Ativos intangíveis predominam no legado das empresas familiares no Brasil
Legado de uma empresa familiar é fonte de identidade e inspiração, mas também pode ser um obstáculo quando está tão enraizado na tradição que impede a inovação.
Legado de uma empresa familiar é fonte de identidade e inspiração, mas também pode ser um obstáculo quando está tão enraizado na tradição que impede a inovação. (Foto: Freepik)
A incorporação do legado atingiu um índice de 79% nos negócios familiares das empresas brasileiras, dividido em quatro principais componentes: biológico (23%), social (23%), material (16%), e de identidade (15%). Os dois primeiros subitens são ativos intangíveis, enquanto o terceiro é tangível. Além disso, também é elevada a pontuação (76%) das organizações que incorporam o empreendedorismo transgeracional em suas operações, dividida em: relacionamentos familiares (26%), empreendedorismo familiar (26%) e futuras gerações (24%).
Essas são algumas das conclusões da pesquisa “Desvendando o legado das empresas familiares: o equilíbrio entre tradição e inovação para o sucesso duradouro”, conduzida com 51 líderes de empresas familiares no Brasil. Ficou evidente também que o legado de uma empresa familiar é fonte de identidade e inspiração, mas também pode ser um obstáculo quando está tão enraizado na tradição que impede a inovação. A publicação do STEP Project Global Consortium e da KPMG Private Enterprise analisa prós e contras do legado em empresas familiares e o impacto que ele pode ter no desempenho empresarial.
O conteúdo revelou ainda o grau de maturidade em sustentabilidade das empresas (79%), direcionado para quatro elementos: meio ambiente (26%), funcionários (21%), fornecedores (19%) e comunidade (12%). Uma série de perguntas também foi feita aos respondentes para determinar a percepção sobre o desempenho geral dos negócios, com índice de 77% considerando sete características: crescimento, participação de mercado, funcionários, rentabilidade, retorno sobre o patrimônio líquido, retorno sobre ativos e margem de lucro.
Entre outros insights, a pesquisa destacou também a importância do legado das empresas familiares para moldar a visão de futuro e as decisões estratégicas, impulsionando o desempenho empresarial sustentável e o empreendedorismo transgeracional. “O legado de um negócio familiar é tão único quanto a própria família. Para alguns, é uma forma de honrar a herança da empresa, preservar suas tradições e proteger a reputação do negócio que, em muitos casos, leva o nome da família. Para outros, o legado é importante para o sucesso futuro, com a resiliência, o espírito empreendedor e as conquistas das gerações anteriores constituindo uma base sólida. O legado de uma empresa familiar impacta diretamente no desempenho do negócio”, afirma Carolina de Oliveira, sócia-líder de Private Enterprise da KPMG no Brasil e na América do Sul.
A publicação também identificou as principais características de empresas familiares que impactam a força de seus legados, incluindo: número de gerações que lideraram o negócio; idade; tempo de permanência e gênero da liderança; se o CEO é ou não um membro da família. O conteúdo estabelece que legado é uma combinação única de ativos tangíveis e intangíveis em negócios familiares. É reconhecido por seu papel em sustentar o poder regenerativo da família e o empreendedorismo transgeracional.
Além disso, na amostra Brasil, sobre o gênero da pessoa no cargo de CEO, 26% são mulheres (contra 17% da média global) e 74% são homens (contra 83% da média global). Em relação à idade do negócio, a média é 40 anos no Brasil e 42 anos na amostra global. Sobre o percentual de ações da empresa de propriedade da família, os números são: no Brasil 89% não pertencem à família (contra 12% da amostra global) e 11% pertencem à família (contra 88% da amostra global). Os negócios com conselho de administração formal também são bem distintos: no Brasil 31% responderam que sim (contra 61% da amostra global) e 69% disseram que não (contra 39% da amostra global).
“A combinação dos laços familiares com a capacidade empreendedora cria um fator potente que molda o sucesso do negócio ao longo das gerações. Há uma ligação consistente entre legado e empreendedorismo transgeracional na orientação das decisões estratégicas das empresas familiares e o impacto que elas exercem sobre o desempenho empresarial e a sustentabilidade de longo prazo”, complementa Carolina de Oliveira, da KPMG.
A publicação reúne histórias, experiências, perspectivas e desafios na construção do legado como ativo duradouro. O conteúdo destacou ainda a relevância dos seguintes elementos: legados contribuem para o patrimônio socioemocional das famílias; legados conectam o presente e o futuro; legados podem ser essenciais para o crescimento no longo prazo; legado e empreendedorismo transgeracional podem impactar desempenho; o legado da família influencia decisões importantes; equilíbrio entre tradição e inovação; reconhecimento e enfrentamento do paradoxo do legado; necessidade das empresas avaliarem a força de seus legados e do empreendedorismo transgeracional.
Além da versão completa, realizada com 2.683 respondentes de 80 países, territórios e regiões, foram lançados dois recortes regionais: um específico para o Brasil e um sul-americano. Participaram da pesquisa 503 líderes de empresas familiares sul-americanas, dos quais 10% são brasileiros. Também participaram peruanos (8%), colombianos (16%), argentinos (20%), equatorianos (20%) e venezuelanos (26%). Vale enfatizar que os três recortes possuem uma visão abrangente sobre o tema.
Há pontos nos quais todos os recortes se alinham. Por exemplo, na constatação de que os legados contribuem para o patrimônio socioemocional das famílias, alimentando conexões profundas com a história familiar e gerando um sentimento de orgulho e dedicação ao negócio. Além de unir gerações, o legado molda a visão e as decisões estratégicas para o futuro, impulsionando o desempenho empresarial sustentável. Empresas familiares com alto sucesso financeiro geralmente têm fortes pontuações de legado e empreendedorismo transgeracional.