Dólar sobe à tarde com aversão ao risco no exterior e alcança R$ 5,73

Após operar ao redor da estabilidade na maior parte da sessão, descolado do sinal predominante de alta da moeda americana lá fora, o dólar ganhou força nas últimas horas de negócios e não apenas se firmou em terreno positivo como ultrapassou a linha de R$ 5,73.

O gatilho principal para o escorregão do real teria sido uma piora adicional na percepção de risco no exterior após a notícia da descoberta de um novo coronavírus com potencial pandêmico na China. Houve também declarações de Donald Trump sobre tarifas de importação de 25% sobre carros a partir de abril.

As bolsas em Nova York e as taxas dos Treasuries aprofundaram o ritmo de queda, ao passo que as cotações do petróleo caíram quase 3%. Divisas emergentes e de países exportadores de commodities acentuaram as perdas.

"O dólar vinha numa calmaria pela manhã, com baixa liquidez, mas a piora da aversão ao risco lá fora acabou respigando por aqui no fim do dia", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo. "Nos últimos dias, o mercado local estava meio anestesiado com o diferencial de juros, o leilão de linha do Banco Central e as captações lá fora de empresas e do Tesouro".

Com máxima a R$ 5,7362, o dólar à vista terminou o pregão em alta de 0,46%, a R$ 5,7306. A divisa encerra a semana com ganhos de 0,60%, mas ainda acumula perdas de 1,82% em fevereiro, após ter recuado 5,56% em janeiro. No ano, o dólar acumula desvalorização de 7,27% em relação ao real, que apresenta o segundo melhor desempenho entre as principais moedas globais em 2025, atrás apenas do rublo russo.

Apesar da predominância do quadro externo na dinâmica do mercado cambial, operadores citaram também certo desconforto com o quadro fiscal após declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre abertura de crédito extraordinário de R$ 4 bilhões para restabelecer linhas do Plano Safra que haviam sido interrompidas pelo atraso na aprovação do Orçamento de 2025.

A abertura de crédito extraordinário vai ser realizada por meio de Medida Provisória, atendendo ao pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por uma "solução imediata ao problema", e obedecer aos limites impostos pelo arcabouço fiscal, prometeu Haddad.

"O real está muito valorizado e o dólar deve voltar para a casa de R$ 5,95, porque não há expectativa de melhora no quadro fiscal. Não há disposição do governo em cortar gastos públicos", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.

Lá fora, o índice DXY - que mede o desempenho da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes - subiu cerca de 0,20%, para a casa dos 106,600 pontos, graças sobretudo aos ganhos do dólar em relação ao euro. O iene voltou a se fortalecer com a perspectiva de aperto monetário no Japão.

As taxas dos Treasuries caíram em bloco, com o retorno da T-note de 10 anos tocando 4,40% nas mínimas. Dados de serviços nos EUA e de confiança decepcionaram, sugerindo desaceleração da atividade. De outro lado, houve piora das expectativas de inflação, segundo pesquisa da Universidade de Michigan.

Ferramenta da CME Group mostrou aumento das expectativas de dois cortes de 25 pontos-base na taxa básica americana pelo Federal Reserve neste ano, de cerca de 30% para pouco mais de 33%. Autoridades do Fed reiteraram nos últimos dias que a política monetária está "bem posicionada" e que não há pressa em retomar o processo de redução de juros, até por conta das incertezas provocadas pelas medidas do governo Trump.