Presença na ausência: o desafio da liderança de inspirar à distância

A liderança eficiente não é mais aquela que dá ordens e conduz as equipes com rigidez. O foco do trabalho está, agora, na autonomia.

Rogério Baldauf é diretor superintendente da Schmersal, que desenvolve sistemas de segurança para todos os tipos de indústriaRogério Baldauf, diretor superintendente da Schmersal, que desenvolve sistemas de segurança para todos os tipos de indústria. (Foto: Reprodução/Linkedin)

Os modelos de trabalho remoto e híbrido, além de representarem novas possibilidades e dinâmicas, também vieram acompanhados de alguns desafios, um deles muito específico das lideranças: continuar inspirando as equipes à distância, sem as interações e o convívio diários.
O papel do líder vem passando por diversas transformações que o preparam para o futuro.

Hoje, a liderança eficiente não é mais aquela que simplesmente dá ordens e conduz as equipes com rigidez. O foco do trabalho está, agora, na autonomia dada aos profissionais e no exemplo que o gestor deve transmitir.

Acredito que esse profissional, alinhado à mudança de postura mencionada, compreende, então, a importância de liderar pelo exemplo. Isso significa que ele deve ser capaz de guiar equipes pela inspiração, considerando as próprias ações e a comunicação estabelecida com os colegas.

Alguns ditos populares são utilizados para resumir determinadas situações e um deles cabe bem a essa reflexão: “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”. Discursos vazios, ordens injustificadas, desconsideração com as equipes, nada disso funciona mais, se é que funcionou um dia. O importante, agora e daqui em diante, é engajar, transmitir credibilidade, ser um bom exemplo de profissional.

Como se não bastasse o desafio de inspirar os colaboradores nesse contexto, a essa tarefa somou-se mais um ponto de atenção: como ser esse exemplo à distância, uma presença marcante estando ausente boa parte do tempo?

E, então, você pode responder a essa pergunta dizendo “claro, é só estabelecer contato frequente usando as ferramentas que temos à disposição, como aplicativos de mensagens e plataformas para videoconferência”. De fato, a resposta para essa pergunta passa pela comunicação digital, útil para as conversas e feedbacks.

Ocorre que esse desafio também exige que o líder continue a desenvolver habilidades mais sutis, como a capacidade de ouvir e estabelecer uma conexão mais empática com as equipes. Aqui, o tema deste texto se cruza com uma reflexão anterior que propus sobre empatia digital, a forma de exercitarmos o olhar para o outro quando não há uma convivência presencial.

Em tempos de home office, espera-se que um bom líder defina e transmita com clareza os objetivos e metas da empresa, mas que também aja com transparência, confiança e flexibilidade para que os profissionais possam se autogerir e desenvolver as próprias habilidades.

Na empresa onde atuo, por exemplo, a autogestão faz parte da cultura organizacional. Temos, hoje, uma realidade que concilia o trabalho presencial com alguns dias em casa e, quando isso foi implantado, fluiu de forma orgânica, pois nós já acreditávamos nos benefícios dessa liderança que inspira e estimula a autonomia.

Quando um líder é um exemplo, ele entende como dar todas as condições e o espaço para que os colaboradores tomem as decisões necessárias. Ao mesmo tempo, de alguma forma, essa liderança também tem a consciência de que o próprio exemplo de conduta profissional que transmite está presente em cada ação, inclusive naquelas em que não há uma supervisão direta.

Inspirar sempre foi um desafio para a liderança, isso não mudou. A diferença é que, agora, temos a tarefa de superar a distância e levar o exemplo para ambientes onde não estamos fisicamente presentes, mantendo coesa uma equipe que pode estar espalhada.

A tecnologia, claro, cumpre um papel fundamental para que isso aconteça, mas a eficiência mora no desenvolvimento de competências que formam a figura de um líder, como a transmissão de confiança, a escuta e a transparência dos atos.