"Estruturamos um laboratório interno de pesquisas na Nestlé no Brasil, o C-lab, que consegue ter a mão no pulso do consumidor", afirma Frank Pflaumer
Puxados pelo novo comportamento do consumidor, conceitos como alimentação hiperlocal, clean label e rastreabilidade são cada vez mais valorizados.
Frank Pflaumer: Nestlé estruturou um laboratório de pesquisas. (Foto: Divulgação)
A preocupação com a longevidade e o entendimento que ela passa pelo consumo de alimentos saudáveis, vêm mudando o relacionamento do consumidor com as marcas. Como reflexo da pandemia, momento no qual muitas pessoas ficaram em casa e passaram a preparar suas próprias refeições, abriu-se uma oportunidade para o crescimento do consumo de alimentos orgânicos, por exemplo.
Segundo dados da Organis, apesar da crise econômica no país, o setor ampliou as vendas em mais de 50% no varejo, além de triplicar a produção devido à grande demanda no primeiro semestre de 2020. Número também impulsionado pelo e-commerce e o serviço de delivery. Já em pesquisa feita pela Associação Paulista de Supermercados (APAS), em parceria com a revista Super Varejo, 39% dos consumidores, no ano passado, compraram pelo menos um produto orgânico. Esse número é 9% maior em comparação ao registrado em 2016, mostrando que a tendência da saudabilidade, que se refere à mudança de hábitos alimentares e busca por mais qualidade de vida, saúde e um melhor funcionamento do organismo, para o mercado e para grande parte das marcas, já é realidade há um bom tempo.
O cenário é oportuno e tende a crescer, já que o consumidor de hoje está atento e seletivo ao que cada alimento pode trazer de benefício para sua saúde e longevidade, como enfatiza um dos idealizadores e fundadores do Open Food Innovation Summit, Matheus Von Mühlen. “O consumidor começou a entender que as grandes corporações que antes usavam a tecnologia para fornecer alimentos em grande escala, como os ultraprocessados, hoje desenvolvem pesquisas para viabilizar produtos sustentáveis e nutritivos”, destaca.
Investimentos
Marcelo Suárez, diretor de marketing da BRF, afirma que nos últimos anos, houve um crescimento de consumidores que optaram por alimentos diferenciados e de origem vegetal, vegana e orgânica.
“A entrada da Sadia nesses segmentos não se deu à toa e vai ao encontro de objetivos da marca, que conquistou a confiança do público por meio de atributos que são valorizados até hoje, como qualidade superior, sabor, praticidade e o uso de ingredientes selecionados”, explica.
Com lançamentos neste ano das linhas Sadia Veg&Tal e Sadia Bio, que leva o selo internacional Certified Humane, uma das certificações mais importantes do mundo no quesito de bem-estar animal, o diretor de marketing pontua o investimento necessário para que essa entrega seja feita ao consumidor.
“Os critérios a serem seguidos são rigorosos. Todos os frangos têm acesso ao campo e podem circular com maior liberdade, recebem uma alimentação 100% vegetal e orgânica, com todos os cuidados das melhores práticas de bem-estar animal. Como maior exportadora global de frango do mundo, presente em mais de 130 países e dona de marcas como Sadia, Perdigão e Qualy, reunimos capacidade, qualidade e inovação para atender este segmento e corresponder às expectativas desse consumidor”, contextualiza Suárez, não deixando de reforçar os esforços de inovação.
“Essa cultura tem sido aprimorada cada vez mais com processos ágeis, escuta apurada que tem o consumidor no centro e que visa entender e atender aquilo que o cliente quer, espera, anseia, deseja. Isso contempla todas as nossas linhas, sejam elas neste segmento ou não”, completa.
Centro de Inovação e Tecnologia, dentro do Parque Tecnológico São José dos Campos. (Foto: Reprodução)
Com o recém-inaugurado Centro de Inovação e Tecnologia, dentro do Parque Tecnológico São José dos Campos, a Nestlé reforça o seu trabalho de impulsionar a transformação digital e o conceito de indústria 4.0 nas suas operações.
“Estruturamos um laboratório interno de pesquisas na Nestlé no Brasil, o C-lab, que consegue ter a mão no pulso do consumidor e nos apresentar agilmente informações sobre como ele tem se comportado nesse momento sensível. O que esses dados nos mostram é que o consumidor tem mesclado itens saudáveis com produtos mais indulgentes na cesta de compras, o que demonstra um olhar para os benefícios da alimentação para a saúde e a busca por produtos que tragam conforto nesse cenário”, explica Frank Pflaumer, vice-presidente de comunicação e marketing da companhia.
O executivo apontou outro estudo do C-Lab, mostrando que 65% dos consumidores estavam preocupados em fortalecer seu sistema imunológico e 83% dos entrevistados pretendiam manter esse hábito no futuro.
Na jornada de inovação, a Nestlé, se antecipou às tendências que hoje estão consolidadas na rotina do consumidor.
“Se olhamos apenas para os últimos anos, foram investidos mais de R$ 400 milhões nesse sentido. O valor engloba uma forte ampliação do portfólio de produtos orgânicos e plant-based, contidos nos lançamentos de Ninho e Molico. Outra tendência forte é a busca produtos por clean label, ou seja, com a lista de ingredientes simplificada, contendo somente itens que o consumidor conhece. Nesse sentido acabamos de lançar Nescau Orgânico, feito com apenas três ingredientes, leite, cacau, açúcar demerara e nada mais”, pontua o vice-presidente de comunicação e marketing, reforçando ainda a postura do consumidor, cada vez mais consciente e informado, esperando das marcas uma postura muito mais verdadeira, o que inclui o clean label, rastreabilidade, sustentabilidade e menor geração de resíduos.
Energia para crescer
Uma empresa jovem, com apenas seis anos de mercado, a Natural One prova como vivemos um ambiente propício e oportuno para o segmento. A companhia 100% brasileira, conta com parceiros de tecnologia na Europa, Estados Unidos e Japão, na produção de bebidas sem adição de açúcar ou conservantes, com blends especiais que destacam e preservam os sabores naturais das frutas.
“Quando nos referimos à saudabilidade, falamos do líquido, mas também da embalagem e dos processos produtivos que levaram aquele produto até a mesa de cada cliente. Claro que o momento como este que estamos vivendo, em que saúde passou a ser uma prioridade indiscutível, isso acaba tendo reflexo na hora da compra e das escolhas dos produtos por parte do consumidor”, acentua Rafael Ivanisk, CEO da Natural One.
Sobre os dados de crescimento no período da pandemia, acrescenta: “identificamos uma grande busca por nossos produtos, principalmente nos meses de abril e maio, quando tivemos um crescimento de 100% na comparação com o ano anterior. No caso de exportação, o aumento do dólar acabou sendo um fator favorável e a nossa demanda cresceu quatro vezes”.
Para France Louredo, diretor comercial da Brasil Frutt – fábrica de frutas secas e castanhas – o conceito de alimentação saudável vem se tornando cada mais um hábito do consumidor, mesmo antes da pandemia.
“Nossos produtos são naturais, não sofrem modificações, apenas a torra e o acréscimo de tempero. Não tivemos de fazer mudanças para enriquecer o valor nutritivo do produto. E acrescento o fato de nossas embalagens serem 100% recicláveis, incentivando e criando o hábito da reutilização”, comenta Louredo, que sem negar o impacto gerado no negócio devido a alta do dólar, acredita que a flexibilidade do produto é um dos trunfos na manga.
“O mercado do nosso segmento é muito amplo. A Brasil Frutt atende pequenos e médios negócios no varejo, e dentro dessa categoria obtemos muito sucesso”, avalia.