Meirelles diz que Brasil deve focar em ‘competitividade’ e faz alerta sobre eleições nos EUA

Evento na CASA LIDE debateu a economia brasileira e mundial em dois painéis e também contou com a presença de Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda.

WhatsApp Image 2024-09-18 at 12.59.44Ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles analisou as implicações das eleições dos Estados Unidos para o cenário econômico global e brasileiro durante o Seminário LIDE  | Economia, realizado pelo LIDE - Grupo de Líderes Empresariais, na CASA LIDE, em São Paulo, nesta quarta-feira (18). O ex-ministro fez um alerta sobre a dívida pública crescente do país em meio a diferença de perfil dos dois candidatos, Donald Trump e Kamala Harris.

Começamos a ver algo importante. A questão fiscal americana nunca preocupou o mundo, mas, desta vez, começa a chegar perto de um limite. Não é algo que significava que os EUA poderiam gastar sem se preocupar com a dívida, mas, sim, que sempre tiveram capacidade maior de ter dívida. 

O economista enfatizou que, independentemente do resultado eleitoral, essas questões fiscais estão em jogo.

Trump está propondo diminuição de impostos, o que, é claro, deve incentivar o crescimento. Mas há uma questão sobre o déficit americano, que vai aumentar pela diminuição da arrecadação. Por outro lado, a Kamala está propondo políticas sociais inéditas.

Ele também reforçou que o Brasil deve olhar para sua competitividade, defendendo a abertura do comércio e a importação de tecnologia como caminhos essenciais para o crescimento econômico.

Nós, no Brasil, ao olhar para o mundo, precisamos olhar para competitividade. Devemos abrir o comércio, importar tecnologia e exportar bens.

WhatsApp Image 2024-09-18 at 13.03.37 Ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)

O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy focou sua declaração em uma mensagem de “otimismo” e destacou as oportunidades que o Brasil possui em setores como biocombustíveis, minerais e fertilizantes.

As portas estão se abrindo. A inflação é um dever de casa, mas está baixa. O comércio está crescendo como sempre cresce quando a política monetária se relaxa, mas crescendo menos que a média histórica de 2000 para cá. É claro que a questão fiscal continua sendo importante. 

Para Levy, o arcabouço fiscal deve ser cumprido neste ano, apesar dos desafios.

Há todas evidências de que o arcabouço será cumprido neste ano. Talvez o déficit zero não seja totalmente, mas será cumprido dentro do que a regra estabelece. Minha mensagem é esse otimismo. Temos que estar atentos ao risco de inflação e fiscal, mas sempre com a visão clara de aproveitar nossos recursos naturais e o talento da nossa população.

O que disseram os convidados

O presidente do BID, Ilan Goldfajn, enfatizou a importância de reconhecer as diversas crises que o Brasil enfrenta, desde questões econômicas e climáticas, e pediu resiliência ao processo de transição energética no país.

Pela primeira vez no mundo precisam da América Latina e Caribe. Toda a transição energética não vai surgir sem América Latina. Os minerais estão aqui e a capacidade de gerar energia limpa precisa dos grandes países da América Latina. Cenário que temos hoje é desafiador em nível global, mas também é promissor.

WhatsApp Image 2024-09-18 at 13.02.03Ana Paula Vescovi, economista-chefe e sócia do Santander Brasil. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)

Lucas Ferraz, doutor em economia pela FGV e ex-secretário de Negócios Internacionais de São Paulo, alertou sobre o potencial desdobramento da ‘desglobalização’, mas ressaltou que essa tendência não se reflete nos dados.

Temos que tomar cuidado quando falamos abertamente que o mundo está se desglobalizando. O Brasil ficou isolado dessa corrente de internacionalização; nossa economia continua sendo com pouca participação no comércio exterior. Há muito a ser feito.

Ana Paula Vescovi, economista-chefe e sócia do Santander Brasil, avaliou a posição do Brasil no longo prazo e as perspectivas para a economia. Ela também chamou atenção para o aumento dos gastos públicos no mundo.

No longo prazo, o Brasil está bem posicionado para encontrar seu caminho de oportunidades. Na escala que geramos em torno de excedentes na produção de alimentos, somos o único país que pode fazer frente a um crescimento. O gasto público tem crescido em todo mundo e começa a preocupar com déficit dos EUA. É importante começarmos a discutir um papel mais proativo dos governos.

WhatsApp Image 2024-09-18 at 13.01.04 (1)Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)

Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, trouxe preocupações sobre a dívida americana e suas implicações.

Você vai ter cada vez mais uma parcela da dívida americana mais sensível à taxa de juros. O setor privado terá de competir com o setor público que estará cada vez mais rolando dívida para pagar seus gastos. Em algum momento, isso será contraproducente.

André Sacconato, membro do conselho de Economia, Sociologia e Política da FECOMERCIO, voltou seu discurso para os impactos da economia chinesa.

Esperamos a economia chinesa continuar crescendo 4 ou 5%, até que o governo tente transformar o motor da economia chinesa no que eles estão querendo. Para nós, commodities não correm perigo: eles precisam comer. Mas essa superprodução chinesa vem na hora que o mundo todo está discutindo como barrar a superprodução chinesa. Muitos produtos devem vir para América Latina. É um desafio que a parte do setor externo brasileiro terá de lidar.

Nicola Miccione, secretário-chefe da Casa Civil do estado do Rio de Janeiro, abordou a falta de capacidade de investimentos nos principais estados brasileiros.

Os principais estados molas propulsoras do país estão sem capacidade de investimentos. A reforma tributária tende a agravar algumas desigualdades regionais. Há necessidade de direcionamento do governo central para equacionar esse problema.

WhatsApp Image 2024-09-18 at 13.01.33Fabio Pina, economista da Fecomércio. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)

Bruno Serra, ex-diretor de políticas monetárias do Banco Central, discutiu o desempenho da economia brasileira em comparação com a americana e fez alertas.

Não estamos de volta à inflação pré-Covid, mas próxima aos 2% que é o esperado. O Brasil, quando olhamos o mesmo horizonte, cresceu mais que a economia americana. É uma excelente notícia, mas como foi gerado esse crescimento? Isso que gera atenção. É um crescimento de gasto público que tem pouco paralelo na nossa história. Não é surpresa que esteja acelerando tanto apesar do juro real apertado.

Na mesma linha, Fabio Pina, economista da Fecomércio, expressou preocupação com a sustentabilidade do crescimento econômico.

O meu medo é que fiquemos dançando valsa no precipício e podemos tropeçar e cair. Não é o momento atual do Brasil, mas é um momento onde o economista tem mais dificuldade em explicar para as pessoas que tem que fechar o salão. Não acho que é possível manter um crescimento com base só em aumento de gasto público.

Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master de Investimento, analisou o impacto das transferências de renda na economia brasileira.

“Se olharmos da pandemia até hoje, falamos de um crescimento de 14%. Um impulso notável. Não há mistério: é transferência de renda.” Ele destacou a importância desses programas sociais. “Essa transferência de renda causa um impulso permanente de demanda e faz o Brasil crescer, mas o desafio é não descarrilhar a economia.”


WhatsApp Image 2024-09-18 at 13.01.04Caio Megale, head do LIDE Economia. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)