Nova ferramenta para mapear surtos infecciosos pode ajudar no controle do avanço de epidemias

O programa permite a análise de dados de uma forma mais visual e acessível, facilitando a tomada de decisões, diz Helder Nakaya.

covid-virus-3d-modelingModelo foi desenvolvido com base em dados sobre uma epidemia de sarampo em Manaus. (Foto: Freepik)

Pesquisadores do Instituto Pasteur de São Paulo (IPSP) criam ferramenta para mapear surtos e auxiliar no combate de doenças infecciosas, desenvolvida com base em dados sobre uma epidemia de sarampo em Manaus. O modelo mostrou que a compreensão da propagação espacial e temporal dos surtos de sarampo pode fornecer informações importantes para a tomada de decisões, podendo, inclusive, mitigar futuras epidemias.

De acordo com o professor Helder Nakaya, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade de São Paulo e pesquisador principal do IPSP, que coordenou o estudo, a ferramenta “é aberta, totalmente disponível” e tem por objetivo justamente ajudar os gestores de políticas públicas. “Inclusive, depois que publicamos o trabalho, pessoas do governo vieram conversar conosco para saber como poderíamos fornecer essas ferramentas para eles”, complementa.

A pesquisa, na verdade, surgiu de uma verba da Bill & Melinda Gates Foundation para estudar a transmissão de malária. “Com isso, começamos a ver essas ferramentas epidemiológicas que poderiam ser usadas por gestores, que fossem mais fáceis de visualizar uma epidemia acontecendo. E aí, quando teve o surto de sarampo em 2018 em Manaus, decidimos colocar a expertise de criar essas ferramentas para o sarampo”, conta Nakaya.

O que eles fizeram foi desenvolver uma maneira mais visual de analisar os casos e como uma epidemia pode estar se desenvolvendo. A partir disso, o intuito é “disponibilizar isso para as pessoas que iam tomar decisões. Então você vê onde estão acontecendo os casos e quando está acontecendo. A ideia foi justamente facilitar para o momento de estresse como esse, de uma epidemia acontecendo”. Tendo os surtos mapeados de uma maneira mais acessível e compreensível, os gestores e tomadores de decisão podem concentrar campanhas ou reforçar hospitais, por exemplo, a partir dessa ferramenta.

O sarampo, que foi o caso em que o programa foi criado, é uma doença extremamente contagiosa e demonstrou a importância de se agir rapidamente e com assertividade. “Quando um caso acontece, se a população estiver suscetível, ou seja, se tiver uma baixa cobertura vacinal, aquele vírus vai se espalhar. Se não agir de forma bem rápida logo no começo, perde-se o controle. Foi mais ou menos o que aconteceu em Manaus”, comenta o professor.

No caso desse surto, a ferramenta ainda estava sendo desenvolvida e não pôde demonstrar seu potencial, mas a ideia é que ela seja uma ótima ajuda para problemas futuros. “Quando uma pessoa está com sintomas, está acontecendo um surto, existe uma notificação que os profissionais de saúde têm que mandar, que diz não só os sintomas e os resultados de exames, ou os resultados de exames de diagnóstico clínico, mas também diz onde que ela mora, por exemplo.”

Pelo cadastramento dos CEPs, e com isso a construção de uma base de dados espacial e visual, é possível agir e prevenir epidemias. A importância de estudar o avanço de uma doença espacialmente é explicada pelo professor: “Nós conseguíamos ver, por exemplo, que uma pessoa de um CEP era notificada com sarampo e, depois de alguns dias, uma outra pessoa do mesmo CEP era notificada”. O efeito é de uma corrente de infecção, e que demonstrava “claramente a importância da vacina”.

Aí que a ferramenta também entra em ação: “O que era difícil para o governo era saber quem estava vacinado, a cobertura vacinal, porque, até então, naquela época, em 2018, o PNI (Programa Nacional de Imunizações) não gravava esse banco de dados. Então, ficava a informação em cadernetas de vacinação”. A solução é que o mapeamento mostre tanto o apontamento de casos quanto a taxa de vacinação por região, apontando pontos fracos e de potenciais populações suscetíveis à proliferação.