Brasil apresenta expansão do consumo de energia por habitante
Apesar desses números o País ainda está bem aquém, quando comparado às nações mais desenvolvidas, avalia Fernando Caneppele.
Brasil teve um aumento absoluto de 46 TWh no primeiro trimestre deste ano. (Foto: Unsplash)
A principal fonte energética do mundo é a energia elétrica, a qual pode ser produzida de diferentes formas: a partir da água (usina hidrelétrica); do Sol (usina eólica); da queima de combustíveis (usina termelétrica), entre outras. No Brasil, por exemplo, cerca de 90% de toda a eletricidade produzida é decorrente de usinas hidrelétricas — sendo a maior a Usina de Itaipu.
Segundo o Boletim Trimestral de Consumo de Eletricidade, publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Brasil registrou uma expansão de 7,3% do consumo de energia no primeiro trimestre de 2024 em relação ao mesmo período do ano anterior. Nesse sentido, um dos mais relevantes indicadores de desenvolvimento e qualidade de vida de uma população é gerado com base no consumo médio de eletricidade comparado ao número de habitantes.
Realidade brasileira
“No Brasil, o consumo médio de energia elétrica por pessoa tem experimentado um aumento constante nas últimas décadas”, afirma Fernando de Lima Caneppele, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP. De acordo com ele, entre os anos de 2013 e 2022, o Brasil só teve dois períodos de decréscimos de consumo: de 2014 a 2016 e em 2020, por conta da pandemia.
O País teve um aumento absoluto de 46 TWh — unidade de medida de energia —, subindo para um consumo total de 509 TWh por pessoa, impulsionado, conforme explicado pelo especialista, pelo aumento da população, urbanização, industrialização e maior acesso a bens de consumo. Além disso, o Brasil possui uma matriz energética diversificada, por conta de sua riqueza natural, o que possibilita o investimento em usinas termelétricas, eólicas e solares — para além das hidrelétricas.
No entanto, o professor ressalta que as desigualdades econômicas produzem um cenário contraditório no consumo, uma vez que determinadas áreas consomem mais energia do que outras. Por exemplo, no ano de 2022, o Estado de Santa Catarina apresentou um consumo per capita de 3.593 kWh por habitante, mais que o triplo do Estado do Maranhão, que possuía apenas 1.082 kWh: “O consumo de energia não depende apenas da disponibilidade de fontes primárias, mas também de toda uma infraestrutura de distribuição e serviços que deve ser eficiente”, destaca Caneppele.
Contexto global
Com base em uma lista realizada pela Agência Internacional de Energia renováveis (Irena), o Brasil ocupa a sexta posição no ranking global de consumo de energia, estando atrás de China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Japão, respectivamente. Assim, o especialista afirma que há uma ampla variação nesse uso médio de eletricidade: “Países altamente industrializados, como os Estados Unidos, Canadá e nações da União Europeia, tendem a apresentar um consumo per capita significativamente maior devido ao estilo de vida moderno e às necessidades industriais. Por outro lado, nações em desenvolvimento ou com populações menores frequentemente apresentam um consumo mais baixo”.
Essa realidade é decorrente do fato de as nações mais industrializadas possuírem maior acesso a tecnologias intensivas de consumo de energia e, paralelamente, maior número de dispositivos elétricos por residência. Ou seja, em comparação com os países desenvolvidos, o Brasil ainda está bem abaixo — no ano de 2022, o consumo médio brasileiro foi de 2.362 kWh, enquanto o chinês foi de 5.885 kWh e o estadunidense de 12.154 kWh.
O outro lado do consumo
Contudo, esse cenário de consumo excessivo de energia elétrica pelo Brasil e outros países ao redor do mundo pode apresentar questões importantes relacionadas ao meio ambiente. Preocupações sobre sustentabilidade e mudanças climáticas são levantadas, uma vez que o uso de combustíveis fósseis — ao invés de fontes limpas e renováveis, como a energia eólica ou a solar — de forma descontrolada contribui para o aumento da emissão de gases de efeito estufa e intensifica os problemas do aquecimento global.
“Finalmente podemos entender que o consumo médio de energia por pessoa no Brasil e no mundo reflete não apenas o desenvolvimento econômico, mas também a infraestrutura e políticas energéticas, bem como a conscientização sobre sustentabilidade”, conclui Caneppele.