Agtechs: a revolução tecnológica no campo

Startups propõem novas soluções aos produtores rurais.

Plantas De Folha VerdeUm dos desafios das agrotechs é expandir as atividades para o maior número possível de agricultores, em especial nas médias e pequenas propriedades rurais. (Foto: Pexels)

O trabalho no campo impõe enormes desafios tecnológicos: distância dos grandes polos urbanos de tecnologia, carência de dados precisos e confiáveis para mapeamentos, cobertura insuficiente de redes de internet nas áreas rurais mais remotas e até a resistência de parte dos agricultores para adoção de novas soluções de ponta. Mesmo assim, a tecnologia avança no campo e as agtechs conquistam espaço cada vez maior no país que, devido ao peso do agronegócio na economia, torna-se um celeiro para inovações. 

Agtech – ou agritech ou agrotech - é a revolução digital aplicada ao agronegócio. São startups que desenvolvem soluções de alta tecnologia para produtores rurais aumentarem a eficiência em suas plantações e rebanhos. Entre os exemplos de atividades promovidas por elas estão a pulverização localizada por drones, tratamento de sementes, irrigações de alta precisão e novas técnicas de plantio que aumentam a produção por hectare. Isso reduz a necessidade de expansão de áreas cultivadas e contribui para a preservação do meio ambiente.  

Desde 1983 foram criadas 992 startups com serviços e produtos voltados para o agronegócio. Elas foram mapeadas pelo Centro de Excelência do Agronegócio da EY. Deste total, 863 foram criadas no Brasil. Os estados que lideram a criação de startups são: São Paulo, com 395; Paraná e Minas Gerais, com 96; e Rio Grande do Sul, com 72. O trabalho de todas elas envolve soluções antes da produção (tratamento de sementes e crédito, por exemplo) dentro das fazendas (gestão de propriedades) e no pós-fazenda (armazenagem e logística, por exemplo).  

Segundo dados da Agtech, entidade formada por empresas como a Embrapa, os principais campos de atuação das agrotechs brasileiras atualmente são: fertilizantes e nutrição de plantas; crédito, câmbio, seguros, créditos de carbono; testes laboratoriais; sementes, sistemas de gestão de propriedades rurais; drones, máquinas e equipamentos; sensoriamento remoto, diagnóstico e monitoramento por imagem, entre outras áreas.  

As agrotechs podem contribuir para o desenvolvimento do agronegócio no Brasil. “O agronegócio está em mudança, cada vez mais jovem e ávido por tecnologia e inovação, aspirando o aumento da produção agrícola atrelada à sustentabilidade”, afirma Alexandre Rangel, líder do Centro de Excelência do Agronegócio da EY. 

Dados globais analisados pela EY no estudo Key Trends in Agrobusiness e na pesquisa realizada pela Croplife Brasil em 2020, em parceria com a EasyHub e Fruto Agrointeligência, apontam três principais fatores que deverão ser foco de investimentos no setor: sustentabilidade, inovação e novos modelos de negócios.  

As tendências para o agronegócio, de acordo com a análise feita pela EY, foram agrupadas em três grandes grupos:?Facilitadores digitais, que incorporam tecnologia para racionalização e uso inteligente de dados, imagens e conectividade;?facilitadores de tecnologia e sustentabilidade, que surgem a partir de tecnologias inovadoras, novos alimentos e componentes; e modelos operacionais de negócio, que ocorrem a partir de novas organizações e novos racionais de negócios.? 

“A presença das agritechs é cada vez mais forte no Brasil. A demanda global por alimentos e a necessidade de se produzir mais e sem avançar sobre fronteiras agrícolas exigiu do agronegócio investimentos em tecnologias”, explica Giovana Montanari, gerente de novos negócios da Verde Agritech, startup que desenvolve tecnologias que melhoram a eficiência dos produtos no campo.  

“Seja no melhoramento do solo, com fertilizantes mais sustentáveis, sementes modificadas ou no uso de Inteligência Artificial, as agritechs ajudam em uma nova dinâmica para o campo. Quando se fala em tecnologia, eficiência e sustentabilidade, os avanços não têm limite e, por isso, as agritechs têm um caminho promissor pela frente”, diz Giovana. 

Opinião semelhante tem Larissa Pomerantzeff, CEO da PagAgro, startup que oferece uma ferramenta de fluxo de caixa aos participantes da cadeia de insumos do agronegócio. “As agrotechs podem contribuir para o desenvolvimento do agronegócio no Brasil, que já é um dos países com maior tecnologia aplicada no agronegócio do mundo”, afirma.  

Segundo Larissa, as agrotechs passam por um momento de consolidação do mercado no qual os produtores terão acesso a soluções mais completas. “Chegamos em um momento em que há tantos aplicativos disponíveis para o produtor que ele cansou e quer um único aplicativo capaz de ajudá-lo de forma efetiva”, diz. “Ouvi muitas vezes esse feedback no campo: os aplicativos talvez levem novidades para quem não está no campo, mas para nós, que estamos aqui na fazenda, queremos saber algo que não sabemos ainda", explica Larissa. 

Um dos desafios das agrotechs é expandir as atividades para o maior número possível de agricultores, em especial nas médias e pequenas propriedades rurais. “Hoje, 90 % dos produtores rurais brasileiros são pequenos e médios e têm maiores desafios para acesso às novas tecnologias”, diz Leonardo Dias, CEO da NovoAgro Ventures, que desenvolve novas soluções que abrangem desde a gestão aos processos de pós-colheita, manejo de rebanho, gestão e certificação de propriedades.   

Com foco nos pequenos e médio produtores, a empresa cresce em ritmo acelerado. “Procuramos entender os seus desafios, encontrando soluções e acompanhando os resultados, gerando aumento de produtividade e diminuição de custos, sempre com foco na sustentabilidade ambiental social e econômica”, afirma Dias. 

A falta de conectividade no campo ainda é um desafio a ser superado para expansão das agrotechs. O país ainda convive com grandes áreas rurais, em especial nas regiões mais distantes, que sequer têm acesso à internet. “O aumento das conexões no campo criará oportunidades que serão aproveitadas pelas?startups, que entregarão mais soluções, acelerarão a inovação e estimularão um ciclo de expansão de negócios no agronegócio”, diz José Ronaldo Rocha, sócio da EY e líder de consultoria para o setor de Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações. 

Outra dificuldade, segundo ele, é a falta de mão de obra-especializada. “O setor conta com profissionais e produtores que estão há muito tempo realizando as mesmas atividades e da mesma maneira. A inclusão digital dessa população é, ao mesmo tempo, um imperativo de negócios e um desafio”, aponta Rocha.

 

Fonte: AgênciaEY