Agro é protagonista contra o desmatamento, garante a segurança alimentar e o desenvolvimento do país
Décima edição do LIDE Agronegócios discutiu os desafios e caminhos que o Brasil deve trilhar para ter uma agricultura mais sustentável e de destaque.
André Corrêa do Lago, embaixador do Brasil na Índia. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
A décima edição do Fórum LIDE Agronegócios aconteceu em modelo híbrido, com a participação de empresários de todo o Brasil, e presenças de Mônika Bergamaschi, presidente do LIDE Agronegócios e curadora do Fórum; Celia Pompeia vice-presidente executiva do Grupo Doria e membro do Comitê LIDE; João Doria Neto, diretor-executivo do Grupo Doria, Luiz Fernando Furlan, Chairman do LIDE; João Dornellas, presidente da Abia; Rodrigo Simonato, da Tereos; e Gustavo Couto, CEO do Grupo Vamos. Logo na abertura, Celia ressaltou que o agro é feito por pessoas, as empresas, os setores privado e público que acreditam nele.
Mônika disse que a ideia do evento é olhar para o futuro.
“Temos coisas para resolver e melhorar no agro, existem demandas futuras e viemos de um período de pandemia em que o setor teve um papel extraordinário. Questões internacionais, desenvolvimento de tecnologias e reverenciar o passado com o Paolinelli (Alisson Paoninelli) são oportunidades de traçar grandes rumos para colocar o agro em destaque, bem como as metas e conquistas para a segurança alimentar e segurança do alimento”, pontuou.
Mônika Bergamaschi, presidente do LIDE Agronegócios e curadora do Fórum. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Furlan chamou a atenção para a evolução no agro nos últimos 10 anos ao comentar que a evolução do setor é extraordinária, rápida e consistente. O secretário-executivo de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Francisco Maturro, que representou o titular da pasta, Itamar Borges, elencou que o Brasil possui 17 milhões de hectares em sistemas integrados de produção.
André Corrêa do Lago, embaixador do Brasil na Índia, afirmou que o Brasil é um aliado natural do país.
“Devemos desenvolver uma agenda entre Brasil e Índia. O mercado indiano pode apresentar oportunidades para o Brasil em proteína vegetal e leguminosas. Em 2021, o país se tornou o maior importador de maçã do Brasil. Há oportunidades para exportação de tecnologia, cooperação internacional e de muitas outras coisas que podemos produzir para a Índia”, explicou.
Outro ponto importante é o fortalecimento de programa de etanol indiano, com a mistura de 10% de etanol à gasolina. Lago avalia que o etanol junta as agendas de energia, agricultura e clima, sendo um ponto essencial para a nossa política bilateral.
Aldo Rebello, ex-ministro da Defesa (2015-2016). (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Imagem do Brasil no cenário global
No primeiro painel do Fórum, Aldo Rebello, ex-ministro da Defesa (2015-2016), observou que o Brasil é um país sem aliados. “Nossa política externa não é de Estado e sim ideológica. Isso não é o Brasil. Temo que essa imagem possa comprometer interesses nacionais legítimos e o Brasil precisa recuperar a sua tradição diplomática. Sou otimista e isso é uma síncope brasileira. A tradição diplomática haverá de ser recuperada”, argumentou.
Marcos Jank, professor-sênior de Agronegócio Global do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), por sua vez, lembrou que a COP 26 será relevante, pois os países estarão pressionando por metas ambientais.
“Não sabemos o que será levado pelo Brasil. 73% das emissões vêm de transporte e energia, e o Brasil tem a solução comprovada, mas seremos atacados pelo desmatamento. O agro tem um lado de solução maravilhoso, várias ações que buscam a sustentabilidade. O assunto mais falado sobre o Brasil é a Amazônia e temos que resolver isso. A comunicação internacional tem que ser feita e deve haver uma coordenação para isso. Temos que nos organizar melhor na divulgação de trabalhos científicos, propagar esses dados interessantes para fora do Brasil”, sugeriu.
Cristian Lobauer, da CropLife, comentou que devemos focar em ciência, dados e fatos, para avançarmos e termos argumentos contundentes. “Dizer que a agricultura destrói a Amazônia não é verdade, isso é propagado por maus brasileiros.”
Marcos Jank, professor-sênior de Agronegócio Global do Insper. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Ao encerrar o painel, Mônika defendeu a necessidade de adotar uma estratégia enquanto setor e país para uma mudança estrutural profunda, que deve começar pela base, com melhoria da educação e comunicação.
Inovações tecnológicas e sustentáveis
Maurício Lopes, pesquisador da Embrapa Agroenergia, iniciou o segundo painel falando sobre tecnologia e a evolução das métricas para a sustentabilidade utilizadas pelos consumidores, fornecedores e outros integrantes da cadeia do agro.
“Entendo a sustentabilidade como um processo de reconciliação entre os sistemas humanos e a natureza. A maior força motriz para a sustentabilidade é a Agenda 2030 da ONU, que tem capacidade para mobilizar e convencer as pessoas de que é possível prosperidade econômica com desenvolvimento sustentável. Desde que a agenda de sustentabilidade ganhou força no mundo, partimos para a agricultura sistêmica e multifuncional. Precisamos entregar valor e não apenas produtos”, salientou.
Como um aprendizado interessante, citou o Programa Renovabio, baseado em métricas de emissões que premia os produtores de etanol que cumprem as metas dos preceitos de sustentabilidade.
Daniel Vargas, professor da FGV/EESP. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Já Daniel Vargas, professor da FGV/EESP e diretor de Pesquisa do FGV Agro, comentou sobre as vulnerabilidades do agronegócio, que vão além de clima, preço e mercado.
“Temos um pacto mundial a favor da sustentabilidade e do clima, e uma medida de grande convergência é a criação de um mercado global de carbono, um artifício criado por lei e com métrica que tem um componente científico, mas vai além. Sabemos quanto custa uma saca de soja, mas quantos carbonos estão presentes nessa soja? A maneira como se computa a métrica atinge critérios com potencial de criar resultados diferentes dependendo do clima, ambiente de produção, produtividade e outros fatores”, analisa.
Ele também citou que o mundo está mudando por negociações e estabelecimentos de padrões, mas o Brasil precisa se estruturar em sua retaguarda com ciência e definir como irá se organizar para o seu protocolo de carbono. “Quem ganha é quem apresenta proposta com mais informação e organização. Precisamos aprender a olhar para essas métricas como prioridade científica e política”, defende Vargas.
Caio Penido, vice-presidente da GTPS Pecuária Sustentável. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Caio Penido, vice-presidente da GTPS Pecuária Sustentável, acionista e membro do Conselho do Grupo Roncador, elencou alguns desafios na pecuária como o combate ao desmatamento ilegal, o fortalecimento de uma agenda comum e positiva, e a diminuição do radicalismo.
“Temos que desassociar o agro da imagem do desmatamento e associá-lo à imagem da conservação. Contar para o mundo que temos um Código Florestal, que precisa ser implementado, valorizar a nossa biodiversidade. Criar uma agenda que una produtores, indígenas, governo, pessoas de bom senso que querem produzir com conservação”, apontou.
Evolução da agricultura sustentável
No terceiro e último painel, Bruno Lucchi, diretor-técnico da CNA, apontou o crédito rural como um dos pilares do desenvolvimento do agro, além da tecnologia, assistência técnica e empreendedorismo do produtor rural. “Vamos continuar produzindo de forma sustentável, estamos emitindo Green Bonds no setor, os bio insumos é um mercado que está se consolidando no Brasil, além da conectividade e irrigação. Estamos avançando”, afirmou.
Roberto Rodrigues, embaixador da FAO para o Cooperativismo e ex-Ministro da Agricultura. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
O painel também foi um tributo à grandes figuras de nosso agronegócio, como o candidato ao Prêmio Nobel da Paz, Alysson Paolinelli.
Ivan Wedekin, coordenador-técnico da Rede Paolinelli e ex-secretário de Política Agrícola do Mapa (2003 a 2006), e Roberto Rodrigues, embaixador da FAO para o Cooperativismo e ex-Ministro da Agricultura (2003 a 2006), contaram como foi o processo de indicação de Paolinelli para o prêmio. O apontamento foi realizado por um comitê composto por nove pessoas que entregou, em 22 de janeiro, um documento técnico e mais de 163 cartas de apoio à nomeação.
Segundo Rodrigues, Paolinelli é o maior brasileiro vivo da agricultura. “Paolinelli já é nobre e será Nobel”, enfatizou.
Candidato ao Prêmio Nobel da Paz, Alysson Paolinelli, é homenageado. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Homenagem a Paolinelli
O LIDE fez um vídeo em homenagem a Alysson Paolinelli. O material mostrou imagens da vida e atuação de Paolinelli em prol da agricultura brasileira.
“Agradeço a inciativa e a lembrança de um grande esforço que foi feito não por mim, mas por uma geração de amigos e companheiros por uma bandeira chamada Brasil. Esses amigos não me deixaram isolados na estrada, sempre empurraram e apontaram o caminho, corrigiram quando necessário, nos ajudando a plantar uma semente que nos orgulha. Acreditei na ciência e acredito nela. Fizemos, juntos, uma revolução profunda. Hoje, somos o espectro da segurança alimentar. Temos muito a fazer e a ciência será a base do desenvolvimento da humanidade que deve ser direcionada não para a construção de armas bélicas, mas daquilo que o homem precisa, o alimento - que segundo Roberto Rodrigues, é a principal arma da paz!”, finalizou Paolinelli.
Alysson Paolinelli e Luiz FernandoFurlan, chairman do LIDE. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)