'O Brasil precisa sair da defensiva e assumir seu lugar como provedor de soluções climáticas', afirma Izabella Teixiera

Izabella Teixeira defende uma agenda pragmática e ambiciosa para a COP30, centrada em ciência, bioeconomia e uso estratégico da terra. Evento é realizado pelo LIDE em parceria com a FIEMS.

Izabella Teixeira, Co-chairwoman do LIDE e ex-Ministra do Meio Ambiente. Foto_Evandro Macedo_LIDE (5)Izabella Teixeira, copresidente do Painel Internacional de Recursos da ONU e ex-ministra do Meio Ambiente faz chamado para o protagonismo do Brasil no mundo. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)

De volta a Bonito (MS), a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira fez um discurso contundente no Fórum LIDE COP30, chamando o país à responsabilidade e ao protagonismo. “A COP30 é uma oportunidade para que o Brasil fale com o mundo a partir do Brasil. E isso exige pragmatismo, ciência, realismo e ambição estratégica”, afirmou.

Izabella criticou abertamente o que chamou de cinismo climático e pediu que o país assuma seu papel como provedor de soluções. “O Brasil precisa deixar de ser visto como troublemaker e se posicionar como solution maker. Nós temos todos os elementos: biodiversidade, matriz energética limpa, agricultura competitiva, paz interna e recursos naturais estratégicos.”

A COP30 como divisor de águas

Para a ex-ministra, a COP30, que ocorrerá em Belém, será o palco da reinserção internacional do Brasil, não apenas na agenda climática, mas como protagonista no novo cenário geopolítico global. “Vamos celebrar 10 anos do Acordo de Paris e lançar a plataforma Belém Plus, uma visão para os próximos 10 anos da agenda ambiental”, disse. Em sua avaliação, o país precisa sair da defensiva e construir uma narrativa assertiva, que envolva todos os setores econômicos e sociais.

“A questão climática não é só ambiental, é econômica. Tem que ter agricultor, setor financeiro, mineração, infraestrutura — todos à mesa.”

Ela sugeriu uma nova abordagem internacional brasileira centrada na Transição do Uso da Terra (Land Transition), incluindo agricultura, minerais críticos e bioeconomia. “O proprietário rural no Brasil detém o maior capital natural privado do mundo: são 220 milhões de hectares. Isso precisa ser valorizado e comunicado com métricas, dados e ciência.”

O papel do setor privado e o novo ciclo global

Izabella também cobrou mais ambição e preparo por parte do empresariado brasileiro: “Não tem mais espaço para greenwishing. Tem que trabalhar muito. A governança climática global ainda não sabe lidar com o setor privado — esse é um espaço para o Brasil liderar.”

Segundo ela, o país está diante de uma convergência rara: a era digital, a era do clima e a era da natureza. “O Brasil tem as três e precisa liderar nas três. Não dá para continuar vendendo carne com desmatamento para o Brasil e carne sem desmatamento para a França. A transformação começa dentro de casa.”

Uma convocação: “trazer o futuro com base na realidade”. Ao final, Izabella lançou uma provocação à plateia: “O Brasil é um país que está refém do desmatamento como único indicador climático. Isso precisa mudar. Temos que olhar para o futuro com responsabilidade, com ambição, com inovação. E, principalmente, temos que começar a falar bem do Brasil. Começa com os brasileiros. Começa na COP30.”

O Fórum LIDE COP30 é realizado pelo LIDE em parceria com a Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS) e reúne lideranças empresariais, políticas e ambientais para construir um posicionamento estratégico rumo à conferência climática da ONU que acontecerá em 2025.