Com liquidez reduzida, juros futuros sobem de olho em cena política
Em meio ao desconforto fiscal doméstico, que ganhou um novo capítulo nesta semana com a chamada "crise das emendas", os juros futuros encerraram a primeira sessão após o feriado de Natal em alta firme, com avanço de mais de 30 pontos nos vértices mais longos.
No meio da tarde, o mercado chegou a experimentar um certo alívio, na esteira do arrefecimento das taxas dos Treasuries, com o retorno dos papéis de 2 e 30 anos passando a operar em terreno negativo. Mas o caldo voltou a entornar nos minutos finais da sessão, sem que operadores tenham identificado um gatilho específico. A liquidez reduzida, contudo, tende a exacerbar movimentos tanto para cima quanto para baixo.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 15,41%, de 15,246% no ajuste anterior. Após máxima a 15,755%, DI para janeiro de 2027 terminou em 15,70% (de 15,454%). Já o contrato de DI para janeiro de 2029 subiu de 14,999% para 15,41% com máxima a 15,425%.
Com a agenda esvaziada, as atenções se voltaram aos atritos entre Judiciário e Legislativo e seus reflexos potenciais no andamento de projetos do governo no Congresso. A decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), na segunda-feira, 23, de suspender o pagamento de emendas parlamentares pode ameaçar até a votação do Orçamento de 2025.
Pela manhã, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), convocou reunião com lideranças hoje à tarde para debater o tema das emendas. O relator do Orçamento, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), avisou: a peça orçamentária vai ao plenário apenas quando as regras de emendas estiverem pacificadas.
À tarde, em entrevista à CNN Brasil, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tentou aplacar os ânimos e disse que há expectativa de votar o Orçamento de 2025 até março do próximo ano. Por volta das 16h30, o Broadcast informou que Lira estava reunido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Alvorada.
O estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, observa que, com poucos indicadores no exterior e os mercado europeus fechados, em razão de feriado, o ambiente acabou prevalecendo e ditando a direção dos juros futuros.
"O mercado reagiu negativamente à decisão do Dino sobre o bloqueio de emendas", afirma Rostagno, ressaltando que, nos níveis atuais, os juros futuros já refletem a aposta em uma postura agressiva por parte do Banco Central na condução da política monetária.
Segundo o economista, curva já espelha alta de 150 pontos-base na taxa básica no próximo Copom, acima do forward guidance fornecido pelo comitê do BC no último dia 11, quando escreveu no comunicado que antevia uma elevação de 100 ponto em janeiro e outra de igual magnitude na reunião seguinte, em março. Para o nível da Selic terminal, a curva mostra 16,75%.
Para Rostagno, um alívio consistente do mercado de juros futuros virá apenas "com uma nova postura" do governo em relação ao quadro fiscal. "Mas não tem sinais de que isso vai acontecer no curto prazo. Ele teria de sinalizar que já está preparando novas medidas e sua estratégia".
O anúncio à tarde do reajuste de 13,6% na tarifa de ônibus pela prefeitura de São Paulo não trouxe revisões relevantes nas projeções de IPCA 2025 e pouco mexeu com as taxas. O economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, estima que o aumento das tarifas deve trazer uma pressão altista de 0,04 ponto porcentual para o IPCA do ano que vem. Ele, contudo, não alterou sua projeção de que a inflação oficial encerre 2025 em 4,6%.
O Tesouro não realizou operações hoje de recompra de títulos. Já o Banco Central vendeu oferta integral de US$ 3 bilhões em leilão de moeda no mercado spot, o que contribuiu para a leve baixa do dólar.
Em entrevista coletiva sobre o relatório da dívida pública em novembro, o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública substituto, Roberto Lobarinhas, disse que a atuação do Tesouro na semana passada foi "tão somente" para balizar e devolver funcionalidade ao mercado. "Certamente a atuação do Tesouro não visa frear a alta do dólar, controlar o câmbio ou coisa que o valha, tampouco controlar a curva de juros", afirmou.