Lorice Scalise, Roche: 'Apenas criar uma inovação não faz sentido, ela precisa estar à disposição do paciente'
Em entrevista exclusiva, Lorice Scalise, presidente da Roche Farma Brasil, revela a expectativa da companhia em ingressar no mercado de terapias gênicas no Brasil ainda este ano.
Lorice Scalise, presidente da Roche Farma Brasil. (Foto: Divulgação/Roche)
Com a visão de gerar mais acesso a mais pacientes com o menor custo social, a Roche Farma encontra no Brasil oportunidades para desenvolver soluções médicas e alternativas para o setor público e privado. No ano passado, a companhia ingressou em um novo mercado: o da oftalmologia, que resultou, nos últimos cinco anos, um investimento de R$ 37 milhões em pesquisa clínica. Para este ano, um novo segmento deve marcar a história da companhia, com o negócio em terapias avançadas ou também conhecidas como terapias gênicas.
No comando destas operações nacionais está Lorice Scalise, primeira mulher a presidir a Roche no Brasil. Em entrevista exclusiva ao LÍDER.INC, reforça a importância da inovação de medicamentos, mas lembra que somente a criação não faz sentido “ela precisa estar à disposição do paciente, de forma equânime e sustentável aos sistemas”.
A companhia tem a visão de gerar mais acesso a mais pacientes com o menor custo social. Como esse processo tem sido aplicado no Brasil?
A Roche é uma casa de ciência. Há mais de 125 anos, como empresa de inovação, temos o compromisso de buscar alternativas para ampliar o acesso dos pacientes brasileiros, do setor público ou privado, aos tratamentos de que mais necessitam. Gosto de reforçar que apenas criar uma inovação não faz sentido: ela precisa estar à disposição do paciente, de forma equânime e sustentável aos sistemas.
Quando falamos sobre reduzir o custo social, falamos sobre minimizar todo fardo relacionado à jornada de tratamento de um paciente, que também potencializa as iniquidades dentro sistema único de saúde, como, por exemplo, a necessidade de locomoção para acessar determinado tratamento.
Acreditamos fortemente que o diálogo e o trabalho em parceria com o governo, reguladores e demais agentes do setor (como as sociedades médicas, órgãos regulatórios, representantes do governo, associações de pacientes, entre outros) são fundamentais para evoluirmos, cada vez mais, rumo a uma expansão de acesso com menos custo social. Reconhecemos que ainda há muito o que ser feito aqui no Brasil, mas fico orgulhosa em dividir uma importante conquista que alcançamos no último ano.
No mercado público, celebramos uma grande conquista referente à ampliação de acesso a uma terapia voltada ao tratamento da hemofilia A, chamada emicizumabe, que é a única inovação ministrada por via subcutânea aprovada e disponível no Brasil. Trata-se de um anticorpo monoclonal biespecífico que possui longa duração e pode ser administrado de forma mais espaçada.
O emicizumabe foi incorporado ao SUS em 2019 para pacientes com inibidores do fator VIII que falharam na imunotolerância. Em 2023, a CONITEC recomendou sua ampliação para pacientes com hemofilia A moderada ou grave, sem restrição de faixa etária. Estamos aguardando a atualização do protocolo clínico para que o medicamento chegue aos pacientes.
Como a pesquisa e inovação atuam para tornar, de fato, o acesso à saúde mais democrático?
No Brasil, o esforço de P&D da Roche se traduz na condução de estudos clínicos em parceria com centros locais independentes, que dão, de certa forma, acesso a medicamentos inovadores e que representam uma saída para muitas doenças desafiadoras. Ter nossos estudos no Brasil estimula o desenvolvimento da pesquisa clínica local, pois aporta conhecimento científico para o país, traz oportunidades de intercâmbio internacional entre pesquisadores e compartilhamento das práticas globais. Essa expertise contribui para que o Brasil seja cada vez mais considerado para condução de novos estudos e, consequentemente, termos mais representatividade do perfil brasileiro em pesquisas de novas terapias.
Apenas no último ano, investimos mais de R$540 milhões em pesquisa clínica no Brasil, um aumento de mais de 20% em relação a 2022. Trabalhamos em parceria com mais de 600 centros de pesquisa locais, desenvolvendo mais de 200 estudos, envolvendo mais de 1400 pacientes. Diferentes áreas terapêuticas foram investigadas, entre elas o câncer, doenças raras, doenças respiratórias e muitas áreas órfãs de tratamento específicos, como oftalmologia.
Qual a relevância do mercado brasileiro para a companhia? O que ele se difere de outros?
Tenho orgulho em dizer que o Brasil representa o 6º maior mercado para a Roche Farma globalmente (sem considerar os EUA); A relevância significativa para os negócios nos apresenta também mais oportunidades para atrair investimentos e projetos inovadores para a nossa nação. Tivemos um resultado positivo em 2023 e esperamos continuar crescendo em 2024, impulsionados pela ampliação de acesso aos nossos produtos inovadores.
Em 2023 a Roche ingressou no mercado de oftalmologia. Por que a escolha desta área e o que fez a marca ingressar por agora?
Como comentei, a Roche é comprometida em desenvolver soluções médicas para necessidades ainda não atendidas. Temos orgulho de contar com mais de 100 moléculas em desenvolvimento. O ano de 2023 foi marcado pela entrada da Roche no mercado de oftalmologia - área na qual investimos, nos últimos cinco anos, R$ 37 milhões em pesquisa clínica apenas aqui no Brasil.
Em julho, o faricimabe recebeu aprovação regulatória da Anvisa para o tratamento de Doença Macular Relacionada à Idade (DMRI) úmida e o Edema Macular Diabético (EMD). Essas duas doenças não contavam com inovações medicamentosas para o seu tratamento há mais de 10 anos. Ambas as condições podem acometer a mácula, uma região no fundo do olho, que é responsável pela formação da visão mais nítida e detalhada.
O mecanismo de ação de faricimabe permite que os pacientes recebam aplicações do medicamento com intervalo de até quatro meses, contra uma periodicidade de uso a cada um ou dois meses dos tratamentos atuais. Ou seja, o paciente poderá reduzir significativamente o número de procedimentos - injeções intravítreas - para realizar seu tratamento. Reduzir a carga deste tipo de tratamento é muito importante para conseguirmos maior adesão e melhores resultados.
Há planos de novos mercados? Quais são as inovações previstas para 2024?
Em 2024, nosso crescimento seguirá sustentado por nossas moléculas inovadoras. Trabalharemos para consolidar nossos lançamentos recentes no mercado, ao mesmo tempo em que ampliamos e aceleramos o acesso a terapias. Para este ano, esperamos obter aprovação regulatória para terapias voltadas ao tratamento da hemoglobinúria paroxística, mais conhecida como HPN - uma doença genética que aumenta o risco de trombose entre outros sintomas graves; e para a distrofia muscular de duchenne - a DMD - que também marcará a entrada da Roche no mercado de terapias avançadas (ou terapias gênicas) aqui no Brasil.
Na oncologia, buscamos ampliar a aprovação regulatória de uma molécula chamada alectinibe, voltada ao tratamento do câncer de pulmão com mutação no gene ALK. Já aprovada aqui no Brasil para a fase metastática da doença, esta medicação foi capaz de reduzir significativamente o risco de recorrência da doença ou morte em 76% (em comparação com quimioterapia à base de platina) no tratamento inicial deste tipo de câncer de pulmão. O tratamento em fase inicial nos permite ampliar as chances de cura da doença. No que se refere à ampliação de acesso, estamos comprometidos em submeter quatro de nossas inovações para análise. São elas:
- Satralizumabe, única solução medicamentosa subcutânea com aprovação regulatória para o tratamento de pacientes com neuromilete óptica (NMO) a partir de 12 anos;
- Emicizumabe, em uma expansão de incorporação para pacientes com hemofilia A grave, sem inibidores pediátricos.
- Crovalimabe para hemoglobinúria paroxística noturna (HPN);
- E, faricimabe, para Doença Macular Relacionado à Idade (DMRI) e Edema Macular Diabético (EMD)