Um a cada três investidores está insatisfeito com os reportes não financeiros das empresas
As críticas são direcionadas para a materialidade, comparabilidade e acuracidade das informações disponíveis nesses documentos, de acordo com estudo global da EY.
As críticas são direcionadas para a materialidade, comparabilidade e acuracidade das informações disponíveis nesses documentos. (Foto: Freepik)
Mais de um terço dos investidores (36%) está insatisfeito com a qualidade dos reportes não financeiros das empresas, de acordo com o estudo EY Global Institutional Investor Survey 2024. Oito em cada dez consideram que a materialidade precisa melhorar muito, mesma porcentagem em relação à comparabilidade desses relatórios entre os emissores. Já 64% apontam a transparência e definições acerca da informação reportada como a dimensão de sustentabilidade que mais precisa evoluir. Por fim, 62% consideram que a precisão ou acuracidade do relatório é o fator que requer maior atenção das empresas. Foram entrevistados 350 investidores tomadores de decisão de instituições em todo o mundo, incluindo empresas de gestão de ativos, de gestão de patrimônio, seguradoras e fundos de pensão.
“Essas melhorias que os investidores estão buscando foram contempladas pelos padrões do ISSB e dos ESRS, da CSRD. No entanto, ainda é muito cedo para enxergar os efeitos práticos nos relatórios, embora as empresas precisem desde já se movimentar para estar em conformidade com essas normas”, diz Ricardo Assumpção, líder de Sustentabilidade e CSO (Chief Sustainability Officer) da EY para América Latina.
Os ESRS (European Sustainability Reporting Standards) foram criados pela CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive) para que sejam usados por todas as empresas que estarão sujeitas à norma. A adoção da CSRD foi adiada para as empresas da União Europeia até 30 de junho de 2026, permanecendo o exercício de 2028 para aplicação dessas normas às empresas de países terceiros.
Já as normas do ISSB foram recepcionadas pela Resolução CVM 193, exigindo que as companhias abertas atuantes no Brasil elaborem e divulguem, a partir de 2026, seus relatórios de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade. “Há um alinhamento entre os ESRS e as normas do IFRS S1 e S2, já que a CSRD considerou as discussões no âmbito do ISSB para promover a interoperabilidade dos padrões de reporte globais e da UE, evitando assim um duplo esforço das empresas em suas divulgações de sustentabilidade”, disse Sue Lloyd, vice-chair do ISSB, em evento realizado pela EY em São Paulo.
Alinhamento de expectativas
Na avaliação do estudo da EY, à medida que os benefícios trazidos por esses padrões de reporte se tornem mais claros para o mercado, os investidores devem se tornar mais confiantes sobre a qualidade dos reportes, utilizando as informações para auxiliar efetivamente a tomada de decisão de investimento. É preciso, no entanto, que haja um alinhamento da expectativa dos investidores. Isso porque o ISSB e os ESRS são ambos voltados para suportar a tomada de decisão de investimento no longo prazo (que é exatamente o propósito deles, o motivo pelo qual foram criados), tendo menos relevância para as decisões de investimento de curto prazo.
Como o desempenho dos investidores é medido em uma base trimestral, essa periodicidade tende a pressionar suas avaliações, forçando a priorização do curto prazo. Também por isso, por trabalharem tão focados no curto prazo, apenas 29% dos investidores entrevistados consideram que os padrões de reporte do ESRS sejam completos e detalhados suficientemente para a tomada de decisão de investimento, enquanto 22% avaliam da mesma forma em relação aos padrões do ISSB.