Debate sobre o poder da agricultura do Brasil e os desafios do setor no pós-pandemia marcam o 9º Fórum LIDE de Agronegócios
Evento foi realizado em formato híbrido e reuniu lideranças dos setores público e privado do agronegócio brasileiro.
De maneira híbrida, fórum debateu agenda do setor. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
O tema central Agronegócio: agenda estratégica, do 9º Fórum LIDE de Agronegócios, provocou a discussão sobre novos mercados, segurança jurídica, abertura comercial, tecnologia, meio ambiente, reforma tributária, infraestrutura e imagem do agro brasileiro. Realizado nesta sexta-feira (23), em São Paulo, em formato híbrido, com transmissão ao vivo pelas plataformas do LIDE Digital, o fórum reuniu líderes do agronegócio, entre autoridades, empresários e especialistas.
Na abertura do fórum, estiveram presentes importantes autoridades, como o secretário estadual da Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Gustavo Junqueira; Luiz Fernando Furlan, chairman do LIDE; Celia Pompeia, vice-presidente executiva do Grupo Doria; Roberto Rodrigues, embaixador especial da FAO para o Cooperativismo e ex-ministro da Agricultura; e Mônika Bergamaschi, presidente do LIDE Agronegócios.
Mônika Bergamaschi, curadora do evento, defendeu as inovações. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
O debate de abertura reforçou a questão da boa performance do Agro durante a pandemia da Covid-19 e quais os desafios a serem encarados daqui para frente. Mônika Bergamaschi afirmou que a pandemia do novo coronavírus vem alterando a dinâmica dos países, o que impõe um olhar atento às oportunidades e ameaças e à necessidade de inovação.
“Tivemos alavancagem do agro brasileiro que mostrou ótimo desempenho e resiliência. O fruto será mais desafiador: expandir mercados, aumentar investimentos em logística, ampliar a competitividade e melhorar nossa imagem, ou melhor, a percepção sobre o agro num cenário que predomina a desinformação. Novo vai ter de ser o jeito de encarar essa agenda estratégica”, concluiu.
Celia Pompeia ratificou essa visão e acrescentou que por este motivo, qualquer fato que acontece com o agro se torna expoente.
Ainda na abertura, as lideranças destacaram a agricultura brasileira como pujante e fundamental para o desenvolvimento do País. De acordo Luiz Furlan, 2020 será o melhor ano do agro na história brasileira, mas alguns problemas pontuais estão prejudicando a imagem do setor.
“Estamos vendo colheita recorde, isso não afetou a demanda. Temos, em reais, preço extraordinário para todos os produtos por setores agrícolas. A condições de crédito melhoraram. Até problemas estruturais gravíssimos, como a logística, evoluíram. Tudo são flores? Não. Principalmente a questão da imagem o Brasil em relação ao Meio Ambiente e à Amazônia que está arranhada e não conseguimos reverter”.
Celia Pompeia, vice-presidente Executiva do Grupo Doria. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Planejamento de agenda estratégica
Por todos esses fatores expostos, o secretário Gustavo Junqueira defendeu o planejamento de uma agenda estratégica do agro, tanto paulista quanto brasileira, como peça-chave para o fortalecimento do setor e a união dos empresários para melhorar o conceito sobre do agro em diferentes públicos.
“O agro tem grande potencial. Se impõe ao mundo como uma solução para a segurança alimentar mundial. A pandemia mostrou que podemos ser confiados e saímos em 2020, muito mais fortes que entramos. Temos de trabalhar na gestão do nosso sucesso. Temos de construir uma nova dinâmica, que chamo de diplomacia do agro. Não será na forma, no aumento de produção, mas em negociarmos o nosso espaço. O agro brasileiro é fruto do poder da determinação do empresário. É privado, não governamental. Isso precisa ser muito claro. Portanto, a diplomacia do agro, a construção da imagem, não é apenas uma propaganda. Precisa ser construída desde o produtor rural, até o supermercado e os consumidores”.
Ele destacou, ainda, duas palavras importantes neste momento. “CARE AND TRUST em inglês. Essa deve ser a marca do Brasil”.
Gustavo Junqueira: agenda estratégica do agro é uma peça chave. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
O primeiro painel discutiu a Segurança dos Alimentos no Mercado Interno e Externo, com Victor do Prado, diretor do Conselho e do Comitê de Negociações Internacionais da Organização Mundial do Comércio (OMC); Marco Jank, professor sênior de Agronegócio Global do Insper e titular da Cátedra Luiz de Queiróz da Esalq-USP 2019; e Alexandre Mendonça de Barros, sócio-consultor da MB Agro. Victor enfatizou que a pandemia está longe de acabar e que a segurança alimentar é uma preocupação presente, porque nem todos têm o que comer. Mendonça de Barros lembrou que vivemos uma crise sanitária e, historicamente, todas elas nasceram dos alimentos, da aproximação com animais. E alertou:
“A China nunca mais será a mesma. Terá um padrão sanitário mais elevado. Seremos desafiados a dar respostas diante de um aumento de produção”.
Marcos Jank recordou que, ao contrário do que se esperava no início da crise, não houve rompimento das cadeias produtivas, nem desabastecimento.
“O que tivemos foi uma guerra comercial EUA x China que mandou produtos para o nosso lado. O agro não pode reclamar da China, que é o país que mais comprou até agora. Aumentamos muito a venda para o país. Existe possibilidade de construirmos mercado forte de carnes com a china e ainda soja e milho. Tudo isso é uma oportunidade para o Brasil, mais do que uma ameaça. Temos diversificação de destinos, mas não de produtos, o que nos deixa dependentes de alguns. O que mais me assusta é uma crise inflacionária e uma bronca da população com o setor. Precisamos de uma política muito estratégica, partir para diplomacia mais intensa. Estamos tomando tiro pela nossa imagem, pela nossa sanidade, que ao invés de ser reconhecida é atacada”, concluiu.
Marcos Jank: pandemia mudou as paradigmias. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Segurança Jurídica no Agro foi o tema do segundo painel, com participação om Roberto Brant, presidente do Instituto CNA; e Ives Gandra Martins, jurista. Gandra afirmou que o STF não conseguiu até hoje dar segurança jurídica em conceitos da constituição de 1967 e teme que as PECs que estão em tramitação no Congresso Nacional não resolvam a questão tributária, pelo contrário, acredita que podem manter toda a complexidade do sistema atual com agregando alguns fatores novos.
“Por isso, a proposta que tenho debatido com deputados e senadores é fazer por enquanto simplificação do que está aí por legislação ordinária”.
Roberto Brandt também mostrou preocupação como os rumos da reforma tributária da forma que está sendo proposta pelas PECs.
“Se isso for aprovado como está vai incentivar a informalidade. Uma reforma de tal magnitude hoje é inconveniente. A tributação pode derreter o patrimônio do agricultor. A CNA tem tentado fazer emendas, mas o sistema é fechado. Não estou vendo ninguém reagir quanto a isso no agro. A Frente Parlamentar do Agronegócio não tem meios para impor uma solução, mas pode impedir uma reforma constitucional”.
Roberto Brant: mudança infraconstitucional pode eliminar entraves. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
O painel três tratou da Infraestrutura para o Agro Brasileiro com apresentações de André Santin, diretor LATAM de Agronegócios da Sices Solar; e Marcos Penido, secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo; e players do setor.
“O gás é a energia de transição. Temos 25 anos de oportunidade de usar o gás. Ele traz benefícios e ganhos para a indústria. Temos um processo de concessão, lei de mercado livre e estamos investindo em estímulos para termos um terminal de GNL e independência na compra da molécula. O GNL vem para termos concorrência e preço competitivo para a indústria”, disse Penido, ao defender o equilíbrio da matriz energética.
Marcos Penido defendeu o equilíbrio da matriz energética. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
No último painel, A Imagem do agro, Camila Telles, empresária e defensora do agro; Marcos Fava Neves, professor titular da FEA/USP; e Jacyr Costa Filho, diretor para a Região Brasil da Tereos. Os destaques foram a comunicação e imagem do agronegócio interna e externamente, principalmente nas redes sociais, que têm grande impacto nas novas gerações. Todos concordaram que o agronegócio não pode ser vendido como vilão e que é preciso união e planejamento para vencer a guerra de narrativas em torno do Agro.
“Temos que lutar contra a desinformação com uma linguagem simples e de fácil compreensão. Quero ser a galinha pintadinha do agro. Meu papel como jovem, produtora rural e comunicadora é ajudar a mudar isso. Para que as pessoas compreendam o setor”, afirmou Camila.
Marcos Fava Neves: protagonismo do agro brasileiro no mundo. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Marcos Fava Neves defendeu um plano de comunicação para atuar em alguns pontos que provocam crise de imagem em púbicos diferentes. “Boa parte do nosso problema de imagem internacional nós mesmos que criamos! Precisamos reagir a isso!”.
Jacyr Costa Filho, trouxe a importância do Renovabio, que premia quem descarboniza, quem não polui. Também enfatizou a importância da cadeia produtiva do setor sucroenergético que coloca o Brasil como referência em fontes de energias renováveis.
João Doria Neto, diretor-executivo do Grupo Doria, abre o evento. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Camila Telles: discurso do agro deve ser assertivo. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Evento foi realizado em formato híbrido e reuniu lideranças. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)