"Voltamos a patamares de 15 anos atrás, mas já temos sinalização de melhora para o futuro", afirma Sergio Leite
Indústria siderúrgica brasileira se prepara para um ambiente mais próspero, mas olha com atenção cenário internacional.
Sergio Leite, presidente da Usiminas, acredita em a recuperação em 2021 será acelerada. (Foto: Divulgação)
A indústria do aço está mais confiante. Pelo menos é esse o resultado do Índice de Confiança da Indústria do Aço, o ICIA, de agosto levantado pelo Instituto Aço Brasil, que representa o setor no país. O índice saltou 8 pontos frente a julho e chegou a 70.8 pontos. O presidente-executivo do Instituto, Marco Polo de Mello Lopes, diz que o aumento da confiança dos CEO´s do mercado ocorreu pelo segundo mês seguido e isso significa uma melhoria da percepção sobre a situação atual. “Com esse resultado, o ICIA está em patamares pré-pandemia – em fevereiro a pontuação era de 7.2 – e atingiu o segundo melhor nível desde a série histórica iniciada em 2019”, analisa Mello.
Os dados mais atuais do Instituto confirmam a trajetória de recuperação do mercado interno. A produção aumentou 21,2% em julho na comparação com junho e as vendas internas cresceram 9,1%. Já o consumo aparente teve alta de 5%. Porém, mesmo com o cenário mais positivo, Mello alerta para a baixa utilização da capacidade instalada das fábricas que está em apenas 60,5%. “As exportações poderiam ajudar a reduzir essa ociosidade, mas não é isso o que está ocorrendo”, comenta. Levantamento do próprio Instituto Aço Brasil mostra que os embarques do produto para outros países caíram 18,6% devido às condições adversas do mercado internacional. Essas nações têm hoje um excesso de capacidade acima de 400 milhões de toneladas e isso leva a uma escalada protecionista.
Na visão de Mello essa situação não é nada boa para o Brasil. O executivo avalia que o incremento das exportações – necessário para reduzir a ociosidade – passa pela melhoria da competitividade, além de ser necessária a recomposição urgente do Reintegra. “Hoje está em 0,1% e precisa ser elevado para 3%. Isso permitiria o ressarcimento parcial dos resíduos tributários até que a reforma em discussão no Congresso Nacional seja aprovada e acumulatividade dos impostos no sistema atual seja eliminada”, diz.
Empresas estão otimistas
Uma das principais empresas do setor siderúrgico, a Usiminas, já enxerga um movimento de recuperação gradual da atividade industrial após os impactos mais severos trazidos pela pandemia do novo coronavírus.
“A visão do setor é que a fase mais aguda, vivenciada em abril, foi superada. Para o próximo ano, esperamos que a recuperação se acelere”, indica Sergio Leite, presidente da Usiminas.
Leite diz que está em linha com as perspectivas do Instituto Aço Brasil que mostram queda menor do setor do que a esperada inicialmente.
“No início da pandemia, os dados indicavam uma retração de 20% no consumo aparente e, hoje, espera-se uma queda de 14%. Ainda é uma perda significativa, voltamos a patamares de 15 anos atrás, mas já temos sinalização de melhora para o futuro”, comenta.
Já para 2021, a expectativa é a volta do crescimento do PIB, que traz potencial para aumento no consumo de aço e reflexos positivos para a Usiminas. “De maneira geral, seguimos otimistas”, garante.
Como parte das medidas de adequação ao cenário da pandemia, a Usiminas havia adotado suspensão das atividades de dois alto-fornos da Usina de Ipatinga. Com a retomada do Alto-Forno 1 em agosto, apenas o Alto-Forno 2 permanece com as operações temporariamente suspensas.
“Agora, seguimos avaliando diariamente os movimentos do mercado e as previsões dos diversos setores para o restante do ano, de forma a continuarmos nos preparando para dar respostas rápidas e nos padrões de qualidade que adotamos a essa retomada gradual da economia do país, que, na minha avaliação, deve se acelerar a partir desse segundo semestre. A expectativa, de qualquer forma, é podermos retomar, também, as operações do Alto-Forno 2”, explica o presidente.
O foco da Usiminas é o mercado interno, que tradicionalmente tem uma participação entre 80% e 90% nas vendas da empresa. Esse cenário se manteve ao longo do primeiro semestre do ano. Ainda assim, a Usiminas está atenta às oportunidades de negócios que se apresentam. “Durante o período mais agudo da crise, por exemplo, com uma maior disponibilidade de produtos revestidos devido à queda de consumo no setor automotivo local, tivemos sucesso em negócios adicionais de exportações não tradicionais. Não houve um reflexo na quantidade de exportações no período, mas sim no mix de produtos, com os aços revestidos passando 20% a 40% do total exportado”, conta Leite. A empresa também teve alterações nos destinos dos embarques, com aumento de exportações para Estados Unidos e Ásia, substituindo volumes para Europa e Argentina.
Indústria siderúrgica brasileira se prepara para um ambiente mais próspero. (Foto: Reprodução)
Gustavo Werneck, CEO da Gerdau destaca que a retomada dos principais setores para os quais a companhia fornece já acontece neste ano de 2020, e enxerga 2021 como um ano de continuidade dessa retomada.
“No momento estamos com nossas plantas produtoras de aço operando em níveis pré-crise”, revela. Como estratégia de longo prazo da empresa, a Gerdau reforçará, nos próximos anos, sua posição na cadeia de valor de aço nas Américas, especialmente por meio de investimentos na competitividade de seus ativos atuais. “Eventualmente estaremos abertos para fusões e aquisições em mercados nicho para a empresa”, comenta.
A empresa está confiante na continuidade da recuperação da demanda de aço no Brasil, especialmente nos segmentos de construção residencial e varejo da construção. “Projetamos também uma retomada dos projetos de infraestrutura e da produção de veículos leves e pesados. Outros setores importantes para o mercado de aço, que vemos com otimismo, são o agronegócio e o de geração e transmissão de energia”, diz Werneck.
A demanda de aço no mercado externo tem crescido nos últimos meses o que, ajudada pelos efeitos cambiais, tem permitido a Gerdau capturar oportunidades de exportação especialmente para a América Latina e Ásia.
“Porém, um crescimento mais robusto das exportações só ocorrerá com a solução de assimetrias competitivas importantes que atrapalham o desempenho das empresas brasileiras exportadoras, especialmente aquelas relacionadas a questões tributárias”, finaliza.