Como trazer mais segurança às fusões e aquisições

O número de fusões e aquisições caiu no semestre, mas a preocupação pela segurança financeira do negócio aumentou.

Ana Albuquerque é Head de Linhas Financeiras da WTWAna Albuquerque, head de Linhas Financeiras da WTW. (Foto: Divulgação)

O cenário de fusões e aquisições teve um primeiro semestre cauteloso. Levantamento da consultoria TTR Data, de janeiro a junho deste ano, mostrou uma redução de 26% no número de transações globais, se comparado com o mesmo período de 2023. De acordo com a consultoria, no semestre foi movimentado cerca de R$ 105 bilhões.
Manter-se cauteloso é compreensível, pois estamos vivenciando um ano extremamente turbulento, com movimentações geopolíticas, desaceleração econômica em diversos países e as mudanças climáticas, que estão cada vez mais evidentes.

É verdade que não podemos restringir a queda nos M&A a apenas esses fatores, mas não há dúvidas que eles pesam na hora de fechar negócios. Contudo, estamos vendo uma maior procura pela contratação de seguros e coberturas especiais, que auxiliam nos processos e trazem mais confiança e segurança aos envolvidos.
Nesse sentido, o seguro para Declarações e Garantias (ou W&I, sigla em inglês para Warranty and Indennity) se destaca como um instrumento protecionista para perdas financeiras.

O W&I protege o segurado pelas perdas econômicas derivadas a um não cumprimento das manifestações e garantias e das declarações outorgadas em uma operação de M&A, assim como as perdas ou responsabilidades decorrentes de fatos desconhecidos ou não divulgados pelo vendedor. Adicionalmente, o W&I pode ser adquirido tanto pelo comprador como pelo vendedor.

Para se ter uma ideia do volume desses e outros seguros para M&As, dados do relatório WTW FINEX GLOBAL, publicado em 2023, mostram que em 2022 foram geradas mais de 3.000 apólices de M&A no mundo. Foram mais de US$ 3,5 bilhões em apólices, com prêmios que ultrapassaram o montante de US$ 100 milhões.
Em um cruzamento de dados com o TTR Data, foram realizadas mundialmente cerca de 2.400 transações de fusões e aquisições em 2022. Ou seja, temos mais apólices e coberturas do que o fluxo de M&A em sua totalidade.

Estes dados permitem fazer uma breve análise das tendências. A primeira é que as apólices e as coberturas não estão mais contemplando apenas o grupo A ou B, mas atendendo outras áreas e setores.Outro ponto importante é que a grande quantidade de apólices mostra que existe uma busca por segurança na hora das transações. O número de fusões e aquisições caiu no semestre, mas a preocupação pela segurança financeira do negócio aumentou.

É clara a vontade e a dedicação para que os negócios deem certo. Praticamente, não existe mais abertura para tentativas e erros. Basta olharmos algumas tendências atuais tendo como foco o mercado local. No primeiro semestre de 2024, foram realizadas 748 transações no mundo. Desse total, 18 foram expressivas e envolveram empresas do Brasil e da América Latina, oito delas relacionadas à energia (renováveis, elétrica e óleo e gás), três operacionais (logística e varejo, principalmente) e duas no setor imobiliário, entre outras. Foram movimentados mais de R$ 60 bilhões no período.

Em um levantamento com o setor de M&A da WTW, identificamos que a maior parte das coberturas de W&I na América Latina contemplaram justamente os setores de energia (com 40% das coberturas), imobiliário (27%) e operacionais (33%). Não há dúvidas que o setor de energia é um dos que mais tem potencial de crescimento, tanto nas fusões e aquisições quanto nos seguros específicos.

Os seguros passaram a ser reconhecidos como uma ferramenta estratégica para os negócios, sendo um pilar de segurança e confiança em grandes transações. E a tendência é que isso aumente ainda mais no futuro.