Organização Internacional do Trabalho indica estagnação econômica latina e caribenha

Disparidades de gênero, informalidade e falta de oportunidades mantêm cenário laboral latino distante da recuperação efetiva.

escritórioRelatório da OIT aponta alta informalidade, desigualdade de gênero e desafios persistentes para jovens na América Latina e Caribe. (Foto: Unsplash)

Cinco anos após a pandemia de covid-19, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou o novo relatório Panorama Laboral 2024 da América Latina e Caribe, responsável por detalhar destaques e evoluções no campo de trabalho latino-americano. Apesar de alguns progressos, fenômenos como informalidade, disparidades de gênero, lacunas entre rural e urbano e despreparo de jovens mostram-se persistentes no relatório e, segundo Roseli Figaro, docente da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e coordenadora do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho, os problemas não só são persistentes, mas se intensificam.

“As principais dificuldades da classe trabalhadora também são as de sempre. Ocorre que nós estamos vivendo neste começo, duas décadas do século 21, mais ou menos em situação até piorada do que foi vivido pela classe trabalhadora no começo do século 20”, enfatiza a professora. O mercado de trabalho é, inegavelmente, menos favorável para mulheres, pouco incluídas em cargos de liderança e expostas a mais obstáculos durante o processo de contratação. Em vista desse cenário, o relatório revelou que em 2024 a taxa de participação feminina no mercado de trabalho alcançou 52,1%, número consideravelmente inferior aos 74,3%, taxa indicadora da participação masculina. A diferença implica que há menos mulheres inseridas ou procurando empregos no mercado de trabalho, o que reflete no número de 20% de diferença salarial entre os gêneros.

Segundo Roseli, essa diferença de gênero é uma questão estrutural que se reflete na alta na taxa de desemprego feminino, principalmente, em tempos de crise. “É clássico a questão das mulheres serem o polo mais fraco da exploração da força de trabalho no capitalismo (…) Toda vez que há uma queda no nível da empregabilidade ou uma estagnação, as mulheres são as primeiras a sofrerem essa resposta econômica.”

Permanência da informalidade

A taxa de 47,6% em 2024, discretamente menor do que a de 2023, de 48,0%, também alerta para a permanência proeminente da informalidade. Com tais números, vê-se que houve poucas evoluções referentes à diminuição desta modalidade no mercado de trabalho latino. O número é um alerta para as possíveis péssimas qualidades de condições de trabalho, para a vulnerabilidade econômica e para a falta de seguridade profissional de quase metade da população dessas regiões. Também segundo os dados, mulheres e jovens são os maiores afetados.

Para a pesquisadora, os números são resultado da criação de uma nova cadeia produtiva. “O aumento da informalidade é devido a uma nova cadeia produtiva que visa a desestruturar de todas as formas a organização e os direitos dos trabalhadores.” O crescimento da uberização do trabalho, fenômeno de plataformização e informalização dos trabalhos e do discurso do “empreendedor de si mesmo” influenciam uma nova onda de trabalhos vulneráveis e fragmentados que intensificam a retirada de direitos e benefícios trabalhistas, deixando uma massa de trabalhadores vulneráveis.

Além destes, o relatório também apontou uma queda na taxa de desemprego juvenil, de 14,5% em 2023 para 13,8% em 2024. Entretanto, as oportunidades para jovens de 15 a 24 anos continuam poucas, especialmente considerando o contexto latino de informalidade e de quantidade insuficiente de empregos.

A regulamentação de empresas é um dos pontos principais para o enfrentamento da estagnação econômica latino-americana, segundo Roseli. Segundo ela, a monopolização do processo produtivo é uma das maneiras pelas quais as novas empresas favorecem a precarização do cenário laboral. “Monopolizam todos os processos produtivos, envolvem todas as demais empresas e são completamente desregulamentadas e não têm que obedecer a nenhuma legislação. Precisamos de políticas públicas para dar conta do problema de regulamentação e criar condições para que esses trabalhadores possam ter uma vida digna.”