Sustentabilidade: 5 perguntas para a ex-ministra Kátia Abreu
Em entrevista à revista Indústria Brasileira, a senadora Kátia Abreu (PP-TO) avalia os resultados da COP26 e as perspectivas em relação ao cumprimento dos compromissos ambientais assumidos pelo Brasil.
Para a senadora, a indústria brasileira contribui muito com o avanço do país na questão ambiental. (Foto: Reprodução/Agência CNI)
A senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) e representante do Senado Federal na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), conversou com a revista Indústria Brasileira sobre as expcetativas e os compromissos brasileiros de redução da emissão de gases poluentes. Confira a entrevista:
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual é a sua avaliação sobre os resultados da COP26?
KÁTIA ABREU - Acho que o Brasil fez um papel bonito. As entidades empresariais deram um show. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e o Ministério do Meio Ambiente cumpriram com seus papéis. Todos os atores estratégicos se manifestaram adequadamente em prol do Brasil, resultando em um discurso único. De tudo o que eu vi, posso garantir que a atuação brasileira no âmbito da Conferência consistiu em uma defesa contundente e muito pragmática do nosso país. Não houve espaço para paixões, brigas ou argumentos alterados. Agora, tirando essa parte, todo o resto foi negativo.
As nações ricas seguem não querendo dar dinheiro para compensar os países em desenvolvimento, que são os mais impactados pelas metas de redução das emissões, nem para financiar ações contra o aquecimento global. Também não querem reduzir rapidamente as suas emissões de dióxido de carbono nem estabelecer regras globais para o mercado de carbono. Fora isso, cada Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas resulta em mais exigências e cobranças por maior comprometimento para evitar que o aquecimento global ultrapasse a marca de 1,5 °C em relação ao século 19. A impressão que fica, a cada novo encontro, é de que apenas os países em desenvolvimento se esforçam, e são efetivamente cobrados, em relação a essa agenda.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual é a importância de avançarmos na pauta da sustentabilidade ambiental e viabilizarmos a bioeconomia no país?
KÁTIA ABREU - O Brasil só precisa acabar com o desmatamento ilegal, porque o resto nós já fazemos. Avançamos em todos os campos sem ninguém nos ajudar. Na agricultura, por exemplo, temos uma produção de baixo carbono, desenvolvida com tecnologias moderníssimas. O que precisamos é manter a produção crescente e com esse viés da sustentabilidade. Além disso, estamos avançando na instituição do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE), que é voluntário, mas também é o primeiro passo para que tenhamos um mercado regulado, com metas claras e bem definidas de redução para os grandes emissores.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Como a indústria pode contribuir com esse avanço?
KÁTIA ABREU - De forma prática, a indústria pode tentar reduzir as emissões de gases de efeito estufa, trocando sua matriz energética por uma mais sustentável. Não acredito que isso seja um problema para o nosso setor industrial, pois minha percepção é de que essa é uma questão já incorporada pelas indústrias nacionais, que têm contribuído muito com o avanço do país nessa questão ambiental.
Grande parte daquelas que são altamente poluentes têm ajustado o seu modo de produção, buscando alternativas menos poluentes e mais sustentáveis. A verdade é que o Brasil inteiro está incluído e sensibilizado para essa questão. Entre os empresários, há um amadurecimento muito grande. Eles participam ativamente das discussões ambientais e não se omitem.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Quais são as perspectivas em relação ao cumprimento dos compromissos ambientais assumidos pelo Brasil?
KÁTIA ABREU - Precisamos ter a compreensão de que somos nós mesmos os maiores beneficiados com o cumprimento dos compromissos de redução da emissão de gases poluentes e do desmatamento ilegal. Aliás, cumprir nossas metas beneficia exclusivamente o Brasil. Por exemplo, apenas para ficar na esfera do agronegócio, ao combatermos o desmatamento ilegal e reduzirmos as emissões, conseguiremos preservar a chuva, tão necessária para a manutenção da produção de alimentos em todo o nosso território.
REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Qual é a participação do Brasil no atual quadro de mudanças climáticas?
KÁTIA ABREU - O Brasil virou o alvo preferencial do mundo quando a questão é a preservação ambiental, mas a verdade é que a mudança climática ocorrida no planeta até este momento é de responsabilidade dos europeus e dos norte-americanos. A nossa contribuição no aquecimento global registrado até agora é insignificante. Não representamos nada, o que não significa que não tenhamos de fazer a nossa parte.
Agora, se formos avaliar os 170 anos transcorridos desde a Revolução Industrial, o resultado não deixa dúvida: os Estados Unidos e a Europa foram os grandes emissores de gases poluentes e os grandes beneficiários de um modelo nada sustentável de desenvolvimento. Nós somos credores, e eles precisam ajudar os países em desenvolvimento, que, agora, não poderão fazer o que eles fizeram lá atrás. Basta ver que, nesses países, a renda per capita da população é de 45 mil dólares, enquanto a nossa é de 13 mil dólares. Não é justo que paguemos a conta sozinhos.
Fonte: Agência CNI de Notícias