Tatiana Ponte - ESG: mais do que filantropia, é cuidar de pessoas

Consumidor exige, cada vez mais, boas práticas das empresas, segundo análise da consultora em Diversidade e Inclusão.


Tatiana Ponte, líder da prática de consultoria em Diversidade e Inclusão para a América Latina da EY.  (Foto: Divulgação)

A agenda ESG está cada vez mais presente no dia a dia das corporações, o que é importante para a transformação de toda a sociedade. E quando se aborda cada uma das três palavras, o “S” não se resume a ações filantrópicas, mas ao universo bastante diverso e plural de pessoas como um todo. “O ‘S’ engloba tudo que se relaciona a pessoas. E pessoas estão no centro de estratégias de negócios bem-sucedidos”, explica Tatiana Ponte, líder da prática de consultoria em Diversidade e Inclusão para a América Latina da EY. 

Em entrevista à Agência EY para a série especial sobre as perspectivas socioeconômicas do país para 2022, Tatiana explica como as práticas relacionadas ao bem-estar das pessoas se revertem em benefícios para as próprias empresas, para os funcionários e para o consumidor. “Pessoas seguras e livres para serem quem realmente são produzem, se engajam e inovam mais. Isso reflete diretamente nos resultados”, diz Tatiana. 

Cada vez mais empresas brasileiras têm adotado uma agenda ESG. Qual a importância dessa adesão não apenas para as empresas, mas para o desenvolvimento do próprio país? 

É fundamental, à medida que ela traz duas transformações importantes: a primeira é a passagem de uma abordagem de curto prazo, focada nos resultados do próximo trimestre (quarter) para uma abordagem de valor de longo prazo (long term value). Transformações ambientais e sociais não acontecem da noite para o dia e o ESG traz esta compreensão aos mercados e acionistas. A segunda transformação refere-se aos atores envolvidos. O foco exclusivo nos acionistas é ampliado para toda a cadeia de valor, englobando fornecedores, colaboradores, consumidores, acionistas e comunidade, gerando um impacto positivo no desenvolvimento tanto das empresas como do país. 

A agenda ambiental é mais discutida nas empresas quando o assunto é ESG. Mas qual é a importância de dar um peso também para a questão social, o “S”? 

Muitos pensam no “S” apenas pelo lado filantrópico. Sim, a importância de ações sociais voltadas à comunidade é uma forte vertente do ESG, mas não a única. O “S” engloba tudo que se relaciona a pessoas. E pessoas estão no centro de estratégias de negócios bem-sucedidos. Quem opera no B2C (negócios para o consumidor), por exemplo, terá de refletir em seus colaboradores a mesma diversidade de seu principal público consumidor, para entender as novas demandas e se adaptar a elas. Diversidade e Inclusão também têm sido fator de análise em concorrências B2B (negócios para negócios), desde que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) da ONU trouxeram o tema de influência da cadeia de fornecedores para a pauta. O foco na pessoa do colaborador, tanto no tema de diversidade e inclusão como no de segurança do trabalho, física e mental, reforçam a marca empregadora, a experiência do colaborador e a inovação. Pessoas seguras e livres para serem quem realmente são produzem, se engajam e inovam mais. E isso reflete diretamente nos resultados. ? 

O que podemos entender como uma boa agenda de práticas sociais em acordo com o ESG? E qual é a importância das práticas serem adotadas, de fato, no dia a dia da corporação e não apenas no discurso ao público externo ou mesmo interno? 

É comum presenciarmos organizações com diversas ações afirmativas que se encaixam no conceito ESG, mas frequentemente estão esparsas, sem conexão e cadência. Uma boa agenda de práticas sociais consegue estruturar ações e priorizar de forma estratégica. Neste contexto, é importante, até como ponto de partida, haver políticas e processos claros, métricas e indicadores para medir progresso e ações afirmativas desdobradas. Isso tudo é importante, mas não o suficiente. Para que as práticas sejam incorporadas, de fato, no dia a dia das pessoas, elas terão de estar inseridas na cultura organizacional. É neste contexto que o “G” se faz importante. Uma boa governança garante o tom que vem de cima (tone of the top): comitês e conselhos alinhados ao tema ESG,?com métricas e indicadores atrelados à remuneração variável de executivos, orçamento dedicado para implementação da estratégia ESG e, acima de tudo, transparência. 

As empresas com boas práticas sociais têm mais chance de se destacar no mercado, sobretudo na visão do consumidor? Como? 

Sim, o comportamento do consumidor tem mudado de maneira significativa. Hoje em dia, não importa apenas o que você compra, mas também de quem está comprando. É uma empresa ambientalmente responsável? Diversa, equitativa e inclusiva? Estamos vendo essa transformação acontecendo por meio de movimentos de incentivos aos negócios que respeitam ESG e boicote aos negócios que não estão atentos ou que infringem o tema. Mais do que um diferencial, as boas práticas estão se tornando um requerimento por parte do consumidor.