformar um setor para melhor, onde as pessoas possam ser quem são e alcançar o seu máximo potencial.