Mortes prematuras ligadas a clima custaram 100 bilhões de dólares ao Brasil
Estudo estimou perda de produtividade na população em idade ativa de 2000 a 2019
As mortes prematuras de brasileiros em idade de trabalhar relacionadas a variações em direção dos extremos da temperatura custaram ao país mais de US$ 100 bilhões em duas décadas. Cerca de 80% dessa perda, estimada pelos anos de trabalho que deixam de acontecer, se concentram na população masculina e nas pessoas de 15 a 44 anos.
O cálculo foi feito por um grupo de pesquisadores integrado por Paulo Saldiva, do Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper e da Universidade de São Paulo. Avaliou-se o período de 2000 a 2019, em que foram registrados no território brasileiro mais de 9 milhões de óbitos, abrangendo todas as causas, entre indivíduos de 15 a 64 anos, faixa etária convencionada como a da idade laboral.
Para chegar ao custo em termos de produtividade da fatia dessas mortes relacionada com o resfriamento e o aquecimento da temperatura, a análise transformou o período perdido de idade ativa numa unidade de anos ajustados de produtividade desperdiçada.
Com um modelo econométrico, a pesquisa relacionou a produtividade perdida com a temperatura diária em 510 regiões contíguas que cobrem o território nacional. Como cada localidade tem uma temperatura associada com o mínimo de óbitos, partiu-se desse marco para avaliar o que ocorre com as mortes quando está mais quente ou mais frio.
Por esse caminho, os pesquisadores estimaram que nessas duas décadas 2,9% da produtividade perdida por mortes prematuras em idade ativa no Brasil está associada a temperaturas que se distanciaram das ótimas. Baseando-se na medida de PIB por trabalhador, o estudo chegou à cifra equivalente de US$ 105 bilhões para essa perda.
O peso maior recaiu sobre os homens (US$ 84 bilhões) e o estrato mais jovem, de 15 a 44 anos, da população (US$ 79 bilhões). Regionalmente, o Sudeste foi a área que mais sofreu, com uma perda estimada de US$ 44 bilhões.