Educação financeira para crianças: o poder de saber quanto custa
É possível passar por datas festivas que orientam o varejo sem ter as finanças impactadas pelo estímulo ao consumo.
Luciana Pavan, mentora financeira e fundadora da 90 Segundos de Finanças. (Foto: Divulgação)
As datas festivas orientam o varejo que, por sua vez, cria estratégias para fisgar o consumidor. A sociedade se apropria desses momentos para ter situações de afeto e de trocas emocionais. Não é de hoje que essas relações existem e tampouco estou revelando algo inédito. Entretanto, não precisamos ter nossas finanças impactadas por esse estímulo ao consumo, isto é, podemos registrar o momento com boas experiências, sem necessariamente ter um custo envolvido.
Com a proximidade do Dia das Crianças, os shopping centers estão em polvorosa, com ações promocionais, vitrines milimetricamente pensadas para atrair a atenção e comerciantes ávidos para faturar com o aquecimento sazonal das vendas.
No entanto, enxergo também que o momento é oportuno para ensinar os pequenos sobre consumo consciente e o valor do dinheiro, obviamente com uma proposta de linguagem adaptada às fases da infância.
Trazendo o debate para dentro de casa, os pais começam a ser bombardeados com publicidade muito tempo antes do dia 12 de outubro. Porém, é importante não se render a essa pressão e refletir: o que eu poderia ensinar para o meu filho agora? Sempre comento que experiências podem ser mais baratas que um brinquedo e, inclusive, podem ser marcantes – ou mesmo inesquecíveis. Não devemos agir no automático, comprando brinquedos na loja de sempre, e sim aproveitar o Dia das Crianças para refletir sobre proporcionar uma imersão educativa para os pequenos e que, ao mesmo tempo, possa significar um melhor uso do dinheiro.
Sugiro que os pais e as mães se façam algumas perguntas antes de ir às compras, tais como: o meu filho já está numa idade de conseguir juntar dinheiro? Vamos poupar até o Natal para ele comprar algo maior lá na frente? Existe alguma experiência que ele gostaria de fazer, como por exemplo, assistir a um jogo de futebol? São indagações simples, mas que carregam consigo um potencial de auto-orientação muito forte.
Mais do que isso, é imprescindível começar, desde cedo, a ensinar a origem do dinheiro da família. Aos meus mentorados, recomendo explicar que esse recurso vem em troca do trabalho e que, com a remuneração, temos que pagar todas as despesas da família e também guardar para fazer coisas no futuro. Depois de saber que o Real não nasce em árvore, é importante começar a dar noção do valor das coisas.
Mas existe um recorte de faixa etária? É o que muitos me questionam. Dependendo da idade, você pode fazer uma brincadeira, perguntando o que vale mais, comparando coisas do guarda-roupa dos filhos. E assim, depois que a criança já estiver alfabetizada e entender os números, podemos falar de valores. Só depois de todos esses passos é que eu indicaria falar de poupança. Provavelmente, após os 11 anos, vai haver uma melhor noção do tempo em meses.
E por fim, podemos inclusive promover um debate com ênfase na agenda ESG, uma vez que a data pode ser um gancho para debater sustentabilidade sob o viés do calendário comercial.
Acho válido educar a criança para evitar desperdício em todos os sentidos, seja na comida que deixou no prato, no lanche da escola, com as coisas que pediu para comprar e não usou, com as folhas do caderno, entre outras situações. Um filho ou uma filha que aprende a reutilizar papel, a não desperdiçar o almoço, a consumir o que adquiriu, inevitavelmente, está aprendendo a colaborar com o seu próprio bolso no futuro.