Diferença salarial em relação a negros e mulheres persiste por uma década
Mulheres, pretos e pardos pouco atuam na alta gestão de empresas listadas na bolsa de valores brasileira, apontam relatórios.
Homens brancos ganham mais do que mulheres brancas e homens negros
Nas empresas listadas em 2017 na B3, a Bolsa brasileira, uma mulher que declara preta ou parda a cor da sua pele recebia em média R$ 36 para cada R$ 100 obtidos como salário por um homem branco. Esse grande desnível pouco variou nos dez anos anteriores, tendência que também se verificou para homens negros e mulheres brancas.
Michael França e Rafael Tavares, pesquisadores do Núcleo de Estudos Raciais do Insper, encontraram esses resultados ao analisarem dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) das companhias participantes da Bolsa, que em 2017 somavam 175 grupos empresariais, empregando mais de 1,4 milhão de pessoas.
Naquele ano, o quadro de gênero e raça se apresentava mais equilibrado na base e bastante desequilibrado no topo da hierarquia dessas organizações. Considerando o universo de todos os empregados, 57% eram mulheres e 43%, homens. Quanto à cor da pele, 53% se declararam brancos, 35%, pardos, e 6%, pretos.
Quando são tomados apenas os cargos da alta gestão, a dominância masculina desponta, chegando a 81% nas diretorias. Também se eleva substancialmente a participação de brancos entre gerentes e diretores. Na gerência, para cada mulher negra há 4 homens brancos. Na diretoria, essa relação é de uma para 43.
A remuneração mostrou-se desigual conforme o gênero e a cor da pele. Considerado o conjunto dos empregados em 2017, para cada R$ 100 de remuneração de um homem branco, uma mulher branca ganhou R$ 66, um homem negro auferiu R$ 54 e uma mulher negra recebeu R$ 36. Na diretoria e na gerência, uma mulher negra ganhou respectivamente R$ 56 e R$ 48 para cada R$ 100 de salário de um homem branco.
O estudo de Michael França e Rafael Tavares identificou dois padrões de variação dessas relações ao longo dos dez anos anteriores. Por um lado, houve aumento na participação dos três segmentos mais desfavorecidos — mulheres negras, homens negros e mulheres brancas — nas companhias listadas na Bolsa seja no total de empregados, seja nas posições da alta gestão. Por outro lado, houve no período pouca variação na discrepância salarial, que continuou a favorecer destacadamente os homens brancos.
Fonte: Insper Conhecimento