Os perigos da poluição oceânica para a saúde
Estudo norte-americano aponta a liberação de mercúrio, esgoto, óleo diesel e químicos agrícolas como grandes vilões da poluição e seus riscos ao ser humano.
Estudo aponta a liberação de mercúrio, esgoto, óleo diesel e químicos. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
A poluição nos oceanos é um dos grandes problemas ambientais da atualidade. As águas, que compõem 70% do planeta, estão cheias de compostos líquidos, pastosos ou sólidos que contaminam os mares. Essa contaminação, que tende a triplicar até 2040, é prejudicial a nossa saúde e pode levar a problemas intestinais, neurológicos e cânceres.
Tentando entender essa correlação, pesquisadores norte-americanos da universidade Boston College utilizaram dados da poluição nos oceanos e de 584 pesquisas feitas ao redor do mundo.
“O oceano é particularmente importante para a saúde e bem-estar de pequenas ilhas, populações costeiras e indígenas, especialmente no Hemisfério Sul. Esses grupos dependem das águas para sobreviver, e são eles que estão sendo mais ameaçados por conta da poluição”, explica Phil Landrigan, diretor do Observatório Global sobre Poluição e Saúde, docente da Boston College e autor da pesquisa.
Entre os dados coletados pelo estudo estão:
- Poluição por plásticos, metais tóxicos (como o mercúrio), químicos, esgotos e pesticidas estão matando e contaminando frutos-do-mar que alimentam três bilhões de pessoas ao redor do planeta;
- Contaminação nas regiões costeiras espalham diversas bactérias, como o vibrião (que pode ser o causador de diversas doenças, como a cólera);
- Derramamento de óleo e químicos no oceano ameaçam micro-organismos que vivem na água e são os grandes produtores de oxigênio.
“Poluição em rios pode ter as mesmas consequências que nos mares, só que em escala menor. No Brasil, por exemplo, que é um país com muitos rios, pesquisas já mostraram que os mesmos efeitos que observamos nas populações costeiras de oceanos também ocorreram em crianças ou pessoas que consumiram peixes contaminados”, conta Landrigan
Além das informações principais, os investigadores descobriram que:
- Antes restrita a rios, a concentração de mercúrio começou a se espalhar pelos oceanos, colocando em risco a vida de mais pessoas;
- A poluição nas costas aumenta o bloom de algas (proliferação de microalgas ou cianobactérias que são nocivas ao ambiente e ao ecossistema. Muitas vezes contaminam peixes que entram na cadeia alimentar do ser humano e podendo infectá-lo com toxinas que levam a casos de demência, amnésia entre outras);
- Mais de 10 milhões de toneladas de plásticos entram nos oceanos todo ano, matando peixes, aves e outros animais. Além disso, durante a sua decomposição, são eliminadas algumas toxinas que contaminam frutos-do-mar e posteriormente os seres humanos “virtualmente, é capaz de todos nós termos pequenas partículas de plástico no nosso corpo”, afirma o pesquisador;
- As águas mais afetadas pela poluição são, proporcionalmente, os mares Mediterrâneo e Báltico, e os rios da Ásia.
Poluição pode triplicar até 2040
Os problemas apontados pelos pesquisadores norte-americanos podem piorar nos próximos anos, ainda mais que as projeções são bem negativas para o futuro. De acordo com o estudo da ONG The Pew Charitable Trusts, se nenhuma ação for tomada para controle da poluição, o número de produtos de plásticos no oceano aumentará, nos próximos 20 anos, de 11 milhões de toneladas por ano para 29 milhões, e chegará a 600 milhões de toneladas à deriva nos oceanos.
Também segundo pesquisa da ONG Associação Internacional de Resíduos Sólidos, a pandemia ajudou no aumento de produtos plásticos jogados no oceano. Máscaras e luvas de látex são os materiais que mais estão sendo descartados nas águas. Foi observado ainda que, nos aterros sanitários e lixões, embalagens plásticas, geralmente provenientes de entregas em domicílio, estão se amontoando.
O que pode ser feito para melhorar a situação dos oceanos?
“Ao final da conferência em Mônaco (onde foi divulgado a pesquisa), elencamos algumas ações que os governos podem tomar que devem ajudar no combate à poluição”, lista o pesquisador.
- Trocar energias fósseis para renováveis (eólica, solar);
- Prevenir e controlar a liberação de mercúrio no ar ou na água;
- Reduzir a produção de plástico e banir produtos plásticos do mercado (como os canudinhos);
- Promover a boa gestão do lixo e a reciclagem;
- Reduzir a liberação de nitrogênio e fósforo no solo;
- Eliminar o escoamento de esgoto no oceano;
- Aumentar o controle marinho contra a poluição.
(Fonte: Agência Einstein)