O papel do setor privado na sustentabilidade a partir da COP30 no Brasil
A COP30 reforça o papel estratégico do setor privado na sustentabilidade e no futuro da economia brasileira.
Henrique Meirelles, Co-Chairman do LIDE, ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda. (Foto: Vanessa Carvalho/LIDE)
Eventos como a COP30, que acontece em novembro, são importantes porque reúnem autoridades e especialistas em torno da discussão de temas relevantes. Neste caso, serve também para lembrar a todos da importância da questão da sustentabilidade. No caso da COP, o que está em discussão não é apenas mais um tema importante, mas a sustentabilidade da vida humana a longo prazo. A COP deve ser aproveitada por todos os envolvidos como um impulsionador.
Vivemos um momento de certo ceticismo na questão ambiental, em virtude da mudança do poder nos Estados Unidos. Mas isto será superado e as políticas de sustentabilidade continuam prioritárias. Cabe a todos nós manter as diretrizes para a produção sustentável e a transição energética. É um caminho sem volta.
Não faz sentido que o Brasil, com a maior biodiversidade do mundo, não seja um líder nas discussões ambientais e na economia baseada em diretrizes mais sustentáveis. Uma mudança de estrutura como vemos no momento, com a busca de novas fontes de energia e novas exigências para a produção, acontece raras vezes na história.
Governos têm obrigação de fazer muito, mas o setor privado não deve ser reativo, e sim pró-ativo, neste campo. Afinal, muitos dos avanços são reações institucionais a o que o mercado fez antes. As empresas brasileiras devem não só aproveitar a oportunidade, como serem protagonistas de mudanças na economia a partir desses novos parâmetros.
A transição energética é um fato inexorável e o Brasil tem de aproveitar o fato de ter grande potencial e muitas vantagens nessa nova realidade. Do ponto de vista de produção de energia, o Brasil possui uma posição privilegiada: cerca de 50% da nossa matriz energética vem de fontes renováveis, um percentual acima da média mundial. Mais de 85% da energia elétrica produzida no Brasil vem de fontes renováveis – em especial a água – contra uma média mundial de 30%.
Enquanto 70% das emissões de carbono de países como China e Estados Unidos são provenientes da queima de combustíveis fósseis para gerar energia, o Brasil é o inverso, apenas 20%. Em resumo: isso significa que a economia brasileira pode ser menos afetada que a da maioria dos países no processo de transição energética e que tende a ter menos efeitos econômicos para reduzir suas emissões.
Ser menos poluidor e atingir as metas necessárias, é não só importante, mas viável para o Brasil: basicamente, acabar com o desmatamento – uma atividade que não só é predatória, como não gera empregos ou renda. O desmatamento é um desperdício de riqueza.
O setor privado brasileiro, em especial o agronegócio, tem capacidade para se adaptar e inovar no campo da sustentabilidade. O agronegócio é um caso de sucesso em várias áreas, em especial na capacidade de ampliar a produtividade. Com as vantagens e a riqueza que o país apresenta, é uma questão de unir talentos para ser bem-sucedido também na sustentabilidade.